Usina de Letras
Usina de Letras
215 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62236 )

Cartas ( 21334)

Contos (13263)

Cordel (10450)

Cronicas (22537)

Discursos (3239)

Ensaios - (10367)

Erótico (13570)

Frases (50631)

Humor (20031)

Infantil (5434)

Infanto Juvenil (4768)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140806)

Redação (3307)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6191)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Artigos-->Olhos Sangrentos - 8 -- 06/07/2002 - 01:49 (Adriana Falqueto Lemos) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Hildegard abriu seus olhos, e mesmo que tentasse enxergar, sua visão estava totalmente turva, seu estômago parecia explodir de dentro para fora. Os lábios mordiscados deixavam cair gotas sangue, se perdendo nos lençóis, muito pequeninas. Um gosto de bile tomava sua garganta, e parecia querer regurgitar o próprio sangue, o estômago, as entranhas. O menino estava com medo, mas não conseguia chamar ninguém, murmurava alardes pequenos, sussurros inaudíveis, e se arrastava pela cama, para chegar até o chão.

Após puxar alguns lençóis, ele caiu, deslizando pesadamente e batendo o corpinho de encontro ao tapete e o piso de madeira negra, encerada. Seus cabelos cobriram seu rosto, e a boca, que tinha batido na mão, na hora da queda, estava sangrando ainda mais. Parecia carcomida. Ele teria mordiscado durante o sono.

- Fátima... -Ele disse baixinho, era realmente a única palavra que conseguiria dizer naquele estado. A doce e adorada Fátima, pudera ela escutar aquele gemido, de onde estivesse. Sua amabilidade o ajudaria. - Fátima... -Hildegard não estava mais suportando a dor que lhe corroia o ventre, sua cabeça estava parecendo explodir, um estado febril.

A porta se abriu, mas o menino não conseguia enxerga-la, porque mesmo que seus olhos lhe dissessem o que havia lá, sua mente estava em total pânico, nunca havia ficado tanto tempo sem ter alimento, começava a tremer quando o piso rangia, aos passos.

- Hildegard! -Fátima o segurou, fazendo-o se levantar. Depois, cuidadosamente sentou-se na cama, entre os lençóis chafurdados, e o colocou sobre seu colo. Cabia perfeitamente, um menino frágil e doce, que logo se aconchegou em seus braços. -... O que Lady Marrieh fez contigo agora... -Ela o afagava no rosto, sentindo os lábios sujos de sangue.

- Fá... -Ele disse num suspiro sôfrego, estava sem energias para qualquer palavra completa, e soou carinhosamente. Seus olhos semi-cerrados, a fitavam como se estivesse muito distante, ele parecia adormecer de segundo em segundo.

- Oh,... Não... -Ela o trouxe junto ao peito, com zelo e cuidado. Amava aquele menino, por todas as vezes que teve de cuidar durante as noites, durante os invernos prolongados. Gostava dele, verdadeiramente. Mesmo que servir Marrieh fosse uma tortura, amar Hildegard era sua salvação, porque encontrava um anjo perdido em seus olhos negros e doces com um ônix. A pele branquinha de neve, e a meiguice infantil, a tinham conquistado eternamente. Estava velha, tinha seus filhos criados, mas Hildegard nem pareceu crescer naqueles dez anos de convívio. O havia criado, era essa a palavra, e era seu filho de braços... E Hildegard sentia isso, muito forte. Ali nos braços de Fátima, a sua ama, sentia-se amado e querido, mesmo que isso ainda fosse-lhe tão distante. Não tinha forças para abraça-la, mas desejava um pouco desse calor do amor, que vinha dela, porque estava se esvaindo.

- ... -Hildegard nem mesmo respirava direito quando sentiu o corpo queimando, sua visão voltava gradativamente, e pouco a pouco ele enxergava o rosto amável de Fátima, suas bochechas rosadas e meigas, seus cabelos grisalhos e arrumados em cachos. -Ama... -Ele sorriu sem forças, franzindo o cenho com as sobrancelhas se unindo.

