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Textos_Religiosos-->AREJANDO A MENTE -- 27/02/2005 - 15:56 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
WLADIMIR OLIVIER







AREJANDO
A
MENTE




Turma do Despertar Consciencial





Edição da CASA DO MÉDIUM

Rua Cinco de Julho, 1184
Indaiatuba — SP





ÍNDICE


Nota explicativa ....................................
Preparação ..........................................
Observações ....................................
1. Palavras de muito amor ..............................
2. Auxílio oportuno ....................................
3. A fuga ..............................................
Comentário .....................................
4. Um espírito arrependido .............................
Explicações ....................................
5. Paranóia ............................................
Comentário .....................................
6. Mensagem de amor ....................................
Comentário .....................................
7. Eventos perigosos ...................................
Comentário .....................................
8. Sofrimento insopitável ..............................
Comentário .....................................
9. Força de vontade ....................................
10. Alienação ...........................................
11. Ao médium, com amor .................................
12. Sublime alegria .....................................
13. Uma aula prática ....................................
14. Uma lição divertida .................................
15. Segundo tempo .......................................
16. Trabalho honesto ....................................
17. Papo furado .........................................
18. O rio Jordão ........................................
19. Desanuviando ........................................
20. A hora presente .....................................
21. De graça ............................................
22. Um tiro pela culatra ................................
Comentário .....................................
23. Sacratíssima comunicação ............................
24. O bem ...............................................
Comentário .....................................
25. Apelo bem direcionado ...............................
26. Na hora da decisão ..................................
27. Bem-aventurança .....................................
28. A grande pescaria ...................................
29. Palavras especiais ..................................
30. Derradeira página ...................................







NOTA EXPLICATIVA






Nossa Turma do Despertar Consciencial hesitou muito antes de adotar, em definitivo, tal designação. Para que haja compreensão das razões que nos levaram a aceitá-la, haverá o amigo leitor de perlustrar as mensagens, em especial as que foram elaboradas pelos amigos sofredores convidados a partilhar dos trabalhos, na qualidade de fontes de informação para os encarnados, ilustrando com proficiência a parte teórica.
Não temos muito a acrescentar, já que as idéias essenciais se desenvolverão gradativamente no bojo das comunicações. Sendo assim, resta-nos agradecer a todos a atenção e aos mestres da Escolinha de Evangelização a administração valiosíssima dos conhecimentos relativos à parte da mediunização, à qual estávamos totalmente alheios, tanto tempo fazia que praticávamos o mister de socorristas de primeira hora.
Que Deus nos ampare a todos!


Cumpre ao médium revelar o período dos ditados: de 9.7 a 6.8.92, mantendo a publicação rigorosa ordem cronológica.
Não havendo o grupo oferecido pistas relativas ao conteúdo dos textos, advertimos o leitor que se prepare para algumas informações contundentes, no sentido das mudanças mentais que lhe serão pleiteadas, tendo em vista os depoimentos vigorosos dos irmãos sofredores. Para cada relato, contudo, são juntados comentários esclarecedores, permanecendo resguardado o caráter didático da obra.
Não avançaremos daqui nestas anotações, em respeito à deliberação de silêncio do grupo, o qual, aliás, conseguiu transmissões absolutamente tranqüilas e extremamente velozes, por meio da datilografia.
Abençoe o Senhor mais este nosso empreendimento!







PREPARAÇÃO





A equipe que ora se aproxima para a imantação e transmissão de seus comunicados não está afeita ao trabalho mediúnico. Portanto, é com muito cuidado que iremos dando os recados iniciais, para não nos assustarmos ainda mais que ao caro auxiliar escrevente.
Se for preciso paciência, pode contar conosco, pois somos grupo formado por espíritos treinados no socorrismo a sofredores bastante atrasados, os quais vamos buscar no âmago do báratro. Sendo assim, é possível que destinemos parte da ocupação para a doutrinação a que nos habituamos, trazendo alguns assistidos mais calmos, para serem alertados a respeito de sua imprevidência. Nada que não tenha sido experimentado pelo escrevente.
Para o dia de hoje, este treinamento básico está a nos parecer muito propício para a elaboração dos primeiros conceitos a respeito do trabalho que se seguirá. Pelo que estamos podendo observar, os pensamentos, sob forma de vibração fluídica, vão sendo traduzidos e transformados em palavras, que se reúnem de forma bem equilibrada, dado que temos o domínio da linguagem que se expressa graficamente. Nem sempre consta de nosso acervo o vocábulo, mas, para a decifração dos que desconhecemos, temos a ajuda dos professores, que nos instruem no instante mesmo em que nos manifestamos indecisos.
Gratos estamos, desde já, a todos os que vão dando a sua contribuição para o bom desempenho da turma, especialmente ao médium. Gostaríamos de efetuar algo de proveito para outras pessoas, para podermos estender os agradecimentos a quantos leitores forem conquistados para os nossos textos. Ficaremos na expectativa das soluções que os membros do grupo irão conseguindo para os problemas que nos forem sendo colocados pelos mestres, já que tudo o que estamos fazendo não deixará de ser mero trabalho escolar, pois o objetivo maior a que visamos é o aprendizado das técnicas da mediunização, uma vez que a nossa formação de socorristas está a exigir aperfeiçoamento no trato com os encarnados. Se todos com quem estabelecermos contacto estiverem igualmente aptos a receberem os recados, como está sendo esta introdução, ficaremos extremamente satisfeitos, prevendo para breve a conclusão desta fase do curso.
Quase sempre, pelo que pudemos verificar, os companheiros das outras equipes costumam culminar os trabalhos por sentida prece de agradecimento. Esperamos nós, desde logo, estabelecer forte vínculo com os mensageiros dos planos mais elevados, através de oração endereçada ao Pai, para que nos ampare e nos dê coragem para prosseguirmos até o fim.

Pai, de infinito amor e bondade, fazei de nós servos humildes, para que saibamos bem compreender que toda a sabedoria a que aspiramos tem por destino facilitar o trabalho de socorro às vítimas da intemperança, da ignorância e dos vícios. Para tanto, Senhor, sempre que nos reunirmos, enviai-nos a Jesus, segundo sua inolvidável promessa, a fim de que tenhamos quem nos assista, mesmo que através dos mensageiros de luz. É que não queremos tornar-nos, por imprevidência ou imprudência, motivo de prejuízo para ninguém. Aceitai-nos, Senhor, como discípulos desta Escolinha de Evangelização, para que possamos progredir rumo ao vosso reino de amor.




Observações



Todos os grupos têm fornecido pistas para a compreensão de seus objetivos. Nós também gostaríamos de registrar que estamos satisfeitos por termos sido convocados para estas manifestações de amor. Devemos confessar que tivemos muito medo, já que fomos levados a conhecer as obras dos que nos precederam, tarefa inicial básica para que soubéssemos conduzir-nos, segundo as expectativas dos mestres. Devemos deixar claro que não temos tanta sabedoria, como outras turmas demonstraram, ficando num agradável meio-termo, já que são muitas as informações de caráter prático que podemos trazer para o conhecimento dos encarnados.
Não vamos avançar muito, pois, como acima dissemos, já temos material bastante fecundo para que nos ocupemos até a próxima oportunidade, tendo em vista que o que realizamos hoje serve de base para prolongados debates, que têm por finalidade deixar os componentes bem à vontade para a avaliação de todos os dados técnicos.
Para adiantar um pouquinho a metodologia que pretendemos utilizar, podemos referir-nos ao fato de que as aulas são extremamente oportunas, no sentido de oferecerem recursos para a demonstração do que se aprendeu na parte teórica, em função do trabalho específico que, por sua vez, subsidiará os próximos assuntos a serem desenvolvidos pelos instrutores. Esse encadear é utilíssimo para o desenvolvimento do programa do curso, de modo que todos temos oportunidade de nos manifestar em curtíssimo tempo, uma vez que nos habilitamos com facilidade, tendo em vista o empenho com que os mentores se entregam à orientação.
Não queremos dar a impressão de estarmos redigindo nada de afogadilho, por isso, vamos encerrar, dizendo que tudo o que passamos ao amigo estava perfeitamente preparado, necessitando tão-só das vestes lingüísticas, para adquirir a forma de mensagem psicografada. Se não dissermos isto, poderá parecer que estamos tentando passar a imagem de pobretões, ao mesmo tempo que recendemos a caríssimos perfumes franceses. É que temos a propriedade do desenvolvimento. O que pretendemos, porém, é evoluir no sentido da aprendizagem das virtudes.
Vá, caro amigo, para as atividades do dia, não se esquecendo de orar as preces de encerramento, durante as quais iremos fluidificar a água e restabelecer as energias desgastadas.
Não se preocupe com o nome do grupo nem em saber qual o principal dos instrutores. Esta turma está sob os cuidados de diversos professores, já que são muitos os componentes experimentadíssimos no conhecimento da psique dos sofredores, o que corresponde a dizer que bem poderiam ocupar o lugar de mestres, dependendo do curso a ser ministrado. Para que o bom amigo não fique a conjecturar nada de grandioso ou contrário à natureza, vamos ter de dizer que é chegado o momento do encerramento definitivo dos trabalhos do dia.
Graças a Deus!







1

PALAVRAS DE MUITO AMOR





Não queremos, pelo título, trazer a sugestão de que tudo podemos no campo sentimental. Ao contrário, o que desejamos deixar registrado é o muito amor que temos recebido dos mentores da nossa instituição escolar, no incentivo que nos dão, para que trabalhemos com o máximo de boa vontade e dedicação.
Não saberíamos o que dizer no mesmo sentido, se fôssemos estimular os dignos confrades leitores, pois são especialíssimos os dizeres que nos são endereçados. Que bom seria se pudéssemos tornar a expressão prenhe das mesmas vibrações fluídicas, pois é justamente o que faz falta em nossa correspondência, fria, apesar de interessada em que tudo transcorra pela melhor maneira possível, muita vez completamente alheada das expectativas de quantos depositam em nós a esperança de virem a ser convocados, em nome de Jesus, para os sagrados serviços do socorrismo.
Então, vamos tentar imprimir às palavras o mesmo enérgico vigor dos maiores, que nos exortam para a comoção de todos os que se colocam na augusta atitude de receber carinhosamente todas as pregações que lhes são passadas da espiritualidade. Aceitem, bons amigos, as advertências prudentes dos que já perpassaram por estágios mui desagradáveis nas esferas inferiores e que têm o dom da experiência, não só por ouvir dizer, mas por presenciar e, principalmente, por sentir todas as dores morais dos que se espojaram nos vícios e depois se encontraram perante a própria consciência, em triste arrependimento.
Este convite ao trabalho em prol dos necessitados deve preceder a toda explicação que pudermos trazer com os textos preparados com o máximo carinho e esforço. Se não nos atrevermos a correr riscos, diante da fragilidade dos que mourejam na carne, então nem adianta prosseguir empenhados nas tarefas da aprendizagem do socorrismo aos encarnados. É preciso deixar claro, desde o início, que os mortais têm obrigações para cumprir, não sendo jamais apaniguados com encarnes de regalias, de regozijos e de gozos paradisíacos, como se o Éden existisse. Se é bem verdade que, no fundo dos corações, pode brotar a alegria e a felicidade, também devem vicejar a responsabilidade e o santo temor de que os deveres cármicos deverão cumprir-se, segundo as leis estabelecidas pelo Senhor para este orbe de provas e de expiações.
Não passem, irmãos, rapidamente por estas manifestações salutares de advertência. Parem para refletir profundamente, remetendo os pensamentos, as meditações, para os eventos da vida, e saibam reconhecer quais os pontos positivos sobre que deverão debruçar-se, para o efeito de aperfeiçoamento, e quais os negativos, que devem ser incontinênti afastados do âmbito dos procedimentos.
Vejam que de nós pouco se deve esperar além de conselhos e avisos, pois não nos podemos transportar em pessoa para diante dos amigos, para conseguir a prova cabal, pelo maravilhoso ou pelo miraculoso, da existência de tudo quanto estamos afirmando. Outra hipótese que deve ser evitada é a do transporte dos espíritos encarnados para os locais em que jazem os sofredores envoltos pelos padecimentos, segundo o grau de criminalidade e a forma de viciações a que se entregaram em vida. Seria como que seguro passeio pelas profundezas do Hades, como o que Virgílio propiciou a Dante, conforme o relato poético-imaginário de A Divina Comédia. Isto sim seria verdadeira injustiça em relação a quantos acreditaram, sem demonstrar ser necessário tocar nas feridas, como Tomé fez em relação a Jesus.
Pois os exemplos foram citados para o efeito da intelecção do sentido do tema que estamos desenvolvendo. Não precisávamos ter ido tão longe, uma vez que os bons amigos têm cultura e inteligência assaz extensas e penetrantes, capazes de elaborações mais apropriadas até para o próprio convencimento de que no mundo estão para desempenharem papéis previamente assumidos, perante os organizadores das peças em que estrelam como protagonistas.
Não iremos além, cônscios de que tudo o que mais poderíamos oferecer-lhes à meditação não surtiria outro efeito senão o da repetição fastidiosa e inútil, sem os acréscimos do amor que havíamos intentado inserir nas palavras.
Argutos são os que não primam pela boa vontade e se fazem de tolos para deixarem passar em branca nuvem as oportunidades de entendimento, satisfeitos com os princípios regalados da vida material que levam. Contudo, se para algo tiver servido este nosso desforço, ficaremos muito contentes e recepcionaremos os adventícios com muita alegria e satisfação. Oremos para que tenhamos conseguido fazer passar a mensagem, mui especialmente se tivermos a felicidade de estar presentes no momento das leituras, sentindo no âmago da alma dos companheiros perpassar aquele frisson inolvidável que se dá no justo momento da compreensão da verdade. Se, realmente, ocorrer com alguém esse grandioso instante, pode contar que estaremos ao seu lado, ajoelhados, em contrita prece de agradecimento ao Pai pela misericordiosa possibilidade que nos dá de exercer o trabalho socorrista.
Amem-se uns aos outros, que o restante advirá naturalmente, pela graça de Deus!







