(Quem vem do distante burgo e vence na metrópole adquire hábitos de rico, mas não perde certos costumes da origem pobre)
Eu sou Sertão,
O meu torrão
E sou litoral.
Sou gente bem,
Matuto também,
Nada de mal.
Falo bonito,
Texto erudito,
Sou bacharel.
Sou popular,
Amo pelejar,
Sou do cordel.
Meu taperão
Não é mansão,
Sou mutuário.
Tenho patrão,
Ganho meu pão,
Sou operário.
Ando de terno,
Corte moderno,
Tudo fiado.
De banco cliente,
Sou inadimplente
E sou cobrado.
Não tenho fortuna,
Saio em coluna,
Pareço o tal.
Isso é brega,
A gente se entrega
À vida banal.
Vim da pobreza,
Busquei a riqueza,
Pouco mudei.
Fiquei refinado,
Mas escrachado
Sempre serei.
Quero ser puro,
Eu sou é duro,
Sou devedor.
Eu sou atrevido,
Sujeito metido,
Sou vivedor.
Nesse duro viver
Quando eu morrer,
Perdoado serei.
Nada de inferno,
Para o céu eterno
Com fé eu irei.
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