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Roteiro_de_Filme_ou_Novela-->João de Gilú -- 17/08/2005 - 09:59 (Paulo Maciel) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Esse texto, que classifiquei como NOVELA, é o capítulo XIX do romance JOÃO DE GILÙ, que pretendo publicar brevemente, mas que, no momento, está concorrendo ao Prêmio Nacional do Romance da Academia Baiana de Letras:





XIX

De como João de Gilú
executa sua cruel vingança.



Zé Baiano e seu pequeno bando sairam de manhã de Carnaúba do Sertão e tomaram o rumo de Uauá, como previra Donga da Maçaroca. Foram a pé, pois não conseguiram animais. Os poucos que existiam na vila estavam nas fazendas próximas ou escondidos na caatinga.
O destino deles era o Raso da Catarina, onde achavam que Lampião ainda se encontrava.
Mas, enquanto caminhavam para chegar em Poeira, o primeiro povoado na direção de Uauá, uma volante chefiada pelo major Ladislau, policial destemido, nascido em Serra Preta, região de Jeremoabo, e que conhecia as trilhas do Raso, andava atrás de Lampião. O major soube pelo rádio que Zé Baiano e alguns homens estiveram perto de Favela, em Carnaúba do Sertão, onde assaltaram alguns moradores e feriram umas pessoas. Destacou uns seis policiais para ir ao encontro do jagunço.
Esse major Ladislau, é bom explicar logo, mais tarde foi servir em Favela onde terminou casando com uma neta do coronel Jansen Cavalcante de Moura, portanto, sobrinha de meu avô, de nome Clara. Eles tiveram dois filhos e um deles, de nome Carlos José, meu primo, veio a ser meu colega de colégio. Nesse tempo, nunca esqueci, de vez em quando almoçava em sua casa, no bairro do Rosário, onde saboreava o melhor arroz que já comi, soltinho, na manteiga.
Nesse mesmo dia, João de Gilú mais Bira, um dos homem que servira a seu pai, mulato troncudo e de cara bexiguenta, de muita valentia, que batizou seu filho mais velho, pegaram o trem e foram até a estação de Carnaúba. Àquela altura os bandidos levavam umas oito horas de vantagem sobre eles.
Cada um carregava um alforje atravessado nas costas, João ainda tinha uma sacola de pano e Bira portava a espingarda.
Em Carnaúba, logo se informaram por onde os cabras seguiram, e tomaram o rumo deles. Com pouco tempo de caminhada, todos dois já eram capazes de reconhecer o rastro de cada jagunço pela marca que a alpercata deixava na areia. Não havia jeito de se perderem deles. Podia demorar, mas iam chegar bem perto de Zé Baiano. Quando fosse a hora, pensariam no que fazer.
O bandido e sua tropa chegaram em Poeira por volta das duas da tarde e resolveram descansar aí o resto do dia e passar a noite. Como sempre faziam, tomaram a melhor casa do vilarejo, que não passava de um casebre de pau a pique, um pouco maior do que os outros e se arrancharam. Pediram comida e cachaça.
João e o compadre não diminuíram a marcha e só pararam uma vez para comer um pedaço de carne seca com farinha e matar a sede na boca da garrafa que trouxeram. Depois, andaram até a boca da noite e pararam para dormir debaixo de uma quixabeira.
Fizeram uma pequena fogueira, assaram duas codornas que Bira tinha matado no caminho e depois caíram no sono, deitados em cima dos panos que tiraram de dentro dos alforjes.
Antes de dormir, João ainda disse ao compadre:
- Acho que hoje tiramo u´as quatro horas do atraso.
Naquela mesma hora o sargento Gaudêncio, da Polícia da Bahia, que comandava o pequeno destacamento de seis soldados que o major Ladislau mandou ao encontro de Zé Baiano, também resolveu estacionar onde se encontrava, próximo ao lugar chamado Ouricuri, umas duas léguas acima de Uauá, no caminho para Carnaúba. Ele preferiu não entrar na vila e montar seu acampamento ali mesmo. Dormiriam no mato, nas redes que traziam, era mais seguro.