2

AUXÍLIO OPORTUNO





Deveríamos, neste instante, trazer o depoimento de algum amigo da espiritualidade, recém-saído das brumas de consciência culpada, exatamente para comprovar o que afirmamos na mensagem acima. Mas não queremos forçar a mão com demonstrações excessivamente óbvias dos raciocínios teóricos que todos são absolutamente capazes de entendimento.
Como não queremos deixar transtornados os que se considerarem em falta, vamos reafirmar o mais irrestrito apoio, no justo momento da compreensão da necessidade de mudar o padrão de comportamento, para firmar posições mais próximas dos valores evangélicos, em virtude do temor de que tudo venha a perder-se, nesse caminhar insensato da humanidade votada ao plano material com exclusividade.
O que queremos enfatizar, nesta altura, é a necessidade de se ter atitude condizente com as palavras de Jesus, que prometeu a todos, através do que disse individualmente a alguns, segundo registro indelével nos Evangelhos, que, a partir de agora, desde que se compenetrem os amigos de que estejam necessitados de mudar de vida, tudo se dará de modo a não vilipendiar os ensinos que forem admitidos como inteiramente corretos. O que passou, se se deu em absoluta irreflexão, em ignorância, sem malícia ou hipocrisia, ficará automaticamente esquecido, pois o perdão do Pai atinge a quantos tenham o coração puro.
E se houve vitupério, afronta consciente dos deveres, imolações da vontade para desfrute dos bens terrenos, em detrimento, inclusive, do desenvolvimento das boas qualidades próprias e dos que estivessem sob nossa custódia moral?
Aí o temor se fundamentará no ato de desprendimento que se for capaz de exercer relativamente àquilo que se constituía justamente nos atos falhos, havendo meios bastante fáceis de vislumbrar, relativamente às atitudes a serem tomadas, para que se desfaçam os nós dos vícios e dos crimes. Não há ninguém que vá ficar ao desamparo das boas forças da espiritualidade, se demonstrar inequívocos desejos de emendar-se. Não se trata do medo pueril de ser castigado. Isto já seria bastante produtivo, caso não houvesse outro tipo de reflexão a ser feita, para que os atributos da virtudes vão sendo infiltrados gradualmente no interior da personalidade. Tal ponderação advirá conseqüentemente da percepção de que todos somos igualmente filhos de Deus e de que todos teremos, um dia, de, forçosamente, aceitar adentrar o reino de Deus, por absurda possa parecer tal colocação. É que todos temos uma consciência como juiz supremo das ações e não haverá ser vivo ou errático que não exercerá, um momento ou outro, o direito de pautar as atitudes pelos bens superiores do processo de angelitude. É fatal que tudo se esclareça para cada uma das mentes, por mais atrasada esteja no presente instante. Por isso, o dom da esperança deve colocar-se sempre como prioritário, para os que ofenderam, conscientemente, os dispositivos das leis do Senhor, crentes de que poderiam subtrair-se ao pagamento das dívidas.

Julgamos, relendo o texto fruto da transmissão, que expressa bastante bem os intuitos do momento da preparação. Não vamos dizer que, se escrevêssemos, iríamos empregar exatamente as mesmas expressões e torneios frásicos, mas, certamente, iríamos deixar impregnados os vocábulos do mesmo sentimento de angústia, a evidenciar a necessidade premente de que o momento da mudança será sempre aquele em que os bons amigos estiverem dispondo-se a usufruir, prazerosamente, agradável leitura, sendo importunados por diversos chocalhões morais, a evidenciar que nem tudo na vida deve ser gozado em plena tranqüilidade. Sabemos bem discernir o nosso desespero daquele que os jovens espíritos sentem no instante em que se deparam diante da fragilidade das decisões humanas. O deles não pressupõe a possibilidade da concentração energética dos leitores para a superação do estágio de defasagem moral. O nosso é mero artifício oratório para provocar os brios de quantos se distanciam, sem dar importância a qualquer palavra que se lhes possa fazer chegar ao entendimento.
Suponhamos, como último e decisivo argumento, que Jesus estivesse na condição de comunicador, exatamente da mesma maneira que nós. Que palavras diria, estranhas ao linguajar comum que estamos empregando, para demover os incautos da atitude de rebeldia? Saberiam vocês, caros amigos, ditar para nós tais dizeres? Nós, por nosso turno, achamos que Jesus chegaria bem pertinho de cada coração, para solicitar compunção na emissão da prece que nos ensinou e iniciaria, certo de que não haveria outra fórmula capaz de maior convencimento:
— Pai nosso, que estais...
Depois da oração, brandamente, perguntaria:
— Que mais espera você, para iniciar sua reforma interior?







3

A FUGA





Há quinze anos estou perturbado, atravessando a escuridão dos espaços, sem paradeiro onde possa recostar a cabeça, para sossegado descanso das tantas tropelias em que me meti. Não sei bem definir as razões que me levaram a tão grave distúrbio, já que, durante o encarne, fui pessoa cordata, tendo, inclusive, merecido severas críticas dos familiares, por não demonstrar interesse em reaver certas propriedades de que fui espoliado.
Evidentemente, já possuo algum discernimento, para poder perceber que algo houve que me trouxe acorrentado ao desespero e à dor, só que não sou capaz de bem caracterizar esses fatos. Houve época que pensei que tudo dependia da presença de certas criaturas que me perseguiam, dizendo-me traidor dos símbolos que carregavam inscritos nas vestimentas. Pareciam-me soldados de alguma legião desconhecida, pois minhas lembranças eram vagas e não me deixavam perceber com clareza qual a participação que poderia ter tido em relação à tal corporação. Aí comecei a fugir de todos os que queriam manietar-me, para levarem-me arrastado para as profundezas do Umbral. Ia dizer inferno, mas me considero bastante esclarecido para saber que não existe tal departamento nas profundezas do báratro. Os seres que me queriam arrastar eram iguaizinhos a mim, só que bastante hirsutos e demonstrando muito ódio no coração.
Hoje me considero apaniguado por estar livre daquelas criaturas asquerosas.
Dizem-me para não considerá-las senão irmãos em desespero e sofrimento, perdidos para as verdades, que deverão merecer toda a atenção minha e dos demais, para o resgate no devido tempo. Pois tenho para comigo que tal trabalho irá ser muito sacrificado, pois os demônios são terríveis e o menos que fazem é protestar contra Deus, dizendo que o Pai é injusto e que não tem consideração alguma pelos filhos desprotegidos, só porque fizeram algumas estrepolias e maldades. Na verdade, se fosse contar aqui o que costumam fazer contra as leis divinas, o povo provavelmente iria ficar horrorizado.
Os espíritos irmãos estão a dizer-me que não existe o que desconheçam nesse aspecto, pois são muito experientes no trato com os seres inferiorizados pelas consciências muito culpadas. Reconheço que meus argumentos são muito fracos, pobres, quase desprovidos de lógica, diante da facilidade com que vejo o pessoal manejar os conceitos, os pensamentos e as expressões. O que estou deveras admirando são os dizeres que se vão inscrevendo na tela, como resultado da transmissão que estão ajudando-me a fazer.
A pedido, vou caminhando na descrição das emoções que me trouxeram até este ponto da evolução espiritual. É que tive muita leitura, ao mesmo tempo que deixava o barco correr, sem tomar aquelas providências necessárias. Cedo perdi meus pais e, por isso, as propriedades da família que me cabiam por herança ficaram nas mãos de meus tios, tutores designados pelo Juizado de Menores, para que eu pudesse enfrentar os cursos escolares despreocupado da administração dos bens. Na verdade, através de diversas manobras, os bens conservaram-se meus, mas os rendimentos foram absorvidos pelos meus parentes e era quanto a isso que meus filhos e demais parentela afim investiam contra minha apatia. Não quis jamais fazer nada que desgostasse aquelas pessoas que se dignaram cuidar muito bem de mim até os vinte e um anos de idade. Foi só aí que percebi o quanto haviam desviado para os próprios cofres.
Mas não estou aqui para levantar acusações contra quem quer que seja, inapto fui até de revide no plano da matéria, quando tive a oportunidade de repudiar os tutores por comprovações cabais que fui capaz de colher, provas documentais várias, que me foram fornecidas, inclusive, pelos contadores das firmas. Mas, se não desejei realizar nada do ponto de vista oficial, fui bem capaz de empreender várias iniciativas espirituais, principalmente por meio dos desafetos que queriam ver a desgraça dos meus parentes. Agora sou capaz de perceber quem eram os elementos a quem recorri para o efeito da desgraça, mas, na ocasião, não passavam de entidades do candomblé ou de algo que me fizeram acreditar que assim fosse.
Estão a me acenar com a possibilidade de me terem enganado, especialmente para usufruírem os benefícios das polpudas gorjetas que contratávamos. Evidentemente, estou bastante aborrecido por ter descoberto tardiamente que não deveria ter tentado prejudicar quem quer que seja. Em pleno vigor físico, veio-me o arrependimento, não no sentido de perdoar os malfeitos, mas do temor de que estivesse exercendo algo que iria contrariar os dispositivos de crescimentos de minha alma. Foi assim que, em determinado momento, fugi dos terreiros, por onde fazia passar as mandingas, e nunca mais atormentei espiritualmente a quem quer que fosse. Vejo agora que são esses os crimes que motivaram as perseguições.
Quando disse que tinha muita leitura, quis dizer que bem a tempo pude contatar com alguns livros do bom espiritismo, o chamado kardecismo de mesa branca, de forma que pude verificar que tinha agido precipitadamente contra as pessoas que me haviam enganado. Mas aí era tarde para qualquer restabelecimento fluídico, uma vez que meus tios já haviam partido e eu não me sentia bastante corajoso para enfrentá-los, em alguma sessão espírita de doutrinação ou de desobsessão.
Para encurtar o relato, devo dizer que estou na companhia deles, que foram atrás de mim para revelarem-se muito arrependidos e dispostos a me auxiliarem, pois estiveram, durante largo tempo, atormentados pelos malfeitos consagrados à malversação de minha fortuna.
Durante algum tempo, fomos atrás dos meus filhos, mas foi impossível fazê-los reverter os pensamentos, que se transformavam em fortes fluidos negativos, que arremessavam contra nós três. Minha mulher, boa criatura, foi a única a ficar ao lado dos filhos e dos irmãos, para tentar encaminhá-los ao bem. Aliás, foi quem me fez ver que eu estava errado, quando procurei os macumbeiros para os trabalhos contra os meus tios. Foi ela, ainda, que me trouxe até o conhecimento do bom espiritismo, já que nunca se afastou das mesas brancas. Sinto que qualquer dia vou voltar ao seu lado, para procurar desfazer tudo de errado que fiz, principalmente por ter esconjurado os pequenos, deserdando-os por fim, enviando por testamento todos os bens que possuía à casa espírita que me deu guarida, no final da vida. Soube, depois, que os dirigentes do centro espírita se contentaram só com um pouco do que lhes destinara, abrindo mão dos haveres mais importantes para os meus filhos.
Como se vê, não sou o que se pode denominar de flor que se cheire, pois tenho até a pretensão de dar a impressão de ter algum valor, quando, na verdade, estou emergindo de sucessivos embates, onde o mérito maior de minha atuação foi buscar escapar, por todos os meios, do enfrentamento dos dizeres que me revelavam claramente quem realmente sou.
Peço aos amigos que confiaram em mim que me perdoem não ter trazido nada que sirva para o pessoal encarnado, a menos que se diga que estava totalmente errado e que só se deve fazer o bem na vida, se se quiser, ao chegar deste outro lado, encontrar tudo bonitinho, limpo, arrumado e pronto para nos receber com alegria e flores.
Peço perdão ao escrevente pelo ritmo alucinante que lhe imprimi aos dedos ágeis, e peço-lhe, de quebra, que arrume os dizeres que ditei, para que não fique a impressão de que tudo o que aprendi com minhas leituras se tenha perdido definitivamente. É bom saber, enquanto encarnado, que tudo o que fazemos de bom ou de ruim vai ficando registrado no perispírito, de modo que, quando precisamos disto ou daquilo, é só apertar o botãozinho certo que já conseguimos relembrar de quase tudo. Devo esclarecer que o que nos deixa sobremodo aflitos pode ficar camuflado para a descoberta oportuna, como aconteceu comigo, que não estava preparado para tudo enfrentar no primeiro momento.
Finalmente, pedem-me para que lembre a todos a necessidade de praticar o bem e de rezar em benefício dos desesperançados do báratro, pois os fluidos que emitimos pelos sofredores lhes trazem ponderável conforto espiritual.
Fiquemos todos nos braços do Senhor!
Arlindo.