- Minha criança... Graças a Deus... -Ela o trouxe ainda mais para perto, com todo o carinho, segurando-o e colocando com a cabeça no seu ombro, para que ficasse mais confortável. Entendia que ele não conseguia se erguer sozinho ainda. -Diga-me o que quer comer... Eu trarei.

- Mamãe não deixa... Ela disse que... -Hildegard formulava as palavras e frases, mas não conseguia acumular fôlego para dizê-las de uma só vez. Arfava um pouco, se poupando, sentia-se melhor enquanto junto ao corpo quente de Fátima.

- Está se sentindo melhor, meu anjo? -Ela perguntou, sentindo o corpo fraco do menino se esquentando gradativamente.

- Sim... -Hildegard sentia-se absorvendo calor de si próprio, sentia o calor, o calor de Fátima, o cheiro de Fátima... O sabor do sangue de Fátima. Como antes na sala, queria que estivesse longe. -Fátima... Me... -Ele desejava que ela se fosse dali naquele momento, ele a amava demais para querer-lhe algum mal, mas ao mesmo tempo sentia-se impelido a aperta-la e deixar o sangue brotar dos lábios.

- O que... Fale, anjinho... -Ela sorriu, passando a mão pelos cabelos perfumados dele, que se desfaziam e se uniam em cachos longos e sedosos, negros.

Por um momento Fátima parou de deslizar a mão pelos cabelos de seu senhor, golfou e de seus lábios escorreu um pouco de vômito, despejado pelo estômago. De seus olhos apenas lágrimas sinceras, pelas narinas o último suspiro. A mão pequenina de Hildegard perfurou-lhe as costas, tomando entre os dedos os rins da mulher que lhe estava mimando no colo. Espatifando-o e sentindo pequenos nervos entre os dedos, ele subiu de encontro a vertebral, arrastando cada disco que a formava. A pele e a carne se misturavam, Hildegard enterrava o punho no corpo da ama, manchando e arregaçando a manga da camisa de seda branca. A mulher pendeu para o lado, caindo debruçada na cama, as costas estavam quase completamente abertas, aos poucos os próprios ossos iam se desprendendo e deixando de ser uma caixa rija. O pequeno baixou a cabeça e bebeu do sangue que se misturava dentro da cova que havia se formado inicialmente, por sua mãozinha, e arrancava com as mãos o fígado. Levou-o à boca, beijando-o e chupando até que engoliu inteiro. Seu rosto era frio, a boca infantil estava repleta de sangue bruto, e cobria parte do nariz, pela tamanha vontade de sugar o sangue que explodia do estômago e as artérias. Após lamber os dedos, chupa-los até o encontro da palma de suas mãozinhas, e então sentir seu estômago inflado, tossiu, quase vomitando. A tristeza irrompia de seus olhos, de seu rosto, as sobrancelhas unidas, o cenho franzido, as vistas ardiam em mácula. Com a mão ainda imunda de sangue tentou limpar as lágrimas que começavam a ceder quentes em seu rosto, e soluçava energicamente, o horror daquilo tudo estava o deixando com o coração acelerado, respirando forte e tossindo inebriado de dor. Estava tremendo e ainda febril, inconscientemente se ergueu, correndo até a janela e escondendo seu rosto daquela visão da cena, se escondendo apenas, refugiando-se. Agachou-se no chão, de joelhos, e tampou os olhos usando as mãozinhas, sangue entre suas unhas, na boca, na língua pequena. A garganta estava queimando, liberava aos pouquinhos um silvo infantil e choroso, carregado de peso da pouca voz, amargada. Estava salivando, mal conseguia emitir som, o choro era tão doloroso que nem mesmo era expulso, pregava em seu peito cada gemido e pensamento que passava em sua mente.



