CORDELANDO DE OUVIDO
(Por Domingos Oliveira Medeiros)
Benedito Generoso
Meu amigo e meu irmão
Entrou na sala de aula
Explicou com muita paixão
Que o cordel do pé quebrado
É tempo desperdiçado
E nisso tem muita razão
Ele é do ramo e conhece
Bom professor do rimado
De métrica e de oração
Já possui o doutorado
Na escola do Piolho
Fez a massa e o molho
Pro cozido e pro assado
E apesar de tanto ensino
Foi humilde e recatado
Incentivando aprendizes
E qualquer interessado
Que tivesse algo dizer
Sem das regras esquecer
Do peito do desafinado
Assim é o Benedito
Sincero como a verdade
Prestando um grande serviço
À nossa comunidade
Em prol da literatura
Mostrou a bula que cura
O verso com sonoridade
Um assunto puxa outro
Por conta da inspiração
E a lição que foi dada
Teve, de pronto, adesão
De menestréis professores
Todos eles já doutores
Prestaram colaboração
Assim veio o velho Dantas
Reforçando a conclusão
Velho como o bom vinho
Nessa minha concepção
Pois todo bom cordelista
Para pertencer a lista
Traz no peito a vocação
Vocação bem relatada
Métrica, rima e oração
Daudeth deu seu recado
Foi ao cerne da questão
Nem o detalhe esqueceu
Muita importância ele deu
Para a dramatização
Não faltou, nem bom humor
Travestido de gozação
Nos versos de Hélio Amaral
Tentando fazer confusão
As regras modificando
De outras regras falando
De certo, com boa intenção
O amigo foi sincero
Fala de um tempo passado
Vivido na mocidade
De um bordel freqüentado
Lembranças de uma paixão
Fragmentos de emoção
De um homem conformado
Eram dois pra lá, dois pra cá
Hoje o homem é regrado
Não dança mais o bolero
Vive em casa, parado
Mas aprendeu a lição
Gravada no seu coração
A regra do metrificado
Há regra de todo tipo
Do cabaré, do bordel
A regra pra ser seguida
Na escola e no quartel
A regra de quem tiver
Do homem ou da mulher
Há regra, também, no cordel
No rumo da hierarquia
O aprendiz, o soldado
O cabo, depois o sargento
O oficial graduado
Depois vem o coronel
O comandante do quartel
O general bem formado
Assim acontece na rima
No dizer da poesia
Tem que haver disciplina
Respeito à hierarquia
Não pode o soldado raso
Pensar e escrever por acaso
Com a mesma maestria
De quem vive na estrada
Nas idas e vindas da vida
Cortando caminhos ingratos
Seguindo a rota perdida
Reunindo experiência
Testada pela ciência
Do chão do mundo colhida
Neste quartel imaginário
Me considero um soldado
Nem general nem capitão
Apenas um homem fardado
Na luta que faz sentido
Que faz bem ao nosso ouvido
Um bom verso bem rimado
Que não seja pé quebrado
Que passe despercebido
Que não seja desafinado
Mesmo tocando de ouvido
É preciso que o bordão
Toque fundo o coração
E possa ser entendido
Da vida, nada se leva
Diz o velho ditado
O bom feito permanece
Para sempre, eternizado
Tudo feito com carinho
Anda no rumo, direitinho
Por Deus, há muito traçado