Comentário



Ao contrário das turmas precedentes, que procuravam adestrar os sofredores, para que efetuassem exposições mais ou menos lógicas, coerentes e de acordo com os princípios de causa e efeito, não iremos orientar os amigos que trouxermos para os relatos vívidos de suas experiências dolorosas ou agradáveis. Vamos deixá-los bem à vontade, estimulando-os a que relatem sempre o que lhes parecer a verdade, evitando a tendência ao embuste e à hipocrisia, como recursos da malícia de quem se apresenta diante dos outros seres, sem desejar deixar transparecer a realidade consciencial. Sendo assim, alguma coisa sempre haverá de ficar a descoberto, embora a maior parte (esperamos que a mais importante) se evidencie, de acordo com as disposições psíquicas.
Por isso, vamos ter de enfrentar algumas dificuldades de entendimento das ocorrências, pois quase sempre o que estiver mais presente nas lembranças é a que se dará prioridade, emergindo, aos poucos, outros fatos correlatos, para dar contextura aos princípios da realidade postos em evidência nas explanações. Pedimos permissão para assim proceder, apesar de corrermos o risco de não oferecer nada de muito valor aos amigos encarnados. Como os nossos objetivos se vinculam às tarefas de aprendizagem dos recursos mediúnicos colocados em funcionamento, não nos importaremos muito com os resultados finais das transmissões.
Quanto aos temas levantados pelo amigo Arlindo, vamos deixar que os leitores destinem um pouco das reflexões para o entendimento dos reais liames entre as diversas personagens citadas, para a configuração do que poderíamos, ao arremedo de Dostoiewsky, chamar de crime e castigo. Somente quanto aos motivos que causaram a permanência no Umbral superior a quinze anos, devemos enfatizar que algo ficou sem esclarecimento, mas não será difícil de saber o que foi, depois de atenta leitura da manifestação.
Saibamos, enfim, relevar a parte afetiva, não nos deixando envolver sentimentalmente pelos males a serem descobertos, mas cultivemos o amor mais puro, para dedicar um pouquinho dele ao amigo Arlindo, na forma de orações em que os desejos mais autênticos de recomposição perispiritual estejam presentes.
Como gostaríamos de poder dizer que o amigo irá partir desde logo para as tarefas do socorrismo! No entanto, estamos temerosos de que algumas recaídas ainda se configurarão, até que o confrade possa sentir as alegrias de oferecer seguro apoio aos filhos e demais parentes necessitados.
Em suma, não nos levem os maus pendores a desacreditar da bondade divina e saibamos esperar, com muita fé em que, para breve, estaremos todos reunidos, para oferecer o relato do que tiver ocorrido em benefício do grupo que ora se encaminha para instituição de atendimento médico.







4

UM ESPÍRITO ARREPENDIDO





Deveríamos trazer ao posto da intermediação mediúnica jovem espírito, recentemente libertado das lides da carne, entretanto, na última hora, escapou-nos das mãos, por se ter arrependido do compromisso que assumiu de se apresentar para o relato de suas desventuras na face do globo.
É compreensível que tal fato ocorra com aqueles que não estão preparados para o enfrentamento das acusações conscienciais, especialmente se forem tomados do pavor de estar diante de seres absolutamente estranhos, como é o caso da maioria dos que partilham destes trabalhos socorristas. No caso em tela, o jovem irmão ressentiu-se de não haver ninguém que o apoiasse por vínculos antigos de conhecimento ou de parentela. Na verdade, quando percebeu que iria ter de desnudar-se, sofreou o impulso que o trouxera mais ou menos convencido, para deixar-se envolver por lastimável estado de penúria moral. Mesmo que se atrevesse a ficar diante do painel luminoso, onde se registrariam as expressões de seu magnetismo, não teria conseguido concatenar as idéias, para apresentar algo proveitoso, quer para si mesmo, quer para o trabalho de assistência que se desencadearia em seguida. De qualquer modo, está sendo atendido, longe deste local, por bons samaritanos da equipe, afeitos aos destrambelhos de quantos se espojaram em diversos vícios e agora não sabem como enfrentar as conseqüências morais dos desatinos.
Recomendamos, por isso, aos bons amigos leitores que não se esqueçam jamais de que tudo o que fizerem na vida repercutirá, de algum modo, no plano da espiritualidade, quando da chegada ao nível da confissão que deverão fazer para si mesmos, já que as acusações conscienciais precisam ser estimuladas, para posterior análise e correção. A fase das lamentações deve ser superada facilmente, através do pedido mais sincero de ajuda dos preceptores e instrutores, que se aproximam ávidos por deixar a marca socorrista, pois nada lhes dá maior satisfação do que a concretização do trabalho, de forma a conquistar outros seres para a ajuda beneficente aos que sofrem. Este encadear dará ao socorrismo como resultado a extensão cada vez maior que os mentores desejam ver estabelecida, para que todos os pontos do orbe sejam constantemente visitados, para a orientação necessária aos que se vêem, de repente, às voltas com sérios problemas existenciais.
Realmente, o espírito que se arrependeu, ao se ver tão perto dos irmãos socorristas, não teve a mesma sorte que a maioria, que sufoca as dores e desesperos, pela infiltração fluídica que os mentores conseguem junto aos seus perispíritos. O jovem amigo se desorientou completamente, temeroso de estar sendo trazido para diante de pessoas que poderiam acusá-lo de certos males que elas mesmas ignoram, dado que o moço era matreiro e fazia muitos desarranjos, sem que se suspeitasse de sua participação na autoria.
Mas o caso, longe se constituir em anomalia de comportamento, é o que chamaríamos de mais típica reação psicológica de quantos encarnados se sentem na presunção da posse de superior capacidade. É o que há de mais comum, pois é próprio da civilização atual, especialmente neste país das oportunidades, buscar usufruir as vantagens que a impunidade propicia.
Mas não iremos nós catalogar os malfeitos dos espíritos encarnados, pois não teria mais fim. Vamos, simplesmente, apostar em que não demorará para conseguirmos que mais alguns bons amigos deixem de lado esse estigma da moderna atitude cultural dos brasileiros, pois estão dedicando-se vigorosamente à reflexão, a partir dos temas morais que estão contatando nestas mensagens que, com tanto carinho, os alunos da Escolinha têm elaborado e transmitido. Basta que dêem continuidade às proposições de atualização dos conhecimentos evangélicos e de trabalho diuturno em prol dos necessitados, seja qual for o plano em que estejam atualmente. Se cada um de nós fizer o que estiver ao alcance, para a compreensão dos deveres cristãos, em função dos ensinamentos de Jesus, certamente não demorará para termos formada extensa corrente entre os encarnados, para ajuda aos que se refocilam nos vícios e nos crimes.
Estão definidas, portanto, as duas linhas do socorrismo que nos cabia apontar: a do etéreo e a da carne, sujeitas ambas ao desenvolvimento que cada elemento seja capaz de conseguir, no âmbito das benemerências e dos estudos. Nada de novo na explanação, que desenvolvemos a partir do sofrimento que permitiu ao amigo escafeder-se do compromisso que havia assumido. Esperamos que nenhum dos leitores se veja, um dia, nessa desagradável situação de ter de receber ajuda diretamente dos instrutores, para levar a efeito o trabalho do mediunismo, em substituição a uma aula totalmente organizada.
Esperando não ter decepcionado inteiramente os amigos encarnados, vamos deixando o posto, na expectativa de que algo que tenhamos dito de carreira possa ficar-lhes impresso no inconsciente, sem mesmo termos percebido o que tenha sido, já que, pelo que pudemos observar, bem pouco do que registramos está contendo algum ponto que mereça destaque, pela novidade do tema ou da formulação, embora seja muito raro ocorrer o que conosco aconteceu nesta tarde.
Para encerrar, vamos responder a íntima perquirição do escrevente, que nos propôs que trouxéssemos outro irmão sofredor ou que alguém do grupo se oferecesse para o relato das vicissitudes de seu jornadear em dor, já que todos somos aprendizes e devemos ter alguns fatos importantes para narrar.
Evidentemente, tivemos nós também os mesmos impulsos e chegamos a propor aos mestres que aceitassem tal substituição. Mas o dever que nos passaram foi o de que desenvolvêssemos o tema do arrependimento em cima da hora, para demonstrar aos amigos encarnados que existem, no plano da espiritualidade, as mesmas indecisões, as mesmas angústias, as mesmas suspeições, os mesmos defeitos que entre os encarnados, quando se sentem inseguros e desamparados. É bom saber que pouco muda em relação às ações e reações, pois não será de um momento para outro, com a só passagem pelo portal da morte, que as criaturas irão transformar a maneira de ser. O que se nota é, ao contrário, acentuado incremento das atitudes costumeiras, como se as pessoas se sentissem mais senhoras de si quando agem de conformidade com padrões estabelecidos e admitidos como válidos, ou como de bons resultados no plano dos relacionamentos.
Crentes de que fizemos o melhor possível para elucidar as questões que nos foram postas, despedimo-nos, augurando a todos muitas felicidades nos projetos de recomposição perispiritual, no sentido de se firmarem em algum núcleo de assistência espiritual e/ou material. Se, por acaso, o bom amigo que está seguindo estas reflexões pertencer a algum grupo de socorrismo ativo, queira perdoar-nos o impulso à pregação, recebendo, contrito, os eflúvios fluídicos dos maiores, ao final da leitura desta mensagem, quando erguerá os pensamentos ao Senhor, por estar agradecido pelas luzes que é capaz de assimilar e de esparzir.




Explicações



Este dia mereceria diversos comentários elucidativos das atitudes do espírito que não se apresentou e dos que se achegaram para as definições que lemos acima. Entretanto, não vamos estender-nos demasiadamente a respeito, pois nos parece que ficaria assaz cansativo estar a repetir o que os companheiros, exaustivamente, já leram nas mensagens transmitidas pelas equipes anteriores.
É sempre a mesma coisa: o programa inclui diversos aspectos novos a serem deslindados no momento mesmo da transmissão, de sorte a aparelhar o grupo a se defender dos disparates dos seres cujas reações quase nunca são previsíveis. Não é à toa que esta turma foi formada de experimentados socorristas no plano da ajuda direta a quem se sente perdido e só.
Gostamos dos comentários dos bons amigos que se inteiraram das primeiras comunicações e, por isso, vamos encerrar a presente transmissão, para deixar bem determinado o aspecto de seriedade que vamos dar a todos os comunicados, já que não temos tempo a desperdiçar com sentimentalismos e futilidades.
Diante da observação do escrevente de que estamos esticando um pouco este momento mediúnico, para apanharmos o sentido da magnetização, podemos dizer que isto iremos fazer ao longo de todo o período que estivermos por aqui, já que é uma das tarefas mais importantes da aula. No entanto, não necessitaremos hoje estar a comentar, inocuamente, mais qualquer outra intuição do amiguinho, já que temos suficientes assuntos que tratar em seguida, por meio dos debates e das explicações que receberemos dos orientadores.
Sentimos ter de nos despedir secamente, mas não partiremos sem deixar uma lembrança de nossa passagem por aqui nesta data: uma prece de agradecimento por tudo que temos tido oportunidade de receber do Pai e dos amigos que se estimularam a nos auxiliar, nesta fase de nossa peregrinação espiritual.
Pai nosso, que estais...







