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Teses_Monologos-->A Modernidade Chegou Aqui -- 07/12/2002 - 10:06 (Domingos Oliveira Medeiros) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Las Vegas é Aqui
(por Domingos Oliveira Medeiros)

Já faz algum tempo que cheguei por estas bandas. Desci na rodoviária, ainda modesta, e fui procurar um hotel para tirar a poeira e começar vida nova. Trazia, nas costas, uma mochila. Repleta de vivências em forma de textos literários. Procurava um lugar para divulgá-los e trocar idéias. Ampliar o leque de amizades. Conhecer pessoas. Preferencialmente, que gostassem, como eu, de escrever. De prosear, como diz o pessoal do interior.

O lugar era calmo. Bem tranqüilo. As pessoas se cumprimentavam mesmo sem se conhecerem. Havia um ar de respeito e de confiança na cidade. A cidade era igual a qualquer outra do interior do Brasil. As casas eram maioria. Prédios, no máximo, de dois ou três andares. Sendo que não podia faltar o prédio da prefeitura. Com praça e bancos rodeados de árvores generosas em nos oferecer sombra e abrigo.

Próximo à praça da prefeitura, a esquina mais movimentada da cidade. Fluxo obrigatório de todas as pessoas que ali transitavam, de um lado para o outro, sob os mais diversos pretextos e objetivos.

Nos bancos, aposentados jogavam dama, dominó e baralho. E conversavam sobre o passado. Lembranças boas e más. Gritos e sorrisos. Provocações ingênuas e brincadeiras de amigos. Essa era a esquina que conheci. Acolhedora.

Fiquei tão emocionado que cheguei a escrever um texto sobre a esquina. A esquina que denominei “A Esquina da Usina”. Na verdade, estava me referindo ao Quadro de Avisos. Ponto de encontro e lugar de jogar conversa fora. De divulgar os acontecimentos da cidade. As novidades. O disse-me-disse diário. Local onde ficávamos sabendo de todos os endereços da cidade. E sobre tudo de seus personagens.

E assim passaram-se os anos. Acabei me tornando um dos moradores dessa cidade. Que escolhi, por acaso, para passar um tempo. Acabei conquistando muitos amigos. E aprendi muito com eles. Evidentemente, nem tudo são flores. Discutimos, algumas vezes. Discordâncias momentâneas. Nada que pudesse ser confundido com agressão pessoal. Pelo menos, nunca levei tanto a sério tais discussões. Para mim, elas não ultrapassavam o campo das idéias. Jamais invadiram o campo pessoal.

Hoje, melhor dizendo, cerca de dez ou quinze dias passados, andando pela cidade, refazendo o roteiro do primeiro dia que aqui estive, dei uma volta pela esquina.

Fui até à pracinha. Sentei-me no banco e comecei a olhar para a cidade. E pude constatar que o tempo é implacável. Quando a gente menos espera, ele passa por nós, sem dar bom dia. Quando prestamos um pouco mais de atenção, ele já passou, deixando suas marcas. Todos ficamos mais velhos. Ou mais amadurecidos. Mais vividos. Melhores ou piores. Como queiram. O certo é que pude ver como a cidadezinha mudou. Muita coisa moderna apareceu. Algumas boas, outras más.

A esquina da cidade, hoje, está cheia de letreiros. Letreiros luminosos anunciam textos literários, propagandas diversas e notícias sobre a comunidade, em geral. Há letreiros para todos os gostos. Alguns propiciam um verdadeiro espetáculo de cores e de movimentos. E variedade de formas e de conteúdo. Assim, cores, brilhos, formas e movimentos inundam a paisagem da pracinha. Emprestam-lhe ares de modernidade.

Nem podemos chamá-la mais de pracinha. Tal como nossos filhos, ela cresceu e não percebemos. E com o crescimento veio a modernidade. E com a modernidade as coisas próprias e impróprias dos novos tempos.

A população aumentou. E os problemas também. A violência começa a mostrar suas garras. Primeiro, a violência verbal. Depois, como todos sabemos, acabará por evoluir para outros tipos de violência. A paz começa a ser ameaçada. Gente de todos os tipos e de personalidades diversas contribuem para modificar o perfil e a cultura da cidade. Gente com espírito empreendedor. E gente que só pensa em destruir. Gente misteriosa. Que se esconde no anonimato. Gente sem rosto. Gente sem gosto. Gente desgosto.

Por isso, os bancos e os prédios da esquina amanhecem pichados. Piratas invadem ruas e outros espaços. Roubam idéias. Caluniam e confundem. As discussões aumentam de tom. Agravos e desagravos tomam conta do noticiário local.

Duplicam os assuntos discutidos na esquina. Fala-se de quase tudo. De política, de futebol, de literatura, de mulher, de homens, de piadas, e até da vida alheia. Palavrões e chavões viram rotina. Estamos, realmente, numa grande cidade. Ingressando na era da modernidade. Estamos próximos a La Vegas. Somos muito parecidos.

Domingos Oliveira Medeiros
07 de dezembro de 2002


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