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Cronicas-->Psicologia da chuva -- 02/04/2003 - 09:31 (Leonardo de Oliveira Teixeira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Pub. em 25/02/03 e 09/03/03 no Jornal O Popular

Psicologia da chuva

Leonardo Teixeira
leoarietto@globo.com

Deve haver algo muito estranho acima do firmamento, no cafofo das nuvens. A noite chega robusta com sua tonalidade rosa enegrecida. Começa leve a cachoeira pluvial, e se recrudesce em furiosa tempestade, tombando muros e árvores, arruinando casas, extinguindo famílias, afogando insólitos moradores das ruas, sob as marquises.
Deus me perdoe, mas o céu anda dando trabalho! Não se chove assim por mero capricho moral do fenómeno físico da tataravó-natureza. O uso abusado desse aguaceiro não é muito explicado pela meteorologia e também me parece escapar das teorias teológicas. Talvez, porque Deus tornou-se mais benevolente após o velho testamento, já que não se tem notícias recentes das constantes zangas divinas do velho mundo, para punir as criaturas suscetíveis a falhas - os imperfeitos humanos -, possivelmente para tentar reajustar e realinhar os caminhos da Terra pedestre.
As profecias terríveis da entrada no novo milênio não foram concretizadas. Houve um buraco no oráculo! E tome chuva diária! Os pluviómetros e barómetros revelam a impertinência celeste, em profunda metamorfose. As ruas tornam-se leitos, os carros são canoas, as galerias - que ironia! - são gêisers; e se continuar essa insistência das chuvas, nós todos seremos anfíbios, a dar coachos, entre pulos e nados.
Pelo início da tarde o sol forte racha até a nossa pele. Isso explica a alta venda de cosméticos e produtos para embelezar nossa epiderme de escamas. Por pura rebeldia, ninguém da minha família comprará algum frasco desses medicamentos, mas se alguém comprar, direi que não, para preservar a psiquê, a consciência, e todo o fundo moral.
O certo é que sempre há uma lasca de ingratidão nas nossas rebeliões contra a natureza. Não se pode negar a necessária chuva, nos confins das terras agricultáveis, por uma lógica questão de sobrevivência. Temos que ser gratos pelo nosso país, com esse paraíso natural, sem vulcões, tornados e outras enormes catástrofes. A chuva é uma virtude e o sol é o vício que comprova que o céu vai se corrigindo.
Não fique com medo de profecias, nem fique confinado na sua residência, senão você vai criar bolor e vai achar que a vida é muito triste. Para não contrariar a meteorologia, darei a previsão permanente do tempo: tempo bom com muitas possibilidades de chuva, céu limpo com muitas possibilidades de nuvens; a temperatura varia entre 1º C a 44º C; a previsão vale por 10 anos, com direito de o consumidor procurar o Procon e reclamar em 7 dias úteis, em caso de alguma mudança climática.
Neste momento, um fio inesperado de luz fura o céu e atravessa os vidros da minha janela. Vou abrir a vidraça para que o vício entre, livre, triunfante, com um auspício de sobrevivência, sob a forma de um raio cilíndrico de sol dourado. Mas, quando for sair, levarei um guarda-chuva, ainda que seja por pura neurose.
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