5

PARANÓIA





Quando penso que, na Terra, exerci as mui dignas funções de médico psiquiatra, tremo de horror pelas barbaridades que cometi, no tratamento dos pacientes. Era a mim que deveria cuidar de preferência, tantos foram os entraves que criei no fundo da consciência, para admitir estar completamente equivocado em relação à quase totalidade dos clientes do hospital pelo qual me responsabilizava.
Bem pensando, acredito que muito do que fiz se deveu à minha volúpia por dinheiro, porquanto não deixava passar em branca nuvem qualquer procedimento não condizente com o que tínhamos por normalidade. Até mesmo simples tiques nervosos, meros tartamudeios, eram categorizados como desvios profundos da personalidade e como tal tratados, a peso de ouro, especialmente se as famílias eram de posse e pretendiam afastar do seu convívio, por perniciosos, os membros infelizes, que deveriam merecer total carinho e consideração.
Não gostaria de seguir avante nas recordações, pois são penosíssimas para quem não se afastou um segundo sequer desses pensamentos aviltantes, durante os últimos quarenta anos, os quais permaneci internado na escuridão do Umbral.
Sempre ouvi dizer que Deus é justo e misericordioso. Pois lá, naquela desgraceira de gente infeliz, cada qual clamando pela solução de seus problemas e de suas dores, é muito difícil de se considerar que haja alguma força de caráter universal que vigie para que todas as leis do amor e da justiça se exerçam em plenitude. Eu mesmo, um pouco mais apaniguado relativamente à compreensão dos dizeres e dos mecanismos intelectuais e sentimentais, não me considerava de forma alguma protegido por quem quer que fosse, o que me foi desmentido logo que cruzei os umbrais das cavernas para as regiões de luz, trazido por mãos benignas, que se estenderam para mim no intuito da comprovação de que estava inteiramente errado em considerar-me ser abjeto das profundezas abissais dos cárceres da dor.
Peço perdão ao escrevente, por fazê-lo perlustrar as figuras, sem entreter-se com os dizeres diretos que justificariam o pranto sentido que venho derramando desde essa época. É que, neste instante, não posso fazer outra coisa senão interessar-me por trazer, dolorosamente, é verdade, mas completa e lealmente, os relatos dos movimentos conscienciais que motivaram os desarranjos que me impediram de raciocinar eficazmente, para a superação dos males e no oferecimento de condições para o resgate sofrido que, finalmente, acabou ocorrendo, por força de ter sido perdoado inúmeras vezes por quantos fiz sofrer além dos limites das condições humanas.
É preciso compreender os carrascos mais impiedosos para conhecer os artifícios de que lancei mão para prender, em escuras masmorras, seres que só deveriam ter merecido tratamento humano e amoroso. Pode parecer estranho que, neste século de tantos conhecimentos, alguém venha do báratro trazer o testemunho do olvido da benemerência e da caridade. Mas ocorre que não fui feliz nas colocações morais que deveria ter feito prevalecer sobre a argúcia, a filáucia, a ganância e o desejo mais voraz de ver florescer a clínica psiquiatra, que levava, imponente, o meu nome de grande cientista, mas que não fazia nada mais do que transportar magotes de enfermos para as sendas escabrosas da dor, do sofrimento e da morte.
Se fosse pensar nos mecanismos que empreguei para a tortura, como os choques elétricos e o instrumental cirúrgico de que dispunha para as lobotomias, iria recriar o inferno que tive de enfrentar durante muitos anos de elaboração fantasiosa com que me atacava em meu desespero consciencial.
Não tive sossego e, ainda agora, sinto o reflexo daquele estado de angústia. Se fosse eu mesmo trazido perante mim, saberia distinguir, com nitidez, caso de megalomania aguda e, certamente, recomendaria internação imediata no setor de isolamento, para não contaminar moralmente os infelizes companheiros de internação. Na verdade, foi essa a sentença que declarei, no fundo da consciência, sem permissão a qualquer ato em defesa da possibilidade de não ser tão criminoso como o grave juiz me considerava.
Pode parecer aos amigos que, de imediato, aceitei os disparates que pratiquei como obra de infeliz conclusão a respeito dos direitos que as pessoas têm diante da vida. Infelizmente, esse reconhecimento se deu depois de muita lamentação e recriminação contra os atributos mais sagrados da Divindade. Se, naquela época, eu tivesse sido pescado, para ser trazido até este posto de atendimento mediúnico, iria ser impossível tomar qualquer manifestação da minha parte, tantas e tão graves eram as acusações, por meio das injúrias que, furioso, lançava contra todos os que demonstravam alguma superioridade quanto às condições de bem-estar e conforto moral ou material. Achava-me duplamente injustiçado, quer quanto ao fato de não ver o quanto havia prejudicado as outras pessoas, quer no que respeitava aos bons atributos desenvolvidos pelos demais seres na ajuda efetuada em favor dos semelhantes. Acreditava-me benfeitor da humanidade e não sabia divisar o bem onde verdadeiramente estava instalado.
Lamento profundamente não poder declarar o meu nome, pois teria muito a acrescentar em relação aos casos reais por mim atendidos, já que falseei inúmeros tratamentos como tendo alcançado absoluto sucesso clínico. Patenteava a todos firmeza e não incutia na própria mente que estava agindo perniciosamente em relação a mim mesmo. Se tudo o que agora sei a respeito das atividades hipócritas estivesse condignamente impresso na mente daquele médico insipiente, que desejava arrotar sabedoria ao início da carreira, certamente eu poderia até ter tido alguma luz, já que capacidade não me faltava, inclusive para a compreensão das intrincadas teorias médicas, que lia nas revistas estrangeiras, com completo domínio das expressões técnicas. Só não progredi para o bem porque não suportei ter de ficar pobre o restante da vida, na simples assistência a outros sábios doutores, que, tal como eu, perpetravam inúmeros deslizes, no mesmo campo em que fui atingido.
Impedem-me de relatar casos paralelos, pois me julgam por demais verborrágico, já que aqui estou a derramar as palavras sem contenção de qualquer espécie, não avançando muito no estudo de meu caso particular. Verdadeiramente, se não me interromperem, irei seguir até que esgote a paciência ou as forças do escrevente, pois a caracterização de minha paranóia é justamente a de ir falando, falando, repetindo os mesmos conceitos, indefinidamente, para subtrair-me à análise dos fatos, para não ter de sofrer as acusações da consciência. Tenho verdadeiro pavor do sofrimento, uma vez que estou como gato escaldado, que tem medo até de água fria.
Pedem-me para encerrar, porquanto não tenho nada mais importante para dizer, a não ser que estou recebendo mui digna assistência, bem diferente daquela que proporcionei aos infelizes que tiveram a desdita de passar pelos portões de minha casa de saúde.
Suplico a Deus que ilumine os bons amigos leitores, para que suportem este longo jato de termos profusos e confusos, em que me deixei embalar, pela vaidade de possuir facilidade verbal e racional. Se me derem o direito de rever o texto, certamente irei podar a maior parte das frases, para deixar a idéia de que existe equilíbrio mental no procedimento a que me acostumei.
Dizem-me que não faça nada nesse sentido, pois o que o pessoal deseja é deixar registrado testemunho ou depoimento específico deste tipo de reação de comportamento, já que me predispus a manifestar-me sem peias de qualquer espécie.
Realmente, muito devo agradecer a todos esta formosa tarde de psicografia, que me ensejou a oportunidade de avaliar com precisão como estou exprimindo-me, pois foi confirmado que deverei estar presente nos atos escolares que se seguirão, para a compreensão integral das causas que deram origem a este tipo de reação. Se não for pedir demais, gostaria de expender alguns conceitos relativos às teorias que trouxe do plano material, pois ainda me considero razoavelmente dotado de conhecimentos, pelo menos no que respeita aos aspectos clínicos, embora já tenha percebido que a ciência muito progrediu nestes últimos tempos, dado que estou a receber diversos informes de que há tratamentos específicos para este meu desvio de procedimento. Se for atendido nesse desejo, peço também para que me bloqueiem os sentimentos, para não me envolver pessoalmente, já que desejo dar tratamento científico ao meu próprio caso. Se me considerar em condições de enfrentar, sem titubeios, estes momentos de dissecação da personalidade, sei que terei melhoras rápidas de caráter. Por isso, quero transformar todo este estudo da turma em teste mais ou menos definitivo das atuais condições psíquicas, as quais terei de enfrentar irrefragavelmente.
Não sabia como terminar, pois o meu desejo mais profundo é o de permanecer indefinidamente ao lado deste médium, para prolongar os momentos de repouso que estou sentindo, apesar de estar debilitando-me rapidamente pelo esforço concentrado de expressar as reações mentais. Como ia dizendo, não sabia como terminar, mas fui informado que basta agradecer, se tiver sentido que houve algum benefício na atitude dos membros do grupo para comigo, o médium incluído. Certamente, não perdi o savoir-vivre que trouxe do encarne, pois sempre fui muito bom em deixar as pessoas muito à vontade, educadíssimo no trato das civilidades. Não iria despedir-me sem agradecer os momentos de muito amor que senti destinarem-se a este pobre ser confesso do crime de afronta ao Senhor. Muito obrigado a todos e rezem muito, para que meu restabelecimento se dê rapidamente, pois anseio por vir a integrar as hostes de benemerência dos irmãozinhos que vejo trabalhar com muito afinco para a compreensão dos fatos psíquicos. Desculpem-me ter ocupado tão largo tempo esta pena diligente.
Fiquem nas graças de Deus!




Comentário



Não permitem os mentores da Escolinha que os seres que ofenderam as divinas leis se identifiquem perante os leitores. É medida de segurança em relação a todo o trabalho, que não pode se ver ameaçado de ruína, caso os encarnados se manifestem agressivos contra o mediador. Por isso, os irmãos sofredores que trazem os seus primeiros depoimentos, ainda sob o impacto das impressões dolorosas do período de imersão consciencial, se vêem bastante livres para expressarem os sentimentos e pensamentos, sem a preocupação da coerência, da lógica e da tecnicidade do vocabulário profissional a que estavam habituados.
Aliás, muitos chegam a perder completamente o fluxo da terminologia própria da ciência que dominavam, por se verem inteiramente absorvidos pelos sofrimentos, buscando configurar na mente tão-só os vocábulos relativos às religiões que seguiram ou aos padrões filosóficos que elegeram para fazerem fluir a vida, sob os encantos da materialidade. Em suma, o mais que desejam é ver prevalecerem os termos da moralidade que julgam dever seu dominar, para ficarem de bem com Deus. Esse princípio de comportamento muitas vezes se transforma em verdadeira alucinação, ficando os pobres desprovidos até dos sistemas intelecto-afetivos de segurança, abrindo as mentes inteiramente ao assalto dos maliciosos e dos perturbadores, que desejam estabelecer ascendência sobre os demais, no intuito de servirem-se deles para a consecução de seus projetos.
Tal não foi, evidentemente, o caso do amigo que se apresentou paranóico, a acusar-se de ter maltratado inúmeros seres, na condição de médico psiquiatra. Não devemos acreditar na formulação fantasiosa de sua mente perturbada. Não vamos dizer que tenha sido médico, pois é fácil de perceber-lhe as reações mentais eivadas de preconceitos, como se, de tudo o que afirmasse, só tivesse dominado pequeníssima parte e ainda na condição de paciente e não de médico. Não será mais plausível aceitar que se tratava de paranóico necessitado de tratamento, revoltado contra as condições de inferioridade intelectual e emotiva em que se viu durante o último encarne e que se refletiram poderosamente no seu caminhar pelas trevas? Não será mais fácil de configurar que se trata de ser muito mais perverso do que tentou induzir pela manipulação livre das palavras, uma vez que estava por sua própria conta e risco? Não terá acreditado que poderia ilaquear a boa fé dos amigos socorristas, a quem não levou na devida conta, tendo em vista a humildade com que se aprestaram ao serviço de atendimento?
Quando os bons companheiros estiverem deste lado, deverão, com cuidado, observar o tipo de ajuda de que estejam necessitados e rogar, com humildade, que os protetores venham em seu auxílio, para o que deverão orar, com contrição e verdadeiro amor a Deus, pedindo perdão por todos os atos que estiverem a pesar-lhes na consciência.
Mais tarde, na qualidade de aprendizes de socorristas, deverão saber controlar as emoções, não se deixando levar pelas palavras dos sofredores a quem estarão prestando ajuda. Há inúmeros indícios de que existe malícia e desconsideração no tratamento que lhes será dispensado por quantos se sintam, momentaneamente, em condições de inferioridade, mas que imaginam que logo poderão dar a volta por cima, ficando a cavaleiro da situação. Simplesmente dizer que passou quarenta anos internado nas profundezas não bastará para configurar verdade absoluta. Deverá haver pesquisa séria dos motivos que conduzem os irmãos sofredores a mentir, pois quase sempre têm como certo que não serão atendidos, caso julguem que suas defecções serão tidas como bem miúdas ou demasiado graúdas. Não é o paciente quem deverá ditar as diretrizes ao atendimento que se fizer necessário, mas as orientações metodológicas recebidas nos cursos que todos devemos freqüentar, para nos colocarmos em condições de enfrentar a malícia e a hipocrisia dos necessitados de encaminhamento às sendas do Senhor.
Tudo o que estamos levantando pode ser transposto para as condições dos trabalhos que se solicitam aos encarnados junto aos semelhantes em condições de sofrimento, por terem periclitado diante da necessidade de proceder em consonância com os ditames das leis de Deus e dos ensinamentos do Cristo—Jesus. Da mesma forma, há que se tomar muito cuidado para não se deixar envolver pelas lamúrias e pelos desvios de comportamento, pois pode ocorrer que se trata de sério caso de internação em hospital psiquiátrico, que não pode ser curado com simples rogativas ao Senhor, embora convictas da fé que se tem no coração e da lealdade dos instrutores espirituais. Há males muito grandes, que não se deixam extirpar simplesmente pela bondosa atuação dos socorristas. É necessário ter clara consciência de que os homens se conhecem pelas obras e de que há aqueles cujas ações só estão a revelar trágicos desajustes psíquicos, irredutíveis pelas atividades da magnetização, da desobsessão e da doutrinação.

