Se você pensa que os chamados programas de índio podem ser praticados apenas no Carrefour, você está muito enganado. Aqui em Brasília, pode-se fazer um excelente programa de índio na rede Pão de Açúcar. Claro que me refiro ao cidadão comum, aquele que não construiu nenhum TRT. Você vai em qualquer das lojas que em nada deixam a desejar à s do Carrefour. Faz suas compras, pode provar pamonha (doce ou salgada), pizzas variadas, cafezinho, caipirinha em pó 51. Uma maravilha. Nestes tempos de festas juninas é ainda melhor pois tem música de quadrilha tocando o tempo todo. Os funcionários ainda não estão devidamente caracterizados, mas um pouco mais adiante já estarão com suas roupas características, falsas tranças ou bigodes (ou ambos, nestas ocasiões aparece de tudo) e até o dente pintado de preto, caracterizando-se como os caipiras. Claro que me refiro ao caipira tradicional, ao estereótipo, o que poderíamos chamar caipira histórico. Hoje, como diz o Renato Teixeira, caipira tem "pick up". Como diz uma amiga, o perigo maior é ser convocado para o casamento caipira.
Lá pelo dia 20, quando o ar de festa junina esquenta de verdade você pode até ser tirado para dançar uma quadrilha enquanto escolhe o arroz de sua preferência. Por falar em arroz, vocês viram que agora tem um tal de Tio Jorge que está distribuindo carros? Eu, não troco o meu Tio João por qualquer tio destes que tem por aí, pelo menos até começar a fazer "merchandising" nos meus textos (que seja logo). Claro que você poderá ainda aproveitar e trocar aquele chapéu com tranças que você comprou há dez anos e provar um novo lápis para fazer pintinhas no rosto. Pegue sem medo, coloque no carrinho sem receio, ninguém vai reclamar. Se alguém falar, mexa nas compras dele e logo verá que lá no fundo está escondido um pacote de corações de abóbora ou, quem sabe, um vestido de chita.
Nesta época aumenta a oferta de rapadurinhas de leite, de amendoim, pés de moleque e as famosas passoquinhas. Nós aqui em casa já nos antecipamos e compramos um pacote de passoquinhas antes que o preço suba, pressionado pela demanda maior. Espero que os índices de inflação expurguem o aumento sazonal da passoquinha, se não, o que será do Plano Real. Para você que está fingindo que não sabe o que é passoquinha, lembro que você pode negar para os outros mas não pode negar para si mesmo. Neste casos em que o desejo está enrustido e você não quer revelar a todos, não sendo possível a análise, o melhor é comprar um pacote e mantê-lo escondido no porta luvas (alguém já guardou luvas no porta luvas? - nem poderia pois aquele compartimento foi feito para esconder passoquinhas e só se chama desta maneira para disfarçar). Se descobrirem, diga que é para oferecer à s crianças nos estacionamentos em lugar de gorjeta. Diga que elas ficam muito mais contentes pois podem comê-las em vez de levar para algum marmanjo e ainda sai muito mais barato. Mas cuidado, feche o vidro logo pois quem não está acostumado pode se engasgar.
Para quem foi ao supermercado há poucos dias e agora ficou sem um programa de índio para o final de semana, sempre é possível alegar que esqueceu a farinha para a polenta ou que terminou o carvão. Volte lá, no fim de semana há muito mais atrações e as aventuras já se iniciam no estacionamento.
