Não faço poesia, não faço epopéia,
Muito menos, prosopopéia;
Faço verso e alguma rima,
Depois de feito, olho o efeito,
Tiro o defeito, passando a lima;
Caminhando em sua trilha,
Meio acanhado, meio sem jeito,
Meu verso brilha.
Que maravilha!
Não há, no meu verso, “erosdição”,
Mas não é recatado, é sem-vergonha,
Gosta de ser livre, diz palavrão,
Fere o ouvido da erudição,
É, para o sensível, coisa medonha.
E vai em frente, ousadamente,
Quem se lhe opor atrevidamente,
Meu verso desafia, tenho dito.
Que bonito!
Meu verso não é modernista,
Cubista e não é Dadá,
É deveras quadrado, não gagá,
Está mais para o cordelista,
Sonho do simplório artista,
Artista do versinho popular.
Meu verso conforma-se na bitola
Onde a palavra livre deita e rola,
Já que ele não pode ser Quintana.
Que sacana!
Não exijam do meu verso
Que alcance o cósmico universo,
Deixem ele quieto a meditar,
Curtindo a doce liberdade,
Cantando a dor e a saudade,
O amor que foi e não mais virá.
Se a rima não é conta matemática
E pouco se lixa pra gramática,
Por que proibir do verso essa viagem?
Que bobagem!
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