Pedimos vênia para prosseguir nesta linha de pensamento por mais alguns dias, para o que traremos outros amigos da espiritualidade em difíceis condições de entendimento da realidade. Aguardaremos os próximos dias com paciência e atenção, crentes de que estaremos protegidos pelos amigos mais diretamente ligados a nós por estimulantes laços de amor e benquerença, sem esquecer-nos, ainda, de agradecer comovidos as benesses do amor do Pai, que sentimos estar descaindo sobre nós na forma de bênçãos, pois trabalho não nos falta, nem luzes para bem aproveitarmo-nos dos ensinos de que temos sido alvo.







6

MENSAGEM DE AMOR





Depois que desci para o espaço sem misericórdia, onde enfrentei os mais danados algozes de quantos sofredores impenitentes por lá adejam, vi-me, de repente, arremessado para os caminhos da luz. Não sabia que estava acompanhado, pois era-me impossível estabelecer qualquer contacto que não fosse com seres muito inferiores, da mesma espécie minha. Naquela hora, contudo, todos os canais de comunicação estavam bloqueados, impedindo-me de emitir qualquer vibração pegajosa que pudesse trazer para o meu lado algum daqueles seres que arquejavam de dor e de fúria.
Sei que estou em boas mãos e que deverei por muito tempo vagar pelos espaços da erraticidade, pois não me configura possível que tenha tido algum mérito, para poder almejar ficar na expectativa de penetrar diretamente no reino de Deus, apesar de que seja isso o que mais tenho desejado ultimamente.
Na impossibilidade de volver à Terra, para refazer os vínculos que rompi, sinto-me como peso morto, a lamuriar-me diante dos amigos que estão facilitando-me esta comunicação. Não sou tão ignorante que não tenha percebido que o amigo escrevente está registrando os impulsos de meus pensamentos, já que tenho a capacidade de discernir as letras que vão formando as palavras e frases. Embora muito iletrado, ainda assim vejo que estou conseguindo elaborar um bom texto, onde os meus temores e sustos ficaram muito bem assinalados. Não quero perder esta oportunidade para perguntar inúmeras coisas que me fizeram arrepiar durante a estada na escuridão.
Os amigos estão a me dizer que devo deixar as perguntas para depois, que devo apenas responder às perquirições que me estão sendo feitas, de modo bastante subjetivo, pois estou concatenando os pensamentos em função das vibrações que sou capaz de traduzir e de interpretar. Não sei bem como isso está ocorrendo, acostumado que sempre estive em enunciar os pensamentos de forma bastante bem articulada, necessitando declarar todos os sons para que me pudessem compreender. Devo dizer que ultimamente me pareceu que certa mudança estivesse ocorrendo neste aspecto, pois recebia informações várias que juro que não estavam catalogadas entre os meus conhecimentos de antigamente.
Realmente, não sou capaz de dizer o que se passou comigo; tão-só vou relatar de forma bastante precária, apesar desta terminologia que me estão emprestando, o que senti durante essa época em que me pareceu que os males estavam a aliviar e o bem prestes a se fazer, pois era capaz de relembrar algumas fases de minha vida em que a alegria de servir a outras pessoas vinha trazer-me conforto moral, dizendo-me que não era tão pernicioso quanto tivera a impressão, por me ver arremessado tão profundamente na escuridão, onde me era impossível divisar qualquer claridade.
Pedem-me para dizer se as lembranças eram só de figuras apagadas ou se tudo se reproduzia na minha frente, como se estivesse deveras envolvido nos acontecimentos. Pois, no início, não sabia que estava imerso na escuridão tantas foram as impressões de vida que trouxe comigo. A realidade de minha mente confundia-se inteiramente com o que trouxera impresso na memória, sendo incapaz de distinguir o que era mera recordação do que me parecia estar ocorrendo naquele justo instante. Somente depois de muito pelejar inutilmente para mudar os acontecimentos é que pude compreender que os fatos se repetiam sem grandes alterações, a não ser de mínimos detalhes, que se foram transformando em importantes peças do conjunto, a ponto de, sem que tivesse percebido, um dia, duas visões se justapuseram para o efeito da comparação, de modo que tudo o que a primitiva formulação me trazia à recordação era contrabalançado pela forma derradeira impressa na mente. Era capaz de distinguir o que significava antes desejos de minha vontade em relação ao que, ao final, se revelava como o que deveria ter sido, se me tivesse satisfeito com alguns atributos menores, do ponto de vista meramente material. Era como que o confronto da realidade que eu mesmo havia estabelecido como verdade com o que deveria ter prevalecido, para que tudo decorresse de maneira a satisfazer os princípios das leis do Senhor e dos homens, especialmente nos aspectos moral e espiritual.
Mas este discernimento atual demorou para formar-se, já que tudo me parecia um bloco só de acontecimentos, tantas eram as cenas que me perpassavam pela lembrança, como a me tornar alucinado com tantas atitudes impensadas e tantos crimes praticados contra os irmãos encarnados.
Não vou contar os milagres, bastando-me deixar registrados os momentos de angústia por que passei no meio de intenso sofrimento, incapaz de reagir perante tudo que a consciência me apontava como errado. De repente, quando me atrevi a reconhecer que estivera errado e que tudo o que se transformara em minha visão é o que considerava verdadeiramente o mais correto, aí é que me enegreceu a visão, ficando solto no ar, como se perdesse totalmente o sentido das coisas. Era eu diante de mim, só que não era capaz de me reconhecer, pois me havia negado o direito a permanecer no erro e não havia construído nada para colocar no lugar.
Durante esse tempo, alguém pode suspeitar que tive algum momento de tranqüilidade, pois, se não atuava bem, pelo menos não cometia qualquer atrocidade ou violência contra as leis. Puro engano. Durante esse tempo todo, fiquei com muito medo, assustando-me a todo momento com o vozerio que me acusava dos males que praticara. Não era a consciência quem agia assim, pois pode parecer que me acusava de algo. Essa fase tinha sido anterior, quando dei prioridade à minha própria pessoa, lamentando-me profundamente por não ter suspeitado de que deveria ter agido melhor para conseguir méritos para não sofrer. Durante aquele período, porém, as vozes que me chegavam ao ouvido, de forma intensíssima, apenas serviam para lembrar-me de que deveria esgotar os anseios de bem-aventurança própria, investindo mais no reconforto dos seres que havia prejudicado.
Era de temer que fossem realizar comigo tudo que fizera contra eles. E isso me deixava transtornado, sem saber exatamente como reagir, dado que não conseguia vislumbrar qualquer entidade a me fustigar. Quando intentava esquecer-me de onde estava, porque não me feriam senão moralmente, aí dores físicas me atingiam, como que se me fincassem, pelo corpo todo, agulhas pontiagudas, a queimar a carne com o fogo dos remorsos.
A linguagem agora dá a impressão de que tudo tinha só o aspecto metafórico. Na verdade, contudo, os sofrimentos eram verdadeiramente comparáveis aos da carne, só que sem a possibilidade do refrigério dos remédios ou dos calmantes, até mesmo da instantânea reação orgânica a proteger a psique para impedir-me de tornar-me louco. Quando ensaiava perder os sentidos, para não sentir a dor atroz que me causavam os aguilhões, aí os tormentos incidiam em todo o organismo, como se tivesse sido arremessado em fervente tacho de óleo.
Teve paradeiro esse longo e misterioso processo de depuração no instante em que roguei honestamente a Deus que me perdoasse. Mas a impressão da dor persistiu, vindo a atenuar-se mui lentamente, pois os primeiros arrependimentos vinham mesclados de intenções de furtar-me da angústia, através da hipocrisia, por ter verificado que estava sendo atendido. Assim, toda vez que me endereçava ao Senhor com malícia, recrudesciam as penas e aumentava o desespero. Esse martírio infernal um dia chegou ao fim, sem que me desse inteiramente por isso.
O próximo passo foi a perseguição real dos seres que me viam bastante debilitado, sem defesas sérias a apresentar. Mas aí era capaz de avaliar as condições ambientais, pois havia reflexos luminosos que me permitiam reconhecer que os desafetos estavam bem longe de merecerem total confiança, seres impuros e imperfeitos da mesma forma que eu. Por essa época, fui compreendendo que podia também arremessar-me contra eles e esqueci-me inteiramente dos fatos anteriores. Já não sofria tanto, embora me desesperasse por estar vendo-me a praticar inúmeros atos que contrariavam frontalmente as juras de perfeição que havia feito ao Senhor. Somente quando percebi que tudo o que havia realizado era a exata configuração da minha real condição espiritual, é que pude refrear os impulsos deletérios, impedindo-me de arremeter-me contra quem vinha trazer suas provocações. Durante algum tempo me vi impossibilitado de reação, diante das provocações, até que percebi que as pessoas que me assediavam estavam tão necessitadas quanto eu de compreensão e benquerença. Foi aí que pedi pelos outros, de forma que pudessem deixar-me sossegado, se conseguissem suplantar suas deficiências. Aos poucos, as melhoras foram acentuando-se, até que recebi aquele empuxão para cima que me conduziu até estas maravilhosas paragens de luz.

Não sei se exatamente esse era o tributo que queriam que pagasse perante os encarnados, neste ato mediúnico. Sei que minhas expressões estão um pouco confusas, tendo ficado bastante embaralhados os fatos, principalmente porque me impediram de fazer referências aos crimes que foram a causa de minha desgraça.
Dizem-me que está muito bom e que os seres que tomarem conhecimento desta comunicação saberão perdoar as imperfeições, mediante as condições bastante adversas em que me vi, diante da necessidade de prestar este depoimento, com o qual concordei, desde que pudesse vir a ser útil para impedir a mais alguém que sucumba diante dos vícios e dos crimes.
Gostaria de complementar a composição, dizendo que, durante muito tempo, argüi o Senhor da necessidade de ter passado por tantas dores, quando os meus inimigos não tiveram a mesma sorte, tendo muitos tido o privilégio de se encontrarem bem mais cedo fora dos círculos infernais. Finalmente, recebi a resposta tão desejada, pois me chegou a intuição ou a informação fluídica — não sei como explicar —, de que o meu mundo só poderia ser avaliado por mim mesmo, enquanto os dos outros só poderiam sê-lo por eles, o que me impedia totalmente de conhecer, na intimidade, a intensidade da dor e do desespero que alcançou qualquer outro ser. Isto que estive a relatar, portanto, é a abertura que me faltou, pois, se tivesse tido a oportunidade de verificar o quanto cada ser mesquinho teve de sofrer para superar as dificuldades de ajustamento ao bem e à verdade, por força de sua grosseria e de seu espírito de rebeldia, talvez me tivesse conduzido com mais serenidade. Sendo assim, espero que os amigos leitores dêem a importância certa para esta manifestação, para o que rogo a Deus que lhes dê luz para a compreensão exata do valor desta oportunidade que o Pai está proporcionando, em boa hora, aos encarnados. O arrependimento nunca é tardio, desde que se dê concomitantemente com a compreensão da verdade.
Fiquem, irmãozinhos, nas graças do Senhor!




