A galinha criou dente,
O sapo virou cantor,
O gato tocou a tuba
E o rato, claro, roubou.
O burro muito educado
Disse que não dava coice,
O leão com o caçador
Não quis conversa, foi-se.
A onça bebeu a água
Da fonte do jacaré,
O macaco viu o homem
E foi logo dando no pé.
O elefante fugiu,
Não socorreu a formiga,
A zebra disse pra cobra:
“Tu és mesmo mui amiga”.
A girafa imponente
Esnobou a andorinha,
A pomba perdeu a paz,
O pombo a deixou sozinha.
O veado não aceita
Que o tratem como bicha,
Chifre, sim, tem e não nega,
Mas de corno ele tem rixa.
O cão esperto latiu
E comeu o pobre gato
Que antes tinha comido
Um desprevenido rato.
O papagaio gritou
Um monte de nome feio,
O coelho, de coelhinhos,
Encheu um campo e meio.
O camelo chateado
Com gente em sua corcova
Deu uma sacudidela,
Mandou o freguês pra cova.
O pinto ficou zangado
Por ser comparado a pau,
A rolinha chamada rola
Ficou com ares de mau.
O periquito protestou:
“Não me chamem de priquito,
eu sou limpo e cheiroso
e ele tem cheiro esquisito”.
O pavão muito orgulhoso
Acha-se pássaro nobre,
O cão-fila no entanto
Se conforma em ser pobre.
Dos bichos o homem é
O animal mais safado,
Se dependesse só dele
O mundo tava acabado.
|