Gastura de amô
Sylvia Abrahão
Noite alta, fui pros lados do arraiá,
Mode acha Mimosa, pro seu fio alimenta.
Era um fio forte, cor bonita, de até se dimirá
O luá, num judava, não sinhô
Fio de lua nova, e argumas estrelas de poco valô
No caminho, sozinho, garrei pensá no meu amô.
coração apinhado de sodade, querendo vê minha frô.
Mas homem é bicho esquisito meu Deus
mudei rumo da minha procura,
em conta da minha gastura
fui em busca dos óio teu.
No primeiro ataio, relva moiada,
vi vurto de muié no caminho meu,
de branco, peito arfante, despenteada.
Aparei no corpo essa muié cansada,
A lua se apagô,
e foi ali memo qui fizemo amô.
Sem nenhuma palavra, num precisava,
na dança do amô, vimo que nois se amava.
E ficamo assim, corpo enrolado, moiado,
Amô selado
Que até hoje não se acabô.
Do nosso lado, Joãozinho e Zé,
na nossa chopana de sapé.
|