Mandou preparar um fogo, deu ordem pro pessoal comer e estabeleceu o rodízio da vigia.
O sargento Gaudêncio era homem muito experimentado nessas lides de caçar jagunço e já fazia pra mais de três anos que integrava a volante do major Ladislau, que tivera por chefe, antes dele, o capitão Fortunato. Ele conhecia bem a mente dos bandidos, o que eles costumavam pensar, a forma como agiam, as artimanhas nos combates. Fora informado que um bando que andava com Zé Baiano tava voltando para se juntar ao capitão Virgulino, vindo de Carnaúba do Sertão. Tava ali pra pegar essa gente. Antes de dormir, teve os seguintes pensamentos:
- Esse povo deve tá vindo pela picada que passa em Poeira, segue pra Bela Vista, antes de bater aqui em Ouricuri, no sentido de Uauá. Num sei quando saíram de lá, mas já devem tá aí pelo caminho. Vou fazer meu plano pra esperar eles entre Bela Vista e Ouricuri. Vou montar u´a tocaia lá.
No dia seguinte os três grupos voltaram a caminhar: João e Bira, atrás de Zé Baiano e sua tropa, seguindo seus rastros; Zé Baiano indo na direção de Bela Vista, onde queria chegar dois dias depois; e o sargento Gaudêncio seguindo ao encontro deles.
Dois dias depois, como queria, Zé Baiano chegou a Bela Vista pelas quatro da tarde, atravessando o areal do riacho Torto, que naturalmente estava seco e entrou no vilarejo pra dormir.
João de Gilú e Bira também passaram pelo riachinho, viram as pegadas frescas dos homens e concluíram que eles estavam apenas uma hora na frente. João falou pro companheiro:
- Cumpadre, vamo contorná o arraiá e esperá eles do outro lado. A gente fica bem intocado na caatinga pra modo ver o jeito que eles tão andando. Com uma só arma num podemo atacá eles. Vamo ver pra fazê um prano depois.
E assim fizeram.
O sargento Gaudêncio também andou rápido, passou por Ouricuri e, três léguas adiante, a meio caminho de Bela Vista, saiu da vereda e fez um acampamento um pouco afastado. Tinha comida, água e paciência. Ia esperar nesse lugar por uns dois dias. Se os homens não aparecessem, mudava de plano e ia procurar por eles.
No outro dia, Zé Baiano pegou a estrada outra vez e continuou sua trajetória para Uauá. Queria chegar em Ouricuri na tarde do dia seguinte.
Duas horas depois que eles deixaram Bela Vista chegaram ao ponto onde João de Gilú e Bira estavam entocados.
Apesar da distância em que se encontravam eles perceberam a formação em que os jagunços viajavam: bem à frente, como se fosse um batedor, ia um homem. Depois dele vinham Zé Baiano e outro cabra. E no fundo, um pouco distante, o quarto homem, todos bem armados, com as cartucheiras cruzadas sobre o peito, bacamartes nas mãos e punhais nas cinturas.
João distinguiu bem as figuras e deitou-se ainda mais no chão. Ficou imóvel por uns bons minutos, até o grupo sumir de todo.
Depois, levantou-se junto com o compadre e, falando baixo, disse a ele:
- Tá difíci pegá esses cabras! Comé que vamo fazê? - Minha idéa é arranjá outra arma pra nós. Com uma só fica impossivi infrentá os home.
Ainda ficaram ali, sentados, por mais de meia hora, deixando o grupo tomar distância deles. Agora, não era nem mais preciso olhar os rastros, já sabiam para onde os cabras iam.
Lá na frente, os homens seguiam na marcha, inteiramente desatentos. Era impossível que os macacos estivessem por ali. Mas, o pior é que estavam!
Não demorou outra meia hora e o jagunço que ia na frente caiu estrebuchando com o primeiro tiro dado pelos soldados do sargento Gaudêncio. Na verdade, foi uma precipitação de alguém, porque a ordem era para esperar por todos.