Comentário



Trouxemos um irmão bem mais compenetrado dos males que praticou, envolto ainda no espesso manto das dúvidas e das indecisões relativamente a tudo o que aconteceu consigo no âmbito das trevas. Embora tenha muito meditado a respeito das causas e dos efeitos, no sentido cármico das reflexões, não conseguiu bem elucidar inúmeros pontos, tanto que, ao início da transmissão, desejava subtrair-se à descrição psicológica que havíamos combinado, para realizar as perguntas que lhe assoberbam a mente.
Não queremos adiantar conclusões, pois a nós nos pareceu que muito do que ficou impresso tem valor, no sentido da advertência necessária, para quantos espíritas julguem que o céu e o inferno não existam. Na verdade, como pontos no espaço, fisicamente falando, não têm qualquer realidade; mas como reação metafísica ou consciencial, estão aí tão prementes quanto as mais grosseiras interpretações dos mais intransigentes partidários das eternais penas e sofrimentos.
Poderão estranhar os amigos que dissemos céu e inferno. Será, perguntarão, que o céu também não passará de mera criação virtual da mentalidade muito compenetrada do bem e do amor que conseguiu esparzir? Quanto ao inferno, tivemos a possibilidade de trazer o testemunho de um sofredor. Quanto ao céu, vamos ficar devendo quem possa vir dirimir as dúvidas, pois quem atingiu o ápice da bem-aventurança não está disponível para vir contar aos seres rastejantes e impuros o quanto de magnificência se contém no paraíso celeste. De resto, este orbe de prova e de expiação, de sofrimentos, poderíamos resumir, está tão atrasado diante dos níveis evolutivos que são realizáveis nesta galáxia, que qualquer relato naquele sentido poderia parecer indefinido e sem propriedade.
Quem sabe algum dia, um dos espíritos de luz venha trazer o seu testemunho de amor, por obra e graça de especial permissão de Deus, talvez para provocar verdadeira revolução espiritual, no sentido de promover integral assimilação das orientações cristãs, que se encontram bem definidas nas leis de Deus e nos ensinos evangélicos. Aceitemos a nobre expectativa de quem confia nas palavras de Jesus e que se reproduziram pela expressiva linguagem dos evangelistas, estabelecendo para nós, como padrão de procedimento, o dever de cumprir as tarefas do encarne sob a luz do amor a Deus e aos semelhantes. O mais nos será atribuído em acréscimo de misericórdia.
Oremos ao Pai, para que nossa compreensão da vida e da existência consiga ultrapassar as lindes estabelecidas para a inteligência das criaturas mais geniais, para que possamos ficar tranqüilos em relação ao que fazer e ao que esperar do presente encarne. Compenetremo-nos de que todo desenvolvimento exige pequenas vitórias, como o irmão nos sugeriu em sua longa peregrinação pelos meandros da dor e da agonia. Acreditemos em que o mesmo diapasão deverá afinar as harmonias mais sagradas dos que pairam felizes pelas regiões da eterna bem-aventurança.
Se os bons amigos lerem com atenção os dizeres deste comentário, deverão, forçosamente, concluir conosco que o trabalho irá ser difícil e que não deverá demorar para iniciar.







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EVENTOS PERIGOSOS





Cabe-nos explicar o título antes de nos apresentar. É que nos pediram para que trouxéssemos exemplos de casos em que as dores produzidas pelos males atinjam integralmente a consciência do pecador. São acontecimentos simples mas que têm por conseqüência gravíssimos desajustes morais. Quase todos os que pudemos levantar nos foram ditados pela nossa própria consciência, embora nem sempre em condições de fenomenologia tão pura quanto somos obrigados a situar cada um deles, por força de serem compreendidos em sua flexibilidade.
Se nos perguntarem quem fomos na derradeira encarnação, ver-nos-emos impedidos de identificação positiva, como real personagem de carne e osso. Devemos dizer tão-só que vivemos no Brasil desde o início do século e que não conseguimos atingir a época dos lançamentos dos sputiniks, os quais ficaram para nós como mera promessa de avanço tecnológico. É claro que, após uma dezena de anos encerrado em condições de total alheamento da realidade terrena, voltamos à face do globo para perlustrar os acontecimentos que se desenrolaram sem que tivéssemos a possibilidade de acompanhamento e surpreendemo-nos enormemente com os imensos progressos em todos os setores científicos.
Estamos deliberadamente fazendo referência aos interesses enquanto encarnados, para que o pessoal não pense que o que iremos desenvolver seja produto de mentalidade tacanha de sacristia, uma vez que, no plano da espiritualidade, o a que se dá valor é aos aspectos morais dos procedimentos, alijando-se todos os atos de qualquer utilidade prática, a não ser que se dê à atividade cunho inteiramente beneficente.
Eis que estamos prontos para a citação do primeiro evento perigosíssimo para a segurança espiritual dos envolvidos. Quando a pessoa abre espaço na vida para o cultivo da terra, tudo fazendo para o crescimento das culturas, por exemplo, de arroz e de algodão, deve atentar para que o resultado haurido em forma de dinheiro ou de riquezas seja bem distribuído por todos os auxiliares que emprestaram o seu suor e, às vezes, as suas lágrimas e o próprio sangue e da família, para que o patrão pudesse usufruir as regalias dos sucessos. É muito triste perceber-se, nas trevas, latifundiários a lamentar a sovinice e arrogância, muitas vezes ultrajados por antigos empregados, incapacitados de perceber que tudo o que os patrões fizeram refletia, muito provavelmente, atitude de revide de antigos débitos.
Com isto, demos dois exemplos bastante claros de atitudes perversas em relação ao próximo, as quais têm como conseqüência sérios desajustes morais e espirituais.
Como evitar que a riqueza excessiva ou a pobreza miserável contaminem a pureza do espírito em formação ou evolução? Simplesmente dando ouvidos aos conselhos do Cristo nos ensinamentos evangélicos. Se nos recomendou o Mestre que nos amemos uns aos outros, não é com o sentimento tão-só que deveremos comprovar que lhe estamos seguindo as palavras iluminadas, já que nos lembrou também que, para nos encaminharmos ao reino do Pai, deveremos vender o que possuímos e distribuir aos pobres. Vender, atualmente, não é mais necessário, uma vez que não há Cristo a peregrinar encarnado. Mas distribuir aos necessitados é atitude plenamente favorecida pela legislação dos homens, pois não há quem esteja impedido de vender a preço de custo os produtos de que se necessita para a sobrevivência. Por outro lado, se a pessoa tiver cargos políticos no executivo ou no legislativo, que ofereça projetos de lei para melhor distribuição possível das riquezas, evitando, por conseguinte, de chegar ao plano da espiritualidade e de ser acusado pela consciência de que tinha o poder nas mãos e não o utilizou para promover sua evolução, desfavorecendo o auxílio que deveria ter prestado aos semelhantes.
Simples palavra de incentivo pode ser importante para que as pessoas obtenham ânimo forte para o enfrentamento das vicissitudes. E quando o indivíduo é dono de empresa editorial e se nega a imprimir obras espíritas ou a distribuí-las a baixo preço, para que os homens possam fartar-se de sabedoria? E quando os administradores deixam de realizar a construção de escolas, dificultando o acesso a elas de larga faixa populacional? E quando o cargo está vinculado aos processos de restauração da saúde pública e as verbas são malversadas, ficando as pessoas ao deus-dará das doenças endêmicas e epidêmicas, sem socorro apropriado, perecendo precocemente, sem que tenham atingido a possibilidade de compreender os objetivos da vida?
Poderíamos estender-nos mui longamente a respeito das atribuições despercebidas pela ganância com que os terrenos se dedicam a crescer em bens patrimoniais, esquecidos dos irmãos em sofrimento. Mas não são só os poderosos e ricos que não mantêm o procedimento devido, embora sejam os que tenham maiores condições intelectuais e materiais de se compenetrarem da necessidade de se seguirem os ensinamentos contidos nos Evangelhos. Também os pobres, os miseráveis ou sofredores patrocinam situações em que os eventos decorrentes se situam na perigosa faixa dos desregramentos. Não é difícil de encontrar pessoas que se jactam de ignorantes, impedindo qualquer prestação de auxílio na área do conhecimento, de forma que ficam à deriva nesse navegar tumultuado, não aceitando deitar âncora em porto seguro. Não são poucos os que estragam a saúde do corpo e da alma, através dos vícios baratos do fumo e do álcool, não dando qualquer importância à necessidade do regrar dos hábitos, para que as forças estejam sempre condizentes com as atividades de benemerência que poderiam promover. É, segundo seu parecer, muito mais vantajoso ficar na ociosidade, já que despenderam, muitas vezes, cargas pesadas de energia na consecução das tarefas profissionais. Eis atitude mental perigosíssima, pois são os contratos sociais que exigem essa postura diante do trabalho, já que todos devemos ter compromissos com a coletividade. Mas a natureza não requer de nós que estabeleçamos metas muito elevadas, de tal forma que todos os nossos esforços se concentrem na profissão, muitas vezes desdobrando-nos em mais de um emprego, a fim de mantermos o nosso padrão.
Pensamos ter demonstrado que todo esforço deve visar, iniludivelmente, a perfazer os princípios evangélicos, mesmo quando as disponibilidades intelectuais e financeiras não nos permitam mais do que simples participação em campanhas oficiais de benemerência. Até seres muito castigados pelas forças naturais, incapazes de locomoção, podem emitir vibrações de boa vontade a serem aproveitadas pelo plano espiritual para o tratamento magnético dos doentes. Assim, quando a pessoa se encontra entrevada e não aceita essa condição de absoluta inferioridade, está produzindo um evento mental perigoso para a saúde espiritual.
Nós mesmos, quando nos aprestamos a vir trazer o nosso modelo de procedimento, o qual se poderá deduzir da forma que adquiriu o texto, oramos muito para receber dos mentores estímulos energéticos, com que pudéssemos produzir algo que se demonstrasse efetivamente proveitoso para os leitores. Se não agíssemos impulsionados pela relevância desta comunicação mediúnica, menosprezando a oportunidade, certamente seríamos até impedidos de manifestarmo-nos, pois não serviria a exemplificação para o enaltecimento da necessidade de se pautar todo o procedimento pelas leis de Deus e pelos sagrados ensinos de Jesus.
Solicitamos, todavia, apesar de tudo, que nos relevem as falhas de organização e de transmissão, perdoando-nos o atrevimento de considerar este arrazoado digno de ser apreciado pelos encarnados, uma vez que corremos o risco da arrogância e da superioridade moral, já que nos postamos como pregadores de púlpito. Creiam, bons amigos, entretanto, que estamos com o coração opresso, na expectativa de que chegue o dia em que o texto se faça definitivo, isto é, em que alguém venha a ler e a buscar nele algo de bom para aplicar na vida, alterando os procedimentos em descompasso evangélico, de forma a evitar os eventos mais perigosos. Aí poderemos respirar aliviados, pois para alguma coisa útil terão servido estes momentos de profundo constrangimento.
Fiquemos todos nas graças de Deus!




Comentário



Teria sido mais fácil para nós elaborar algum conto em que diversas personagens, segundo características psíquicas próprias, agissem de forma a produzir eventos perigosos. Lançadas tais criaturas nas profundezas do báratro, imediatamente estabeleceríamos a relação entre causa e efeito, para a demonstração de que o procedimento imoral repercute desta ou daquela maneira, conforme fosse este ou aquele o defeito apontado. Assim, vaidosos, egoístas, usurários, viciados em drogas, bêbados et alii serviriam de modelos, para que se desse a identificação do leitor. No entanto, buscamos trazer o testemunho de alguém que se sentiu ferido por diversos atropelos provocados por insuficiência ou irregularidade na aplicação das diretrizes estabelecidas para que a vida frutificasse em virtudes catalogáveis no rol das que produzem progresso espiritual.
Foi dessa maneira que o irmão também entendeu a solicitação que lhe fizemos, tendo desenvolvido muito a contento o texto em que procurou demonstrar que atitudes muito comuns podem significar anos de tormentos conscienciais. Se o resultado do esforço do irmãozinho não repercutir bem junto aos leitores, queiram, por favor, imputar ao grupo as falhas de composição textual.
Resguardado o aspecto pessoal do atrevimento do bondoso amigo, devemos enfatizar a necessidade de cada qual proceder a sérios exames de consciência, ao estilo antigo, determinando, se possível, para cada pequena ação, a correspondência da repercussão moral ou espiritual, para que não sejam ofendidos os princípios evangélicos. Não vamos insistir no ponto da urgência desse tipo de reflexão, pois pode ocorrer que muitos entendam que estejamos fomentando o igrejismo e o retorno aos confessionários. Não queremos que as pessoas almejem do Senhor que sejam perdoadas em seus pecados. O que julgamos necessário é a compenetração de que os valores cristãos é que devem pautar todos os procedimentos, de forma que se instale na consciência de cada qual, naturalmente, um processo de vigilância constante, a fomentar alterações de atitudes e de postura em relação aos acontecimentos e aos pensamentos cristalizados na forma de hábitos.
Se há temer as vicissitudes do arrependimento e do remorso, é porque todos temos o vezo de nos omitir relativamente às necessidades da padronização de comportamento pelas virtudes. Sempre que nos chamam a atenção, logo saltamos para trás, em posição de defesa, e nos dizemos humanos, ou seja, passíveis de cometer erros. O que não aceitamos é a possibilidade que temos de evitá-los o mais possível, através do estabelecimento da serenidade como fundamento para todas as atitudes. Se não temos a certeza de que os nossos hábitos estejam absolutamente de acordo com o concebemos como ponto de apoio para alavancar a evolução, recuemos da decisão precipitada e busquemos aconselhar-nos com a consciência, com as sábias palavras dos conselheiros espirituais, com a sabedoria dos mais experientes, ou com a leitura atenta que estejamos em condições de realizar das obras espíritas, O Evangelho Segundo o Espiritismo à frente.
Muito teríamos ainda para expor neste sentido de prevenir para não ter de remediar, mas confiamos no discernimento do amigo leitor, de maneira que não iremos cansá-lo mais do que já o fizemos. Se é dos depoimentos dos amigos sofredores que mais gosta, que prossiga conosco, pois será esse o roteiro que pretendemos seguir. Queira Deus todos possamos evitar de nos tornarmos um deles. Oremos fervorosamente para isso.