O tempo passou, mas ele não sabia nem mesmo quanto, mas já era noite quando conseguiu abrir os olhos e observar a vista, lá fora, pelos vidros grossos da janela. Estava um pouco frio, seu nariz estava doendo pelo acúmulo de líquido, a cabecinha parecia latejar como se atingida irremediavelmente. Seus olhos ainda liberavam lágrimas quando se fechavam, mas ele conseguia se erguer. Usou da manga imunda de sangue, agora morto, para limpar o rosto e fungar um pouco. Não queria se virar e ver Fátima na cama, era o que menos queria enxergar, sentir... Mas tinha que fazer algo, simplesmente foi virando-se, devagar. A cada centímetro que suas vistas alcançavam, seu coração pulsava pior em seu peito, a aflição era imensa. Ainda esperava que o corpo não estivesse lá, infantilmente ele poderia ter sido tragado para o seu imaginário. Infelizmente não. A cama estava tomada de sangue, os tecidos haviam absorvido-o enquanto era liberado do corpo de Fátima, e ela parecia se desmantelar enquanto os ossos se afrouxavam, para os lados.

Hildegard escutou a maçaneta da porta estalar e a mesma se abrir num rangido característico. Seu coração palpitou apressado, seus olhos inquietos, ele não sabia o que deveria fazer, levou as mãos por sobre a boca, quieto e em puro pavor.

A porta se abriu e Marrieh, que o fizera, foi recebida com a visão do corpo de Fátima, e em seguida com o olhar aflito de Hildegard, uma mistura de medo, pavor e culpa.

- ... - Marrieh continuava séria, seus olhos verdes translúcidos, quase refletiam Hildegard, do outro lado da cama.

- Mamãe... -Hildegard soluçou, sentindo a cabeça a ponto de explodir de dor.

- Eu te odeio, criança... Como podes fazer isto?! -Marrieh compreendia perfeitamente a natureza daquilo tudo, a falta de comida o havia deixado ceder a pior parte que havia dentro de si, e não simplesmente o poder que ela tanto almejava, quando quis Hildegard, agora estava embebido em atos profanos. Se Hildegard poderia fazer aquilo com Fátima, ela não seria empecilho. Realmente, a chegada do Senhor Ádague seria em boa hora.

Hildegard respirou fundo, mal conseguia olhar nos olhos da senhora, enquanto esta parecia pensar numa eternidade. Assustou-se até quando ouviu a voz gelada:

- Limpe esse quarto até que meu convidado chegue. -Disse ela, dando as costas e saindo do quarto. Antes que fechasse a porta Hildegard tentou dizer algo, mas não deveria contrariar sua mãe. E não deveria realmente, e nem mesmo precisava. Prontamente foi até a cama, enrolando sua ama nos lençóis, sentia todo o peso do corpo da mulher pressionando as mãozinhas e inflando os tecidos com sangue, e quando já estava todo enrolado, carinhosamente, Hildegard começou a puxar para que caísse no chão. Segurou as pontas dos tecidos e jogou seu corpo para trás, fazendo um contrapeso pequeno, mas suficiente para o corpo despencar e bater de encontro ao piso. A cama estava um pouco suja ainda, mesmo sem todos os lençóis que a cobriam anteriormente, o sangue devia ter cedido através das camadas e alcançado o colchão.

Hildegard continuou puxando com toda a força que possuía, arrastando o embrulho até o canto do cômodo, onde havia uma passagem embutida, que dava acesso ao forro contra o frio externo. Era uma espécie de aquecedor, um corredor que revestia as paredes da Mansão, e que se interligava como uma grande teia. Ali Hildegard guardava rosas que Fátima lhe dava, já que não havia flores no jardim e nem mesmo na casa... Agora o corpo dela própria estava esmagando as flores antes cuidadosamente poupadas. Ele empurrou até que se acomodasse perfeitamente, um pouco estreito e amassado, mas após fechar a portinhola a situação estava sanada. O menino queria estar limpo, mas Fátima era quem o banhava...

