Há dois séculos, meu irmão,
No dia em que morri,
Deixei escrita para ti
A verdade em sucessão...
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Agora como outrora
aonde está a diferença
se o Povo ainda à nora
roda na mesma descrença
e se não há quem o vença
quando à praça sai unido,
quem me explica o sentido
dos que à sombra do paleio
andam de papo bem cheio
em descaro pervertido?
Porque a uns é permitido
privilégios sem limite
e ao suor sempre vertido
em favor da grande elite
não há paga que habilite
a fruir com dignidade
tranquíla sobriedade,
algo que empolga o ser
na vontade de viver
em benquista irmandade?
De que serve a liberdade
no meio do desrespeito,
da falta de honestidade,
do permanente defeito
daqueles que no efeito
pelo exemplo que dão
demonstram que a razão
anda voltada ao invés
num pais de lés a lés
à deriva em confusão?
De que vale a eleição,
a mudança em novo dia,
se na mesma escuridão
só a esperança alumia
os que em democracia
não cessam de acreditar
que a noite há-de passar,
mas afinal quem passa
são os que sobre a desgraça
levam a vida a gozar !