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SOFRIMENTO INSOPITÁVEL





Desde a mais tenra idade, sempre ouvi dizer que as chamas infernais queimavam por dentro. No começo, não entendia a significação da imagem, pois pensava que tais chamas eram realmente o produto da combustão ígnea dos materiais. Quando adquiri consciência de que era o remorso que causava as angústias do arrependimento, aí me desiludi da formosura da religião, pois me parecia muito mais justo ver torrar os estafermos pecadores a tê-los lamurientos debaixo do olhar compassivo dos santos. Não demorou muito para me decepcionar completamente, achando que, pelo que via na face da Terra, facilmente o esquecimento varreria das mentes as lembranças dos crimes e dos vícios, sendo perfeitamente aptos os humanos a safarem-se dos castigos morais que se prometiam para depois da morte. Foi com esse pensamento que pude ir palmilhando as estradas da vida, julgando tudo muito fácil de realizar, pois, quando havia necessidade de burlar as leis, era só desligar-me das conseqüências para os outros, na satisfação do usufruto das benesses que auferia.
Pois bem, quando chegou a hora da despedida, resolvi reconciliar-me com o Senhor; chamei um padre e fiz plena confissão de todos os crimes. Recebi a extrema-unção em estado de pureza moral absoluta, tendo sido convenientemente perdoado por Deus de todos os pecados, por meio da bênção que me foi dada pelo sacerdote, especialmente depois que lhe prometi deixar registrada no testamento grande contribuição para as obras eclesiásticas, em virtude da centena de missas que me recomendou que oferecesse às almas do purgatório, que não tiveram a mesma oportunidade que eu de estarem perante Deus, para manifestar arrependimento e contrição.
Foi com esse espírito que arribei do lado de cá, em formosa tarde de verão, aguardando ser recebido por legiões de esvoaçantes deidades e anjos magníficos, os quais me alçariam ao reino do Senhor, benfeitor que fora de sua igreja. Mas a decepção que sofri foi imensa. Mal cheguei e já fui arrebatado, sem dó nem piedade, de nada valendo as longas exposições que fiz das contribuições que havia destinado à religião. Dizendo-se injustiçados por mim, uns monstros me ataram pés e mãos e me carregaram para as profundezas do inferno, onde cheguei em farrapos.
A primeira idéia que me veio à cabeça foi a de que houvera algum engano e que seria libertado dentro de pouco tempo, não valendo de nada os gritos de vingança que me chegavam de todos os lados. Altaneiro, achava-me superior a tudo, pois firmara a convicção de que o esquecimento dos males iria fazer-me ficar isento de qualquer sofrimento. Realmente, durante mais de dois anos, fiquei na expectativa da salvação, não sofrendo qualquer outro vexame que não o de ouvir, diuturnamente, os queixumes dos impenitentes, almas esvoaçantes que adejavam em torno de mim, suplicando uma palavra de carinhoso afeto para a recompensa que desejavam destinar-me de não me ferir mais. Como fui completamente intransigente, aos poucos os seres foram assumindo posturas agressivas, ao tempo em que fui verificando que a minha pele estava bastante molestada pelos esfregões que dava de encontro às paredes das cavernas.
De repente, num estertor de agonia, vi-me arremessado em fogueira ardente, onde os tecidos pururucaram feito toicinho posto na brasa, verdadeiro torresmo humano em que me transformei. Pensei que estaria acabado, pois o temor da morte me invadiu a mente, como se estivesse ainda encarnado. As dores eram atrozes e os estentores tão lancinantes que pensei que repercutiriam por todo o espaço, até atingirem os protetores celestes que haviam falhado tão lamentavelmente, esquecendo-se de mim.
Nessa agonia fiquei durante tempo indeterminado, já que não me saía da cabeça que, de um momento para outro, iria entregar a alma a Deus, esquecido inteiramente da condição espiritual. Foi preciso que me lembrasse das intuições infantis, para reconhecer-me dentro do inferno moral que julgara tão fácil de engodar. Aí as dores físicas, se assim posso dizer, serenaram, para darem vez aos sofrimentos puramente emocionais ou sentimentais, já que comecei a deplorar angustiadamente tudo o que fiz de mau. Não me molestava a mente o sofrimento dos seres que havia espoliado, cuja morte material e moral havia consumado, por incompetência absoluta de compreender o que deveria ter sido a minha vida.
Essa fase da agonia perdurou por mais de trinta anos, sempre acrescentando aspectos novos aos sofrimentos, mesmo quando ia perdendo a lembrança de certos malfeitos, para recordar-me perfeitamente de outros. De crime em crime, fui tomando conhecimento de todos os movimentos da consciência, como se a alma tivesse o condão de ir desnudando-se bem aos pouquinhos, para incrementar de dor o coração angustiado. Era sofrimento insofreável aquele que me obrigava a percorrer todas as nervuras do mal que havia produzido. Parecia uma longa corda totalmente enrolada, que deveria ir tomando a forma primitiva bem devagarinho, voltando todas as suas faces doloridas para mim, de forma a ficar conhecendo cada pequenina fibra contorcida.
Não sei por que processo misterioso, a mente fica absolutamente lúcida, capaz de observar tudo, como se nada deixasse de ter interesse. Se fosse possível transportar tal poder de visão para os olhos humanos, dificilmente haveria, neste instante, qualquer segredo na natureza, tão completas são as sensações que se produzem internamente. A cada pequeno fato, corresponde vigorosa reação psíquica, de forma que tudo passa a representar algo de muito valor, que não se pode desprezar. Era exatamente o contrário do que me havia proposto executar, se, por acaso, me visse na condição de receber acusações da consciência.
Não havia como fugir à condição de réu dos crimes, havendo total propriedade nas penas que eu mesmo julgava as mais oportunas para o resgate em dor de cada destrambelho. O estranho é que não me vinha à cabeça, em momento algum, a possibilidade de receber ajuda de quem quer que fosse, pois me via a mim como ser único no universo, enaltecimento grandioso do egoísmo a que me havia consagrado desde tempos imemoriais.
Mas todo esse sofrimento ia sendo purgado de forma a propiciar-me condições de soerguimento. Eu é que não estava apto a julgar que o arrependimento fora arma valiosíssima para subjugar-me o ego, de modo que, finalmente, pudesse admitir que estivesse totalmente equivocado em minha visão cármica da vida. Era a dor que deveria sofrer em alguma oportunidade, para que pudesse vir a receber os benefícios da luz. Muito mais tarde, vim a saber que os devaneios infanto-juvenis tinham tido alguma boa influência para a composição idealizada das situações, de forma que pude utilizar-me de idéia mal formulada, para criar as condições do pagamento dos débitos. Se tivesse tido lampejos de espiritismo e se tivesse desconfiado, em boa hora, a respeito do que poderia vir a ocorrer comigo, certamente iria criar outras condições ainda mais favoráveis, pois estaria esperando os embates do sofrimento, podendo socorrer-me dos protetores para a compreensão das causas e respectivos efeitos, segundo a lei da justiça a que ninguém pode furtar-se.
Não estou sendo solicitado a estender-me a respeito do que ocorreu a partir do momento em que fui resgatado daquele odioso abismo, onde curti todos os males que provoquei. O que me resta dizer é que estive muito próximo de considerar tudo exatamente como se se concretizassem realmente as chamas infernais. Se meu depoimento puder servir de ajuda a alguém que, maluco como eu, aspira a furtar-se do pagamento dos débitos, dar-me-ei por satisfeito de ter participado desta maravilhosa tarde de psicografia, junto a estes irmãos da Escolinha.
Antes de retirar-me, desejo deixar impresso agradecimento à equipe que vem cuidando de mim bem como a esta turma que tão carinhosamente foi buscar-me, no leito em que jazia a restabelecer-me, para a mensagem esclarecedora. Penso ter satisfeito todos os quesitos que me foram encomendados, mas, se algo mais for necessário que diga, podem contar comigo.




Comentário



Não é desejo nosso espantar quem quer se atreva a perlustrar estas páginas, na ilusão de receber algumas aulas para facilitar o ingresso nas terras do Senhor. Se não tiver sido esse o desejo do amigo ao adquirir esta obra ou ao apanhá-la na estante para a satisfação de mera curiosidade doutrinal, queira saber que tudo o que estamos ensejando aos queridos amigos sofredores nada mais é do que simples ocasião de revelar os sentimentos que portavam no momento em que se sentiram abandonados, no fundo das trevas abissais das consciências. Bem poderíamos vir trazer o relato comovido de alguém mais experiente, que já tivesse tido a oportunidade de superar, desde há muito, essa condição. Mas são testemunhos descoloridos, pois se deixam embalar por falsas impressões, já que os dizeres se vestem de imagens e de retórica, as primeiras, a camuflar com poesia o estado maltrapilho em que ficam os seres em ato de profundo desespero; a segunda, a revestir os fatos com mandamentos e exortações de caráter espiritual, tanto já ouviram recomendações da consciência, para que não mais caiam em esparrelas daquele tipo. Esta seria a nossa própria tendência, pois estamos relativamente esquecidos do que se passou conosco nas profundezas do báratro. E devemos levantar os braços ao céu em atitude de pungente agradecimento por estarmos desligando-nos do horror que é ficar imerso nas profundezas de consciência culpada.
Perdoe-nos, pois, o amigo, por estarmos desenvolvendo, sob a forma de exemplificação, a noção de que tudo que se vier a gozar ou a sofrer deste outro lado da realidade depende exclusivamente do cumprimento das premissas consignadas para cada encarne. Estamos tentando trazer tão-só simples alerta, em momento que julgamos oportuno para a reformulação das diretrizes do procedimento, qualquer seja o estágio atual da peregrinação. Sempre é hora de admitir como perfeitas as orientações evangélicas, já que nada há sobre a face da Terra tão completo quanto os ensinos de Jesus.
Se pudéssemos atender aos inúmeros pedidos que sentimos na intimidade das pessoas, traríamos quantos sofredores tivessem perpassado pelas mesmas sensações de insegurança, relativamente ao valor moral de cada atitude. Mas é impossível exemplificar à exaustão todos os males que infestam as mentes e os corações. Por isso, decidimos trazer situações de caráter geral, demonstrando que os sofrimentos são realmente insopitáveis, caso haja menosprezo de todas as recomendações conscienciais. É hora de sabermos disso definitivamente, para não nos julgarmos tão-só imperfeitos, mas perfectíveis, ao ponto de um dia virmos a merecer estar com Deus em seu paraíso de amor.
Saibamos agradecer comovidamente as oportunidades que estamos tendo, nós, de nos aperfeiçoarmos no aprendizado do socorrismo espiritual; você, no da compreensão integral dos deveres cármicos. A partir daqui, restar-nos-á elaborar projeto de ajuda aos irmãos, para que possamos ir crescendo em virtudes. Este é projeto comum, que poderá desenvolver-se concomitantemente, se o companheiro destinar parte do tempo para a benemerência de caráter mediúnico, nos centros espíritas, no acompanhamento das sessões de doutrinação e de desobsessão.
Oremos, amigo, em conjunto, para que consigamos irmanar-nos em nossos ideais cristãos.