- Fátima... -Disse Hildegard, tentando não chorar novamente, mas sentia os olhos quentes e se desmanchando em lágrimas, infantilmente esfregou-os, fazendo-se parar e se punido de novo, porque? Era mesmo um diabo como as pessoas na cozinha falavam? O que acontecia afinal, porque atacou aquela mulher, porque... -Fá... -Deu as costas, indo até o guarda roupas que havia atrás da cama, estava repleto de peças de todas as cores escuras que sua mãe comprou. Roupas de cama também, mas muito altas no armário superior. Como tirar aquele sangue... -Mãe... -Disse ele baixinho, esperando que a mãe escutasse, afinal ela deveria ainda estar perto.

Nada, nenhuma resposta ou som, foi preciso que ele caminhasse até a porta e girasse a maçaneta com ambas as mãos, olhando por uma fresta, afinal se fosse visto daquele jeito por algum empregado a mãe certamente não perdoaria... Finalmente, ela estava vindo do fim do corredor, caminhando rapidamente, movia os braços enérgica. Hildegard iria esperar que ela chegasse e então falaria, mas não suportou vê-la diretamente e preferiu se voltar, sentando-se no colchão puro. Marrieh abriu a porta de supetão, tirando a calma do pequeno.

- Está imundo. -Nem mesmo havia comentado o fato de Hildegard ter a disciplina com o que ela havia pedido anteriormente, antes de sair do quarto.

- Mamãe... Por favor, me ajude... -Hildegard, criado por Fátima, não fazia idéia de como simplesmente arrumar uma tina na cozinha, água quente, roupas, e... O sangue que havia em suas roupas, apesar de morto, ainda era aparente demais para que pudesse simplesmente perambular pela mansão.

- Venha. -Marrieh o pegou rapidamente pelo punho, o arrastando no corredor até a sala de banho, onde havia uma banheira branca e muito ampla. Hildegard caminhava tropeço, olhando o lugar onde nunca tinha estado,afinal somente sua mãe deveria estar se banhando naquele lugar. Quando ela parou de andar, fechou a porta e o deixou parar por si próprio, indo de encontro à parede. Estava mesmo andando como uma louca. -Tire as roupas.

- ... -Hildegard nunca tinha ficado nu, efetivamente, diante de sua mãe. Fátima tirava suas roupas, os panos de baixo e passava a água em seu corpo cuidadosamente, ele a ajudava e ambos brincavam com a água. A tristeza retornou novamente, lembrar de Fátima fez seus olhos se encherem de lágrimas, mas se Marrieh o visse chorar, bateria em seu rosto... Confuso, Hildegard nem se deu conta de quando começou a tremer.

- Tire essas roupas imundas, seu moleque infeliz... -Marrieh cruzou os braços, teria que banhar aquele demônio e sua impaciência com tal fato só fazia crescer a irritação.

Hildegard levou as mãozinhas aos botões do colete e nervosamente desabotoou um, era lento e estava nervoso, sabia que qualquer passo em falso deixaria sua mãe irritada, e ela cairia furiosamente contra ele. Infelizmente começou a ficar estressado enquanto desatava as calças, demorando-se e refazendo os mesmos movimentos indecisos, Marrieh se abaixou rápido e o agarrou pela amarra, desatando fervorosamente, depois passou os dedos pelos botões da camisa, e arrancou pelo corpo frágil do filho, que até se avermelhava com os movimentos bruscos. Hildegard respirava rápido, estava constrangido e preso, mal conseguia se mover enquanto a mulher retirava as peças, estava ficando nu e incrivelmente com frio, seu corpo frágil e interte ganhava o ar que ficava contido no lugar. Assim que ela tirou a amarra da roupa de baixo, puxou, fazendo sair do corpo de Hildegard como se descolasse sua própria pele, era uma espécie de calça larga e branca que ela fez questão de arrancar sem aviso. Foi o suficiente pare que ele caísse no chão, batendo as costas delicadas no piso de mármore.

