A noite acabara de cair e nós nos dirigimos silenciosamente aos fundos da casa. Minhas primas e eu estávamos absorvidas pela emoção de mais uma vez entrar naquele quarto. O simples fato de ser algo proibido já nos excitava. Não era a primeira vez que fazíamos isto. Era só o tio João sair de casa...nossos olhares se cruzavam e não eram necessárias palavras, era a hora da aventura.
Nos aproximamos da porta que rangeu ao ser aberta. Aquela atmosfera pesada e sombria nos petrificava de medo. Mas era um ritual que fazíamos, e a cada nova empreitada, nos sentíamos mais fortes, mais crescidas, invencíveis. Entramos na penumbra, para não sermos pegas por ninguém...
Na parede aquela figura horripilante nos encarava, como um vigilante pronto a nos atacar. Era um morcego empanado coberto por uma tinta viscosa e negra. Já acostumadas àquele olhar vampiresco, nos embrenhamos pelo interior do quarto à procura dos doces que João guardava nas caixas.
De repente algo me tocou pelas costas, cochichei perguntando o que Luciana queria, mas ela não respondeu. Olhei para ela e para Dulce. seus olhos estavam arregalados e suas bocas semi-abertas. Olhei na direção apontada por aqueles assustados pares de olhos. Uma sensação de frio começou a tomar meu corpo da cabeça aos pés... Sobre a minha cabeça havia uma enorme mão, cortada na altura do pulso, como uma mão de gorila, negra e cabeluda.
Aos pulos e gritos, saimos em disparada, enquanto a mão vinha atrás de nós pelo quintal ao redor da casa. Entre a escuridão das árvores continuávamos correndo e gritando... Olhávamos para trás e lá estava ela, flutuando e nos perseguindo vorazmente.
Entramos em um pequeno depósito e rapidamente fechamos a porta. Ficamos encolhidas, trêmulas, agarradas umas às outras... enquanto o silêncio lancinante nos enchia de mais pavor...
Permanecemos assim até a luz do dia entrar pelas frestas da porta. Saímos de lá perplexas... e nunca mais ousamos entrar naquele quarto...
(história real ocorrida em Belo Horizonte na casa da vovó Maria. Acredite se quiser!)