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Contos-->E clips -- 15/10/2000 - 18:11 (Samuel Ramos) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
- Hierarquias foram feitas para serem respeitadas, não é?

Ele era uma criatura ímpar, cabelo cheio de gel barato e gorduroso, por nós chamado às escondidas de pônei, tanto pela franja longa e caída quanto pelo odor que ele exalava, somente comparado a um baixeiro de cavalo. "Deixa Chico, na academia não ensinavam asseio pessoal, apenas lavar dinheiro", era o que dizia sempre o seu Zé, encarregado da limpeza.

Os anos de ensino na academia e na pós-gradução o ensinaram a ser um célebre economista, além de arrogante, embora essa fosse, creio eu, uma disciplina optativa. Tudo deveria estar organizado sobre as mesas, de modo que um papel fora de lugar poderia nos custar o sonhado emprego público. Sabíamos que em breve uma empresa multinacional absorveria o controle da mesma, graças, é lógico, ao noticiário da noite. As manchetes sempre falavam em sucateamento, ineficácia e déficit. A nós isso era indiferente. Parafraseando Aderbal Elesbão, "a droga era farta e as mulheres fáceis". A droga era o café, as mulheres, bem, estas não são dignas de nota, quem tivesse coragem de encarar aqueles cramulhões certamente seria considerado macho, no sentido literal da palavra. Nosso chefe, em busca da possível promoção quando da venda da Estatal, planejava para que tudo ficasse no lugar. Mal sabia ele que o destino reservava aos imbecis a maior soma de dinheiro. "Dãããã e um sorvete na testa para todos nós" seria o nome do novo workshop.

Como bom economista que era, ele via ao mundo como uma moeda, e nós, fiéis asseclas do liberalismo eqüino, também acabávamos por conceber uma divisão mercantilizada do mundo, os dois lados de uma moeda cultural mundana.

Pois aí veio ele, o solstício. E estava programado um clipes, exclispse, ah, sei lá, naquele tempo eu não saberia descrever ao certo, pois em meu manual do telecurso liberalista do PFL faltava justamente aquela lição, o que me levou a cogitar a hipótese de, tão breve eu fosse poderoso, demitir todos os funcionários ignorantes da produção.

O clipes juntou os dois como ao sol e lua, e papéis de duas cores tiveram suas hierarquias quebradas. Um amarelo e outro verde, a primeira e a segunda via. E o mesmo clipes que um dia tapara o sol com a peneira e que fora também arremessado com uma borrachinha nas nádegas de uma professora de escola pública, acabara com a hierarquia.

Meu chefe, atento aos menores movimentos, percebeu de pronto a barbárie: dois papéis de fins diferentes presos por um clipes. Realmente juntar o sol e a lua não era para mim. Peguei os papéis, tirei o clipes e fui embora mais cedo naquele dia, mas não sem antes passar no setor de produção para verificar os novos manuais que estavam sendo impressos.

Se o escritório estivesse sob o controle da iniciativa privada, estaria informatizado e não haveria necessidade desse tipo de papel. E já que a corda arrebenta do lado mais fraco, azar é do enforcado. Essa frase deveria estar no manual. Da próxima vez pediremos ao Toninho Malvadeza para revisar.
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