- Aih! -Hildegard sentiu uma dor aguda no ombro, mas não teve tempo de se mover, sendo pego pelo braço e jogado dentro da banheira. Marrieh abriu a torneira rapidamente, fazendo a água cair dentro e encher devagar. O menino estava imóvel, a água avançava cada vez mais, devia estar gelada como a água do rio. -Mamãe... -Disse ele, colocando a mãozinha na borda da cerâmica, poderia morrer congelado com uma água tão gelada, ali estava como naturalmente lá fora. -Por favor,... Não... Tenha piedade! -Dizia aquilo com toda a força que podia ter, clamando um pouco de pena. Seus olhos aflitos teimavam seduzir alguma compaixão, mas Marrieh não disse nada, nem mesmo olhou em seu rosto.

- Não seja covarde como seu pai! Ande! -Marrieh segurou em seu pescoço fino, fazendo-o ceder cada vez mais na água, até sentir os pés se molhando, a banheira estava se enchendo mais rapidamente, a água, antes congelada no cano, agora ganhava mais força.

- Não! Por favor,... -Disse chorosamente, mal sentia os pés enquanto se fundiam à água gélida. Tentava pedir, e sabia que era inútil, uma coisa como aquelas era corriqueira como respirar, e Fátima o livrava daquilo tudo, e agora ela estava morta. A água subia pelas pernas, a cintura, seu corpo parecia se partir, a pele formigava incrivelmente. Era tão frio que parecia quente, como um ferro de marcar gado. Marrieh o manteve no domínio, como se ele pudesse fazer algo com tão pouca força, e em posse de um sabonete, passou a esfregar nervosamente pela pele de Hildegard, deixando algumas marcas, marcas da força exagerada que estava usando. Por fim deixou-o imerso por algum tempo, afogando sua cabeça direto na água.

Hildegard chorava intensamente, suas lágrimas desapareciam na água e percorriam seu rosto, avermelhado com a intensidade do frio, parecendo se quebrar em pequenas partículas, espalhando por aí... Seus cabelos nem eram mais aqueles anéis tão vistosos, se misturavam todos pelo rosto, alguns entravam pela boca, o fazendo engasgar junto com cada mergulho repentino forçado por Marrieh. Quando pensou que não pudesse mais suportar, foi retirado de uma só vez, recebendo uma grossa toalha branca, que foi jogada sobre a cabeça e o corpo, até a cintura. Sentia-se mal, seu corpo estava um pouco tonto, e ela esfregava a toalha com força em sua pele, no seu sexo, machucando um pouco. Pelo rosto, pelos cabelos. Hildegard não conseguia se situar e nem se mover, ela o deixou só no lugar, saindo para pegar algumas roupas.

O corpo de Hildegard parecia arder como nunca, sua pele, antes alva e imaculada,agora estava avermelhada como um morango, o frio havia corroído mais um pouco seus lábios e as pontas de seus dedos estavam sem tato, dos pés e das mãos, o nariz, as orelhas, seu sexo infantil parecia a pior tortura, machucado pelo gelo. Queria chorar, mas estava esgotado, antes que se desse conta, sua mãe estava de volta com roupas nas mãos e a escova sobre elas. Algo dizia dentro dele, que fizesse algo, mas não deixasse-a escovar seus cabelos, mas inútil, porque a imobilidade tomava cada vez mais conta de seu corpo. O olhar de Marrieh, tão verde como uma esmeralda, se infiltrava dentro do coração dele, captando suas vibrações, extraindo-as e demonstrando a todo o momento que sabia o que ele estava sentindo. Sem qualquer palavra, o trouxe pra perto de si, segurando a escova com firmeza e a passando pelos fios entrelaçados dos cabelos do filho, com toda a força, arrancava alguns deles. Hildegard apertava as mãozinhas na borda da banheira, sem se agüentar, a cabeça era puxada pra trás com violência. Até que seu cabelos ondulados não se assentassem ela não parou os movimentos, seguindo de um empurrão, para que se virasse e ela colocasse as roupas, na mesma intolerância com que tirou. Hildegard cambaleou, sentindo o corpo formigando intensamente, estava um pouco tonto com toda aquela situação, que finalmente terminou, assim que sentiu o braço puxado para fora do lugar, chegou a cair no chão quando ela o soltou. O impacto foi fraco, amenizado com o braço que o apoiou. Marrieh trancou a porta e continuou pelo corredor, caminhando firme como um marchar de um soldado.

