Minha saudade está dormindo
Osmar Barbosa
Silêncio, coração!
Minha saudade está dormindo...
Minha saudade está dormindo
depois de tanto divagar
por longas vias cansativas,
por longo tempo, sem parar.
Minha saudade agora sonha
com minha infância à beira-mar,
com meus folguedos prediletos,
com as doces coisas de meu lar.
Sonha com minha adolescência,
com minha vida de escolar,
com a primeira namorada
das lindas noites de luar.
Silêncio, coração!
Minha saudade está dormindo...
Minha saudade está dormindo,
entregue a manso ressonar,
Que fique assim, serenamente.;
ela não pode despertar.
Sonha com minhas aventuras,
com meu constante doidejar.
Não venha, pois, abrir, meus olhos
para o que sempre os quis fechar.
Por ilusões ei-la embalada,
canções ouvindo a palpitar,
revendo as horas mais felizes
que nunca mais hão de voltar.
Agora não, coração!
Acorda-a mais adiante
para que minha alma errante
não se queixe e nem padeça.
Coração cheio de rimas,
sino da fatalidade,
acorda a minha saudade
quando a geada dos anos
cobrir a minha cabeça.
(E há tanto sonho a florir...)
Silêncio, meu coração!
Deixa a saudade dormir.
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