As simpatias e as antipatias são naturais nas pessoas. Entende-se que se estime a uns e se sinta aversão por aqueles a quem não se nutra nenhum apego visual, olfativo ou auditivo. Isto significa que a simpatia vem dos traços fisionômicos, do contacto químico ou das impressões auditivas catalogadas no inconsciente. É natural que assim aconteça. Havemos, no entanto, de contrariar nossas intuições “psicomorfológicas”, para bem podermos soletrar a palavra amor.
Não se desesperem os que não buscaram antes encarar de tal modo o próximo, fixando características de agrado e de desagrado. Não importa o que passou; o importante é o procedimento a ser adotado para o futuro. Arrependimento sadio e honesto redime das faltas grandes e pequenas. Vocês devem sorrir mais para cada vez mais pessoas. Não é porque a pessoa ocupe ínfimo lugar na sociedade humana, que vocês irão deixar de cumprimentar em sua passagem pela vida.
Vejam que escrevemos para todos, posto que saibamos que estas mensagens só irão chegar a quem foi agraciado pela possibilidade de ler. Vocês, que têm esse dom, podem esforçar-se por entender-nos em nosso simbolismo: amar os semelhantes como a si mesmo independe das feições que assumam. É imperioso renegar as falsas concepções de afeição, instituindo como premissa o amor do próximo. Não basta orar. É preciso ir em socorro dele, onde quer que se encontre, tantos são os necessitados de seu lúcido amparo: velhos na extrema pobreza; jovens na mais negra ignorância; crianças desassistidas, joguetes de todos os males, à solta, órfãos de pais vivos, que perambulam esmoleres pela cidade; mulheres de vidro embaciado pela fumaça pegajosa da podridão moral, prostituídas, criminosas, ladras. Olhem bem para eles e verão que esses são os irmãos que Jesus mandou amar.
Não lhes pleiteamos compaixão. Não. Queremos amor. Amor integral, amor puro, amor santo, amor de irmão, de pai, de mãe, de filho, de neto. Vocês talvez não tenham condições de saber, mas, muitas vezes, não nos estamos utilizando de imagens, nem de retórica, mas de palavras na sua acepção mais verdadeira. Quem poderá afirmar, em sã consciência, que a reencarnação não lhes trouxe trabalho sem o qual não poderão prosseguir em sua redenção?
O serviço está em toda parte. Basta que tenham olhos bem despertos, para que vejam onde aplicar o conhecimento, a força, o coração. A hora é chegada da execução do trabalho de Deus. Jesus está chamando. Não ofereçam resistências. Não se julguem plenos de graça só porque se empenham em profissão adequada. A profissão regela o sentimento, atenuando o valor do serviço.
É preciso, antes e acima de tudo, educar o coração no próprio trabalho de beneficência socorrista das misérias espirituais, principalmente, porque as materiais com pouco se resolvem. Um prato de sopa pode revigorar a mente para perceber as verdades evangélicas que irão propagar. É, pois, necessário ajudar materialmente, através de conforto físico para a regeneração das células cansadas pela exaustiva faina de reclamar da justiça de Deus. Quem se importa com a vida dos dementes? Há, no entanto, centelha divina em cada um deles. Atentem bem para seus irmãos e verão que muitos que passam por vocês, no dia-a-dia, estão atacados dessa moléstia. A quantos se encontrem em condições de auxílio, se pede que auxiliem, buscando minorar os males que afligem os irmãos na dor.
Os impulsos mais vis requerem desprendimento de luz, porque tudo se compensa para o homem. É por isso que dizemos que os piores vivem nas trevas, como cegos. Esses que perpassam orgulhosos, crentes de sua força e poder são os mais miseráveis. Por que os centros espíritas insistem tanto em desafogar os pobres, quando o trabalho maior deveria ser feito com os ricos? É preciso encher o peito de coragem para a luta. É preciso enfrentar destemidamente os poderosos do mundo, os que detêm os governos, os que manipulam os dinheiros e as vidas. A esses é que devem socorrer, por todos os meios a seu alcance. Não titubeiem, irmãos.
Compreendem vocês agora tudo o que lhes pedimos antes? É preciso fechar os olhos da alma para as dores físicas: o socorro físico basta; as dores morais, entretanto, só se curam com os dotes de Deus. Vocês não devem hesitar; hasteiem sua bandeira e iniciem a luta. Não tarda o dia em que Jesus lhes cobrará as missões em que se empenharam antes da encarnação. Vocês têm sacratíssimo dever, que, não executado, lhes vai ser muito oneroso. O Cristo é o caminho, a verdade e a vida. Sem ele, não há salvação.
Não adianta repetirem que essa lição já está sabida. Está sendo aplicada? Vocês desperdiçam o tempo vendo programas de televisão, à noite. Por que não instituem programa sadio de divulgação do espiritismo? Vocês todos estão cansados de saber que terão amparo para isso. Enfrentem a concorrência, com altruísmo e fé na vitória. Talvez o começar não vá ser agradável. Mas, que esperam: nadar em águas mansas, enquanto o sofrimento infesta toda a Terra? Saiam de seu comodismo, irmãos, e atendam aos reclamos de Jesus. Este mensageiro que os exorta ao serviço bem sabe das dificuldades que terão, mas sabe também da força da resistência que opõem à nossa exortação. Não se iludam com as facécias que costumeiramente vocês contam para vocês mesmos. Essas mentiras só enganam os que vêem nos prazeres da carne o bem maior.
Quantos crimes vocês perpetram no aconchego dos lares, na maciez do conforto! Vocês se esquecem de Deus, irmãos, e de suas promessas. A terra prometida não se encontra neste planeta, mas na alma de cada um. Vocês podem imaginar o paraíso no Pólo Ártico? Pois muitos dos que lá estão acham-se plenamente recompensados e inteiramente felizes, da felicidade que qualquer homem possa obter. Nas tórridas regiões do Saara é possível verem-se irmãos vivendo no Céu espiritual, pois prestam o serviço. E vocês, estão satisfeitos com seu paraíso terrestre? Entre um uísque e outro, que mais pretendem: acrescentar mais riqueza ao seu patrimônio?
Vocês não podem compreender o que lhes estamos dizendo, é claro! Nem lhes interessa. Mas não desconfiam que esse bem é passageiro? Será que são eternos? Será que Deus foi transformado no protótipo da injustiça, só para lhes proporcionar a felicidade? Não se enganem mais, irmãos. Saiam de seu comodismo. Ofereçam a mão e a mente privilegiada a quantos de vocês necessitem. Não é preciso doar todos os seus bens materiais; não. Eles não farão falta a ninguém; entretanto, é imprescindível que apliquem o tempo, destinando-o ao serviço da redenção e do progresso que Jesus tanto propugnou.
Queridos irmãos, não tenham mágoa, não alimentem ódio. Simplesmente, busquem compreender a verdade de Deus. Sem ela, a humanidade está à deriva nas águas túrbidas do desamor, arriscando-se perigosamente a ser tragada pelo precipício voraz das paixões mais impuras. E desta vez o despertar será trágico. Engolfados pelo suplício que advirá da destruição total, os homens clamarão por Deus tardiamente. É, portanto, chegado o momento do socorro. Não hesitem. Vejam que clamamos por vocês mesmos, porque os amamos como Jesus nos ensinou. Para nós, suas feições são todas puras, corretas, indiscriminadamente. Nosso amor por vocês só é superado pelo nosso amor a Deus. É assim que devem proceder.
Bem-aventurados os que amam seus semelhantes, porque serão amados e sublimados por Deus!
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