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Contos-->SerVidão -- 18/11/2003 - 17:20 (Rose Oliveira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
SerVidão

Chica morava na Vila Matoso. Um quartinho de dois cômodos: quarto... e o resto que arrumava para tudo.
O banheiro, comum a todos, ficava no beco, situado atrás dos quartinhos. No inverno, usava um urinol, para não encarar o frio.
Ao ouvir o velho despertador tocar às quatro da matina, sentou na cama, ainda zonza de sono. Espreguiçou, tentando vencer o torpor do corpo. Mais um dia de agonia, pensou, enquanto levantava, arrastando a chinela e coçando as costas marcadas pelo lastro da cama.
Tinha que economizar e comprar outro colchão. Suas costas estavam em pandarecos. Sorriu tristemente. Economizar mais... de onde, meu Deus? E a patroa? Quem sabe ela não dava aquele colchão bonitão que vivia escorado na dispensa? Falaria quando ela estivesse bem-humorada. Não custava falar, o pior que podia acontecer era a patroa não responder e fulminá-la com o olhar de “enlouqueceu criatura?”.
Já pronta, engoliu um cafezinho frio, refugo da noite anterior, pegou a bolsa e saiu.
O frio açoitava a pele. Apertou os passos, só relaxando no trem, que por sorte tinha uma cadeira vaga. Olhando a paisagem fria, nublada, Chica cochilava prestações de sono de uma vida inteira.
Ao descer na sua estação, voltou a arrochar os passos. Com sorte chegaria antes de Severina e faria uma “boquinha”. Estava morta de fome. Rezou para que tivessem aberto o pacote de presunto. Estava doida para provar, e nem iam perceber... tiraria só uma tirinha.
Entrou pela área de serviço quase correndo. Preparou o café, fez um sanduíche de pão com manteiga e presunto, e comeu tão avidamente que nem gosto sentiu.

“Uma mulher comida é outra mulher”... Sorriu do trocadilho que fizera. Vestiu o uniforme, limpou o que sujara e foi colocar a mesa para o café dos patrões.
Dona Celeste desceu com a cadela no colo — Rana era o nome da mimada poodle.
Sentou à mesa, sem largar a miniatura de cão. Chica viu, com dor na alma, a patroa enrolar umas tiras generosas do presunto cobiçado... e oferecer à cadelinha!
Quase latiu.
Onde já se viu?
Deixou Severina servindo e foi arrumar os quartos. Divagava enquanto executava mecanicamente as tarefas. Tinha que vigiar os pensamentos, andava revoltada. Lembrava-se da mãe em sua cantilena “...mia fia, quem nasceu pra urubu num chega a pombo é nunca!” A essa altura, achava que ela tinha razão.
Veja que, na casa da patroa, se sentasse no sofá, subisse na cama, ou urinasse no tapete, perderia não só o emprego, mas parte dos dentes. Isso se não fosse presa.
Mas Rana, a pestinha da cadelinha, fazia tudo isso e era considerada uma gracinha.
Entristecida, percebeu que nessa vida sua mãe estava mesmo certa.
Nada seria.
Valia menos que um cão.

Rose Oliveira
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