Os olhos de Hildegard fitaram o chão, refletindo a tapeçaria vermelha trabalhada do qual era forrado o piso. As mãos deslizaram, e ele se apoiou para levantar, isso pareceu levar uma eternidade. Após se erguer, foi caminhando pesaroso até a escada, onde desceu com lentidão. Apoiando-se no corrimão da mesma, seguiu até o térreo, indo na direção da cozinha. A cozinheira obesa misturava algo numa panela grande enquanto a copeira arrumava alguns pratos de porcelana.

- Bem... -Disse o menino baixinho, o suficiente para que ambas se virassem em prontidão. Segurava no batente da porta, feito de madeira lisa e trabalhada. -Queria que uma de vocês colocasse, por favor, uma roupa de cama no meu quarto. -Disse fraquinho, do jeito tão meigo que agia.

- Claro, jovem Treifforthine. -Disse a copeira, enxugando as mãos no avental e passando pela porta, encaminhando-se na direção das escadas. Hildegard observava pela janela enquanto a mulher subia degrau por degrau, e ele escutava os sons mórbidos ecoando no silêncio.

A mulher que cozinhava parou, mas não lhe deu atenção alguma. Abriu a porta que dava acesso aos aposentos dos criados e a fechou, deixando-o só. O fato de Fátima não estar mais ali também significava isso, a solidão que ele nunca sentira antes.

Hildegard pensou em sair dali e caminhar, mas a casa era enfadonha e não lhe restava canto algum que não tivesse sido visitado. Segurou aflitivamente o batente, lembrando da doce imagem de Fátima, e a última visão de seu corpo, e respirando fundo. Em meio a tantos pensamentos se distraiu, quando escutou o som de uma carruagem se aproximando. Lentamente foi até a janela, removendo a cortina grossa que pesava sobre os vidros, e viu do alto da colina, descendo a estrada coberta de neve, uma carruagem negra com corcéis brancos, dois deles. Seu olhar era um tanto calmo agora, e pensativo, afinal em alguns meses não havia pessoas que os viessem visitar, o inverno vigoroso fazia com que ficassem em suas casas. Muito rapidamente os cavalos trouxeram o móvel, e não demorou que se aproximassem realmente da casa. Ali não era o lugar dele, rapidamente deixou a cortina cair e subiu correndo as escadas, indo para o quarto.

Chegando no corredor, seguiu até o aposento, abrindo a porta com leveza. A copeira já alisava a última colcha em cima das outras, e caminhava até a outra borda da cama, na cabeceira, afofando os travesseiros. Hildegard sabia o nome daquela moça, era filha de Fátima, mas diferente da mãe, o olhava com outros olhos. Anne era uma moça sorrateira, cabelos castanhos longos, presos num lenço branco por sobre a cabeça, vestia um uniforme azul assim como a cozinheira.

- Anne, obrigado. -Disse ele, deixando a porta aberta e a observando longamente, enquanto parecia se prolongar naquilo. Logo que achou a protelação evidente, deu a volta na cama e atravessou por trás de Hildegard, saindo e fechando a porta.



<>
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui