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Artigos-->Fragrância Feminina na Poesia - Natália Correia -- 07/07/2002 - 11:36 (Fernanda Guimarães) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Fragrância Feminina na Poesia



Estamos dando continuidade a publicação destes pequenos artigos que visam mostrar um pouco da escrita poética feminina no cenário nacional e mundial.

Pretendemos, tão somente, falar da emoção de nossas descobertas literárias ao nos depararmos com a vasta produção feminina na construção de uma identidade poética.

É antes de tudo, uma gota de perfume que permitirá ao leitor curioso, buscar essências a partir da publicação destes textos.





Natália Correia





Natália de Oliveira Correia nasceu na Ilha de São Miguel, nos Açores, a 13 de Setembro de 1923.

Estudou no liceu Antero de Quental até 1934, quando mudou-se nesse mesmo ano para o liceu Filipa de Lencastre, em Lisboa.

Natália Correia é considerada um dos ícones da poesia portuguesa contemporânea. Destacou-se também como ensaísta e romancista, possuindo trabalhos no teatro e investigação literária.

Em 1942, casa-se com Álvaro Pereira. No ano de 1949, une-se a William Creighton Hylen, de quem posteriormente se separaria para casar, em 1950, com Alfredo Machado.

Em 1944, inicia sua carreira de jornalista na Rádio Clube Português.

Em 1960, grava o disco "Natália Correia Diz Poemas de Sua Autoria".

Conhece em 1962, Dórdio Guimarães, parceiro de diversos trabalhos no cinema e na televisão. Casa-se com Dórdio em 1990, com quem permaneceu até o fim da vida.

Destacou-se na luta contra o fascismo. Teve vários dos seus livros apreendidos pela censura. Foi condenada a três anos de prisão, com pena suspensa, por abuso de liberdade da imprensa.

Em 1971, ao lado de Isabel Meyrelles cria uma sociedade , cujo resultado será o Botequim (local de encontro, convívio e tertúlia, onde nasciam idéias culturais efervescentes).

Foi diretora literária dos Estúdios Cor e da Editora Arcádia. Em 1976 tornou-se diretora do "Século Hoje", da "Vida Mundial", e assessora do então secretário de Estado da Cultura, David Mourão-Ferreira.

Teve grande notoriedade no cenário político português, sendo eleita deputada pelo Partido Social Democrata, passando depois a independente.

Morreu em Lisboa, a 16 de Março de 1993, ano em que é publicada, em dois volumes, pelo Círculo dos Leitores, a sua obra poética completa: "O Sol nas Noites e o Luar nos Dias".

Obras importantes de sua autoria:

Obras poéticas: Rio de Nuvens (1947), Poemas (1955), Dimensão Encontrada (1957), Passaporte (1958), Comunicação (1959), Cântico do País Imerso (1961), O Vinho e a Lira (1966), Mátria (1968), As Maçãs de Orestes (1970), Mosca Iluminada (1972), O Anjo do Ocidente à Entrada do Ferro (1973), Poemas a Rebate (1975), Epístola aos Iamitas (1976), O Dilúvio e a Pomba (1979), Sonetos Românticos (1990), O Armistício (1985), O Sol das Noites e o Luar nos Dias (1993), Memória da Sombra (1994, com fotos de Antônio Matos)

Ficção: Anoiteceu no Bairro (1946), A Madona (1968), A Ilha de Circe (1983).

Teatro: O Progresso de Édipo (1957), O Homúnculo (1965), O Encoberto (1969), Erros Meus, Má Fortuna, Amor Ardente (1981), A Pécora (1983).

Ensaio: Poesia de arte e realismo poético (1958), Uma estátua para Herodes (1974).

Obras várias: Descobri que era Européia (1951 - viagens), Não Percas a Rosa (1978 - diário), A questão acadêmica de 1907 (1962), Antologia da Poesia Erótica e Satírica (1966), Cantares Galego-Portugueses (1970), Trovas de D. Dinis (1970), A Mulher (1973), O Surrealismo na Poesia Portuguesa (1973), Antologia da Poesia Portuguesa no Período Barroco (1982), A Ilha de São Nunca (1982).





Poemas de Natália Correia



O Sol nas Noites e o Luar nos Dias



De amor nada mais resta que um Outubro

e quanto mais amada mais desisto:

quanto mais tu me despes mais me cubro

e quanto mais me escondo mais me avisto.



E sei que mais te enleio e te deslumbro

porque se mais me ofusco mais existo.

Por dentro me ilumino, sol oculto,

por fora te ajoelho, corpo místico.



Não me acordes. Estou morta na quermesse

dos teus beijos. Etérea, a minha espécie

nem teus zelos amantes a demovem.



Mas quanto mais em nuvem me desfaço

mais de terra e de fogo é o abraço

com que na carne queres reter-me jovem.





Retrato Talvez Saudoso da Menina Insular



Tinha o tamanho da praia

o corpo era de areia.

Ele próprio era o início

do mar que o continuava.

Destino de água salgada

principiado na veia.

E quando as mãos se estenderam

a todo o seu comprimento

e quando os olhos desceram

a toda a sua fundura

teve o sinal que anuncia

o sonho da criatura.

Largou o sonho nos barcos

que dos seus dedos partiam

que dos seus dedos paisagens

países antecediam.

