Havia um homem que conversava com paredes, não gostava muito de redes.
Capturava insetos. Não gostava de gestos maquinalmente elaborados.
Havia um homem que pecava. Achava-se socrático (e talvez esse seu acerto).
Pensava nos astros, na mente alheia, estado de coisas, organização social. Havia um homem que passava mal diante disso, mas não fez muita coisa. Achou-se poeta e disse etecétera, e não gostou.
Enclausurou-se entre dedos, enquanto a cabeça se descolou do corpo e sepultou-se além da atmosfera.
Esse homem, que se achava socrático e poeta, não mais com a cabeça chorava. Chorava com a chuva e imaginava tempestades lunares.
O nosso homem gostava muito de balões, porque sua cabeça virara um balão visitando outros mundos, e seu corpo decompunha-se lentamente.
Restava-lhe o sal. Sim, o sal lhe estancaria a degenerescência da qual a sua cabeça estava a salvo no espaço sideral.
O homem comia outros animais. É. Quando criança, o homem se perguntara
por que teria de ser assim.
Do mar viria o sal, e o homem foi ao mar, e temia as ondas.
Imaginemos que a cabeça do homem já estivesse fora dele desde então.
A criança-homem tinha uma obsessão por estabelecer conexões de significados.
O homem era fascinado por peixes, peixinhos, e os tais caranguejos.
Ah... Como eles povoaram o sonho do homem e ele a não saber o porquê disso.
Depois pensou: os matava para comer. O homem ainda não se entristecia disso.
O homem relegara seu equilíbrio às estrelas, mas tinha medo de altura.
Mesmo com medo, o homem pensara em montes.
O homem foi aos montes, pensando em ficar mais próximo de seus pensamentos. Disseram-lhe: "o ar das montanhas é maravilhoso para o pensamento".
O homem não achou isso e sentiu-se só no alto do monte.
Viu tudo que já haviam visto e pensou tudo o que já haviam pensado.
Descobriu o homem que a solidão o perseguia, e que sua cabeça já havia
se libertado disso.
Restava-lhe um corpo em lenta degenerescência.
Pensava o homem: ainda sou digno dos meus primeiros pensamentos?
Por que a minha face é agora a face do mundo, enquanto a minha cabeça vagava pela galáxia, tão acompanhada dos astros silentes.
O homem chorou no alto da montanha e pensou em morrer.
Passava sua cabeça pelas luas de júpiter, então o homem resolveu esquecer-se.