O sargento havia organizado o batalhão em semicírculo, de modo a ter três homens na testa da trilha e dois em cada lado. A formação adotada ajudava a pegar todo mundo de vez.
O tiro dado de sopetão, que derrubou o vigia, deu tempo aos outros de reagir. E foi bala pra todo lado! Até o sarará que tinha sido atingido e que não morrera, estava atirando.
Mas, os soldados eram em maior número, estavam mais bem posicionados, e logo mataram o que não morrera e derrubaram um outro, ao lado de Zé Baiano.
O chefe do bando e o da retaguarda correram para trás e se meteram na caatinga, juntos.
As roupas dos cangaceiros, próprias para o ambiente, evitavam que eles se ferissem muito. Apenas o rosto descoberto sofria algumas escoriações.
Eles se meteram no mato, num passo rápido, e em pouco tempo estavam muito longe do lugar onde a volante os surpreendera. Parando de vez em quando para tentar ouvir se os homens estavam em sua perseguição, eles continuaram andando por dentro da caatinga, no rumo de onde tinham vindo.
Lá atrás, o sargento Gaudêncio e seus homens saíram do esconderijo e foram para o meio da trilha, onde estavam os cabras.
Um, quase negro, o que ia à frente, estava mortinho da silva. O outro, um branquelo, muito ferido, com três balas no corpo, ainda vivo.
Um dos soldados que se aproximou deles, sem pestanejar, enfiou a baioneta no ferido, na altura do coração. O homem só fez dar um ai!
Um pouco atrás, o sargento viu aquilo, mas fingiu não ter visto. O que podia fazer? Nessa guerra era assim mesmo, não sobrava ninguém para contar a história. De um lado ou do outro!
O sargento reuniu o grupo e falou para todos, como se estivesse pensando alto:
- Bem, podemo fazê duas coisa: uma é ir correndo atrás da corja, que não tá muito longe, ainda; outra é seguir devagar para Bela Vista e fazê ali um pouso. Os home não tem pra onde ir. Hoje ou amanhã a gente pega eles! E, concluindo:
- Vamo pra Bela Vista.
Lá na frente, Zé Baiano parou mais uma vez, deitou, botou o ouvido no chão e ficou em silêncio um bom tempo para ver se escutava alguma coisa. Falou:
- Onofre, os macaco num tão vindo. Acho que ou vão vortá ou vem atrás de nós devagá, pela trilha. Vamo continuá pelos mato mas não entramo em Bela Vista. De lá vamo dá uma vorta e subi pra Queimada do Morro. Por esse caminho a gente chega no Raso.
Dito e feito, continuaram andando por dentro da caatinga, mais devagar, parando de vez em quando para ouvir os passos da patrulha.
Um pouco mais à frente, na picada por onde os cabras tinham passado, João e o compadre Bira deram uma parada e ficaram vigilantes. Tinham ouvido zoada de gravetos ali perto, como se alguém estivesse vindo. Deitaram no chão e ficaram ouvindo. Bira falou baixinho para João de Gilú:
- São dois, compadre! Tão umas trinta braças pra dentro do mato. É capaz de ser os cabra!
Permaneceram deitados até que Zé Baiano e o comparsa emparelharam com eles. O que fazer?
João pensou depressa e achou que se fossem os jagunços eles estavam fugindo de alguma coisa, mas não podiam continuar caminhando dentro da caatinga. Faziam muito barulho. Tinham que sair para a trilha. Disse a Bira:
- Cumpadre, vamo vortá por esse caminho bem depressa e esperá eles – quem quer que seja – mais além. Eles tem que aparecê.
Com a maior leveza, foram deixando aquele lugar e caminhando de volta. Uma hora depois, pararam, deixaram a vereda e se esconderam perto.
Não demorou muito e os dois homens surgiram no caminho onde eles se encontravam.
Bira, que estava com a espingarda, não brincou no serviço e passou fogo no que vinha na frente. O homem caiu. Enquanto o outro levantava sua carabina para mirar, João, com uma ligeireza que surpreendia, caiu em cima dele com o punhal na mão, que enfiou debaixo do braço direito, lá dele. Era Zé Baiano!
Enquanto o homem se debatia, a arma caída ao lado, João de Gilú, com seus cento e vinte quilos de peso em cima do cabra magrelo, praticamente o imobilizou.
Bira, ao seu lado, com a faquinha de picar fumo, bem amoladinha, sangrou o companheiro de Zé Baiano. O sangue esguichava do pescoço do jagunço como se fosse um bule derramando café. Em poucos minutos tava morto.
Agarrando o sujeito pelo pescoço, ainda sobre ele, João pediu ajuda a Bira, que trouxe logo uma corda tirada do alforje. Com ela amarrou as mãos e depois, entortando o cabra, também amarrou os pés com a mesma corda. O sujeito ficou parado, sangrando um pouco da ferida no sovaco e olhando os dois assombrado.
- Cês também são polícia? indagou ele, numa voz baixa, fina.
- Não. Somo vaquero, respondeu João. Quem é ocê?
- Sou chamado Zé Baiano, chefe de bando de capitão Virgulino, e se ocês não me soltá vão se dá mal.
- Entonce ocê é Zé Baiano, o marvado que ferra muié? disse João, a voz muito baixa, ameaçadora. Eu sou irmão mais véio da moça que ocê abusô e ferrô com um L lá em Carnaúba do Sertão, dias passado. Tô atrás de ocê, aqui com o cumpadre Bira, pra me vingá. Se prepara pra morrê, cabra safado. Se credita em arguma entidade, reze, chegou a hora!
O cabra ainda ficou falando alguma coisa, gritou, tentou se mexer, xingou, ameaçou, mas nem João nem o compadre Bira voltaram a falar com ele.
Como se ele não estivesse ali, João botou umas pedras no chão em forma de círculo, pegou folhas secas e, riscando um fósforo, fez um foguinho. Depois, pôs em cima mais alguns galhos para aumentar as chamas. De dentro do alforje sacou um ferro de marcar gado, com a marca que usava nas suas reses – JG – e botou em cima do fogo.
Com uma faca cortou o enorme cinturão que Zé Baiano carregava, de onde se penduravam as bainhas para o facão e o punhal. Cortou também as calças e ceroulas, que arrancou do corpo dele. O cabra ficou nu da cintura para baixo.
A seguir, com o auxílio de Bira, levantou o sujeito e arrastou-o até um tronco de braúna muito grosso, onde o amarrou com outras cordas que trazia. Passou uma parte da corda pelo pescoço, outra pela barriga e a terceira pelas coxas, de modo que o sujeito ficou como que entalado, preso à maior árvore da caatinga.
Nesse momento, Zé Baiano compreendeu o que aquele vaqueiro gordo, com uma cara que não revelava qualquer sentimento, além de ódio, estava prestes a fazer com ele:
- Num faça uma disgraça dessa, ele berrou!
João de Gilú pareceu não ouvir o grito desesperado do jagunço. Muito pausadamente pegou o ferro em brasa de cima da fogueira e encostou-o com força na cara dele. Segurou firme por uns segundos e deixou ali sua marca. A seguir, fez a mesma coisa do outro lado do rosto. Depois, tirou o facão meio cego que usava para cortar madeira e, com nojo, segurou as vergonhas dele e foi cortando devagarzinho, enquanto Zé Baiano gritava feito um doido.
João continuou o serviço: mais uma vez, pegou nos quibas do sujeito e também cortou fora. O cabra estava desfalecendo de dor e continuava urrando.
O pênis foi jogado no chão da trilha. Com dois dedos fazendo pressão nas bochechas do homem, João abriu a boca dele e colocou lá dentro os quibas, enquanto evitava que ele cuspisse aquilo. Pediu a Bira a agulha com linha que estava dentro do alforje e com ela foi costurando os lábios do criminoso. Quando acabou, cuspiu nele!
- E precisa isso, João? perguntou Bira.
- Sei que é muita mardade, mas ele merece. Home que faz o que ele fez tem que morrê cum grande sofrimento. Vambora! Ele vai ficá ai sangrando inté morrê! Tomara que demore!












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