E quando o seu corpo se ergueu

Voltado para o desengano

só ficou tranquilidade

na linha daquele além.

Guardada na claridade

do olhar que a retém.



Comunicação



Como um poente congestionado

De vaga-lumes irreais

É o sete-estrelo desenfreado

Rosa de chamas descomunais

Saltam-lhe os pulsos como foguetes

As mãos são Vestes embriagadas

Parando as cenas dos banquetes

Em saturnais carbonizadas

Incham-lhe o seios como mechas

De Salomé desintegrada

Por quem cem líricos lamechas

Ficam ardendo sem dar por nada

Uma manada de trovões

Leva a cidade nos seus cornos

Assam marquesas nos salões

Como perus dentro dos formos

Os rechonchudos anjos das casas

Expiam crimes ancestrais

Mamando restos de leite em brasa

Nos esqueletos maternais

As salamandras uterinas

Queimam devassos nas suas camas

Com que celebram fesceninas

E derradeiras núpcias de chamas

Os acedémicos no espeto

Fazem um esforço de memória

Para manterem o esqueleto

Em ademanes de oratória

Em catedrais de mil archotes

Numa luxúria de extrema-unção

Um frenesi de sacerdotes

Tem um orgasmo de Inquisição

As labaredas quais proxenetas

Dos cidadãos mais importantes

Levam incêndios de meias pretas

A mercadores de diamantes

Logo que estoura algum ministro

E a sua alma estruma os campos

Rebenta um trigo mais sinistro

Nesta seara de pirilampos

Nos semicúpios incandescentes

Dos seus tesouros derretidos

Os milionários têm repentes

Têm remorsos de homens falidos

E um Desejado de lua nova

Noiva da Pátria vem finalmente

Buscar a noiva para a sua cova

E dá-lhe a Morte como presente



Num Relâmpago De Jovem Fêmea Louva-A-Deus



Na manhã do meu corpo juvenil

colhes frutos de sonho.

E a minha carne de Abril

cresce em teu abandono.

Nocturnamente contrária

às tuas horas jubilosas,

em cerimónia solitária

aos meus duendes ofereço rosas.



O Encontro



Como se um raio mordesse

meu corpo pêro rosado

e o namorado viesse

ou em vez do namorado

um novilho atravessasse

meus flancos de seda branca

e o trajecto me deixasse

uma açucena na anca

como se eu apenas fosse

o efeito de um feitiço

um astro me desse um couce

e eu não sofresse com isso

como se eu já existisse

antes do sol e da lua

e se a morte me despisse

eu não me sentisse nua

como se deus cá em baixo

fosse um cigano moreno

como se deus fosse macho

e as minhas coxas de feno

como se alguém dos espaços

me desse o nome de flor

ou me deixasse nos braços

este cordeiro de amor



Crucificação



Vertical sou contra Deus

Horizontal a favor.

Nesta cruz me crucifico

Vertical com desespero

Horizontal com amor.



A Defesa do Poeta



Senhores jurados sou um poeta

um multipétalo uivo um defeito

e ando com uma camisa de vento

ao contrário do esqueleto

Sou um vestíbulo do impossível um lápis

de armazenado espanto e por fim

com a paciência dos versos

espero viver dentro de mim

Sou em código o azul de todos

(curtido couro de cicatrizes)

uma avaria cantante

na maquineta dos felizes

Senhores banqueiros sois a cidade

o vosso enfarte serei

não há cidade sem o parque

do sono que vos roubei

Senhores professores que puseste

a prémio minha rara edição

de raptar-me em crianças que salvo

do incêndio da vossa lição

Senhores tiranos que do baralho

de em pó volverdes sois os reis

sou um poeta jogo-me aos dados

ganho as paisagens que não vereis

Senhores heróis até aos dentes

puro exercício de ninguém

minha cobardia é esperar-vos

umas estrofes mais além

Senhores três quatro cinco e sete

que medo vos pôs na ordem ?

que pavor fechou o leque

da vossa diferença enquanto homem ?

Senhores juízes que não molhais

a pena na tinta da natureza

não apedrejeis meu pássaro

sem que ele cante minha defesa

Sou uma impudência a mesa posta

de um verso onde o possa escrever

ó subalimentados do sonho !

a poesia é para comer.



Sinais Que No Amor Se Adiantam



No teu olhar se esfuma e desvanece

A cidade onde o corpo por enquanto é preciso.

É quando a outra face do luar aparece

E o balir das ovelhas tem o som do meu riso.

Para tapar meu seio já nenhum astro tece

A roupa com que outrora saí do paraíso.

O pudor é da terra. Só por isso anoitece

E a nudez dos amantes é não darem por isso.

A semente do filho que em nós amadurece

Trouxe-a no bico a pomba que o seu reino prepara.

Por isso na cidade já ninguém nos conhece

Pois que ambos trazemos esse filho na cara.





Obs - Optamos por manter a ortografia portuguesa em todos os poemas.







Fonte e Pesquisa:

- Sites:

http://www.ipn.pt/literatura/natalia.htm

http://members.tripod.com/migo1/aut_natalia.html

http://www.instituto-camoes.pt/cvc/poemasemana/13/natal2.html

http://www.laurapoesias.com/poetas/natalia_correia_biog.htm



Fernanda Guimarães





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