Aqueles olhos siberianos que me olhavam sem dó,
Nunca estive na Sibéria, mas sala de cirurgia é mais fria, e eu quase nu...
Mas não um frio na barriga, nem na espinha, um frio dentro,
Frio dentro de mim, e sempre esquecem ali aquele corpo que ainda esta vivo,
Bem vivo, e fico olhando os olhos siberianos, de rusky mesmo, azul e gelo...
Dá-me medo, e ainda mais quando me sinto invadido por uma máquina de anestesia,
Ao meu lado, aquela coisa sem sentido e sem sentimentos, tentando me usurpar,
E continuo, desde muitos minutos sem fim pelado no meio de dezenas de pessoas,
Caramba, cadê o médico que não vem? Já me deixou 2 horas no quarto assistindo tv com dor de barriga, e ele não vem me buscar, então que chame um enfermeiro,
Ei, alguém aí? Alguém me escuta? Porra, pelo menos virem esses olhos enormes,
Eles me intimidam, agora, deitado aqui numa mesa cirúrgica me lembro do corredor,
Eu sou um bom paciente, atencioso, respondendo perguntas inúteis, nu, com um aventalzinho ridículo azul sei lá o quê...
E ao longo de minha viagem do quarto até ali onde estava esperando o doutor,
Cruzamos simplesmente com 2 caras que pintavam o corredor...
Eles me olharam com tanto dó que parecia que eu estava a caminho da eutanásia ou sei lá o que pensaram de mim..._coitado, tão jovem...caramba, me deixem ir sem dó...não quero dó...
A chuva vem para me espantar mais ainda, sempre chove em minhas operações, sempre...
Até que enfim, até que enfim (musical)!!! Pela ponta direita vem o doutor, ele cruza espetacularmente a sala, pergunta cinicamente se estou bem, _sim doutor, sim - respondo mas acho que ele não escuta pelo fato da torcida uivar feito animais nos corredores daquele inferno - pega uma seringa, finta meu olhar ansioso, mira como craque na marca do pênalti e gollllllllllll.......é é é da anestesia, e tudo fica dormente...
Pronto, rápido e ligeiro, 5 minutos e eu tive que esperar 2 horas com dor de barriga naquele quarto de hospital assistindo debates de futebol...
Thiago Schneider Herrera |