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FORÇA DE VONTADE





Desde tempos remotos, o plano da espiritualidade vem desempenhando o seu papel na orientação dos humanos, quer sob a forma direta de sugestões intuitivas, quer sob a forma de linguagem cifrada, produzida por meio de pitonisas e mágicos de toda espécie, em todos os lugares. Até um século e meio atrás, era bem assim que as coisas se passavam. De lá para cá, acrescentou-se outra forma de comunicação bem mais direta, ou seja, a transmissão, mais ou menos segura, que se faz por meio de pessoas com o dom da mediunidade, através de vários recursos, mais comumente pela fala e pela escrita.
Não estamos revelando qualquer novidade ao leitor que tem a doutrina espírita na base de sua crença religiosa ou formação filosófica. Pouco importa, entretanto, o que se possa dizer aos homens, que sempre acham um meio qualquer para anular a autoridade dos emitentes, suspeitosos de que haja algum tipo de falsidade a presidir as comunicações que não sejam de seu interesse atender, principalmente porque exigem deles que alterem os rumos materiais de suas vidas, rejeitando o de que mais gostam, muitas vezes para que não se vejam despojados os irmãos mais pobres.
Cedo esses indivíduos se desestimulam de continuar oferecendo os préstimos às forças positivas do plano espiritual, pois se julgam injustiçados, já que muito pensavam fazer pelos irmãos sofredores. Mas acontece que existem inúmeras pessoas carentes de verdade, a ponto de estarem a pique de não aproveitarem o encarne, inseguros se sentem de tudo, por completa alienação da realidade corpórea e espiritual, tantas são as debilidades mentais provocadas por total insuficiência de recursos orgânicos.
Quando a pessoa sofre mas é capaz de discernir as razões da vida e da existência, apesar de estar totalmente desvitalizada por falta dos alimentos adequados à sobrevivência, pode-se pensar em que esteja passando por momentos difíceis devido a crimes a serem resgatados nesta oportunidade. Ocorre, porém, que existem seres por demais debilitados, que não conseguem sequer pensar a respeito das coisas. Atendê-los nas necessidades é dever de todos os que possuem um pouquinho de noção do que seja espírito de cooperação, não precisando sequer estar imbuído das verdades cristãs. Basta ter boa vontade para arremeter-se em auxílio daquele que se acredita possa vir a ser útil para a sociedade, se tiver o mínimo necessário para sobreviver com dignidade. Sendo assim, existem materialistas ferrenhos que conseguem estimular os irmãos ao crescimento, muito mais do que outros que se supõem plenamente apaniguados de benefícios espirituais, mas que se recusam a considerar os apelos seguidos que recebem, às vezes até da própria consciência, não havendo sequer um único protetor a estimulá-lo à reflexão.
Que dizer quando os amigos em estado de desajuste apanham qualquer texto deste tipo, para reforço das intuições que os guias estão a despejar-lhes na mente e no coração, deixando sequer de levar em consideração as palavras de muito amor com que se intenta desviá-los do caminho egocêntrico, para remetê-los em apoio dos sofredores?! É de estarrecer que isto venha a ocorrer com muitos que, aparentemente, se deixam envolver emotivamente pelos apelos mais sentidos dos que sofrem ou dos que desejam que não venham a sofrer.
Vamos desenvolver o espírito de solidariedade, baseando-nos nas palavras do Senhor em seu evangelho de luz. Amemo-nos uns aos outros e não consideremos mera obrigação o ato de estender os braços para agasalhar os que sofrem. Não nos aborreçamos com as palavras dos que desejam auxiliar na meditação construtiva da realidade superior da existência, pois todos os caminhos nos deverão conduzir ao reino do Senhor.
Depois que tivermos pleno domínio da vontade e formos capazes de bem distinguir o que significa mero desejo de descanso do real empecilho moral que nos arrefece o ânimo, diante do fato de termos de sacrificar alguns aspectos materiais de nossas posses, aí ficará muito mais fácil de perlustrar os caminhos abertos por Jesus, em função da realização de todos os objetivos da vida.
Parece que estamos discorrendo há tempos de forma inteiramente hipotética. Por isso, vamos exemplificar com atos banais, que todos estão necessitados de executar a todo momento, quais sejam os do amor aos filhos, aos parceiros e amigos, aos colegas de trabalho, aos pais e mães, aos que conosco mourejam nas casas de assistência, enfim, a todos os que, de uma forma ou de outra, partilham dos mesmos ideais de humanidade, já que internados todos estamos no mesmo corpo, tendo a correr pelas veias o mesmo sangue. Se nos considerarmos irmãos em Deus, então seremos capazes de bem avaliar quem é o nosso próximo para elegê-lo alvo de todas as atenções.
Se quiséssemos ser pregadores à moda antiga, bastar-nos-ia determinar que se cumprissem as leis de Deus estabelecidas ao tempo de Moisés, bem como que se seguissem as recomendações de Jesus, contidas nos Evangelhos. Eis que se resumiria, deveras, todo o conteúdo das leis e dos profetas, na linguagem bíblica bastante divulgada entre as religiões ditas evangélicas.
Vamos, pois, deixar de considerar vitoriosos só os que ostentam grande cópia de riquezas e fiquemos maravilhados com as conquistas morais que muitos são capazes de realizar, sempre que conseguem fazer ver aos ricos e aos pobres que mais ainda podem conseguir no campo da benemerência.
Eis a decisão que se espera de quantos estejam tornando-se conscientes da necessidade do trabalho socorrista, em virtude de estarem impressionando-se com as narrativas dos amigos que trazemos para os relatos das dores e dos sofrimentos. Não era outro o objetivo em vista, principalmente porque sabemos que o receio de virem a acontecer as desgraças também conosco é o que mais movimenta as pessoas a se tocarem em que estejam talvez agindo completamente fora dos parâmetros ditados por Jesus.
Se estiverem ainda em dúvida, por julgarem muito simplórias as expressões utilizadas por este grupo, que o que mais sabe fazer é ir em busca dos que arquejam em pedidos de socorro, então que se leiam as belíssimas páginas dos espíritos mais apaniguados pela possibilidade de argumentar com mais força e poder de persuasão, como sejam André Luís e Emmanuel, para só citar dois dos expoentes da mediunidade do século XX.
Fiquemos por aqui nesta exortação obrigatória após alguns relatos muito sofridos. Cumprimos o nosso dever e esperamos que todos o façam, igualmente cônscios de que, mais do que um ato formal, seja, antes e acima de tudo, um ato de profundo amor, uma vez que se deve sempre agir imbuído de que se esteja jogando todo o ser em cada pequenino desforço, a cada instante mínimo da existência. Não iríamos tentar deixar algumas palavras para serem de imediato esquecidas. Mesmo que tenhamos a presunção de estar agindo perfeitamente dentro das normas socorristas, muito embora conscientes da fragilidade intelectual dos participantes do grupo para mister tão elevado e importante, ainda assim não desfaleceremos no esforço concentrado de reiterar os avisos de prudência, de fé, de esperança e de caridade, no exercício pleno do amor ao próximo, por amor ao Pai.
Sabemos que o que mais se contém nos dizeres dos aluninhos que perpassam por esta pena é este tipo de desenvolvimento exortativo para o bom emprego das energias, na consecução das tarefas ditas caritativas ou benemerentes. Mas nem por isso, porém, iremos deixar de programar também os nossos textos de advertência, para, quem sabe, podermos atingir outros amigos, que tenham tido o impulso de apanhar o nosso compêndio, ao invés de qualquer outro da Escolinha.
Finalmente, crentes de que mais do que escrevemos iria enfastiar por demais os amigos leitores, como ainda exaurir as energias ao escrevente, vamos fomentar o desejo de que tudo se realize em harmonia com as forças espirituais superiores, para o que não há outro caminho a seguir que não o da religiosidade, da oração, da prece contrita, da frase emocionada e esperançosa. Fiquemos todos nas mãos de Deus, que saberá olhar por todos nós nas específicas necessidades de cada um!







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ALIENAÇÃO





Tenho tido a felicidade de poder conhecer os desígnios de meus superiores em relação ao que se espera de mim. Pode parecer pouco, em se sabendo que todos os espíritos merecem total consideração dos protetores, entretanto, nem sempre se dá ouvidos aos apelos dos orientadores, da mesma forma que se faz no orbe terráqueo em relação às intuições que os guias conseguem assoprar no âmago da consciência dos pupilos.
O pior se dá quando o espírito toma conhecimento dos deveres e faz de conta que não se trata de nada relativo à sua pessoa, quer por natural irresponsabilidade, quer por considerar por demais penoso atingir os pontos de evolução que lhe são propostos.
Pode parecer estranho que haja essa possibilidade de rebeldia no plano da espiritualidade, mas será perfeitamente compreensível, se fizermos alusão a que o livre-arbítrio é dom de todas as criaturas, de modo que, se alguém não quiser satisfazer algum preceito que lhe é ditado pela consciência ou proposto pelos maiores, simplesmente se furta a cumpri-lo, mesmo que represente flagrante rompimento de compromissos firmemente estabelecidos.
Quando tal ocorre, certamente será algo sintomático, a demonstrar cabalmente que o espírito não se compenetrou da necessidade de ser dócil às prescrições cármicas, no cumprimento das leis de causa e efeito e das demais, tão conhecidas de todos os que perlustraram as sagradas páginas de O Livro dos Espíritos, de Kardec, pela mediunidade de diversos seres despertados para a benemerência e que jamais se negaram a prestar assistência ao inolvidável mestre lionês, a quem se deu a responsabilidade da codificação da doutrina espírita.
Fizemos questão de indicar a dedicação de diversos encarnados, para poder argumentar que os resultados dos trabalhos assumidos e desempenhados podem significar profunda ajuda a toda a humanidade. Se aqueles indivíduos se abstivessem de contribuir para o progresso do pensamento espírita, com certeza os amigos do espaço teriam encontrado outros aptos para o mesmo serviço, mas à custa de muita preparação, necessitando adiar o advento da Terceira Revelação para futuro indefinido.
Como o amigo leitor vê estes pontos por nós levantados? Sente que deveríamos esclarecer um pouco mais o grau de responsabilidade, indicando as conseqüências funestas que aguardam aos que se negam a partilhar dos eventos ou preferem ficar imaginando quais seriam os resultados para o desenvolvimento de cada um dos seres envolvidos em tais circunstâncias de alienação moral?
Quanto a nós, damos preferência para a atitude de compreensão dos fatos, no enaltecimento de que tudo o que se faça em prol de vários irmãos será sempre prioritário em relação a qualquer atividade que presuma o adiantamento de um só, mesmo porque, em sendo assim, quase sempre existe total falta de proporção entre o bem desejado e o conseguido, uma vez que fica bem claramente demonstrado o egoísmo sobre que se ergueu o edifício, construído à revelia das forças misericordiosas dos planos mais elevados.
Fala-se muito em luz advinda desses recantos divinos, onde os irmãos mais evoluídos prestam os seus serviços a Jesus, mas, quando se requer que tal compreensão repercuta no modo de vida ou de existir das criaturas, quase sempre o que se vê é grande choque entre o que a mente foi capaz de elaborar, através de sua forte imaginação, e o que a vontade é capaz de conseguir, através do trabalho sacrificial em que se exige total desprendimento de inúmeros projetos particulares.
Não vamos insistir mais neste tópico, senão vão acreditar que estejamos sendo absolutamente irresponsáveis ao apontar o caminho da dor e do sofrimento como único para o engrandecimento da alma. Na verdade esse é o pior meio de se alcançar qualquer nível mais elevado de progresso. O que desejamos enfatizar é o fato de que, através do amor e da civilidade, é que mais se consegue progredir, já que é esse o sentimento que mais incentivamos, desde que o Cristo nos deixou absolutamente claro que se trata do principal mandamento da lei do Senhor.
Quando nos referimos a quem esteja alienado em relação aos preceitos cristãos, é porque temos a certeza de que não bastam apenas recomendações e conselhos, mas é preciso evidenciar fortemente a verdade, para que não se caia nas armadilhas que os maus hábitos e as más qualidades preparam. Se o indivíduo deseja fazer prevalecer o ócio, a preguiça, o arrependimento será certo, quando vier a descobrir que tais atitudes estavam impedindo que sua visão se enchesse do amor do Pai.
Basta-nos, por ora, ter dado relevo a estes conceitos, pois o que nos atemoriza é o fato de o bondoso leitor ficar entediado por não encontrar algo bastante concreto em que fixar possa as bases filosóficas do procedimento. Então, que fique bem certo de que os alunos da Escolinha estarão sempre deixando claro que são os deveres prescritos por Jesus que deverão constituir o fundamento de qualquer criação de objetivos de vida. Se o amigo desconfiar de que não temos razão, paciência! Ficaremos aborrecidos mas não desanimados, pois é do feitio dos que socorrem os que se debatem nas trevas da consciência estar prevenidos quanto a resistências inúmeras de caráter argumentativo.
Quando não há meio algum de se fazer chegar à razão ou ao coração dos socorridos a verdade evangélica, aí recorremos à prece, para que do Alto descaia a bênção da luz do entendimento, já que os mais poderosos têm melhores atributos com que convencer os arredios, os impenitentes, os teimosos, os caturras, os maliciosos, os hipócritas e os malfeitores.
Talvez haja quem duvide de que estejamos realmente interessados na redenção de todos os que estão, a todo momento, mangando de nossos serviços, na expectativa de que desanimemos, podendo cantar vitória sobre as forças representativas das equipes que são enviadas em missões de resgate. Mas acontece que todos somos igualmente filhos de Deus, de forma que todos deveremos um dia acrescentar um pouco de merecimento ao total dos atributos, o que nos remeterá de vez aos páramos da bem-aventurança. Se as pessoas retardam indevidamente esse augusto instante de felicidade, diligenciamos nós para que venham a tomar a sábia decisão de parar de provocar a sorte, só conseguindo cada vez mais sofrimentos, já que o desespero, quando chega a compreensão dos próprios erros, é quanto mais penoso quanto menor tiver sido o interesse em considerar os argumentos dos que se esforçaram por se fazer entendidos, no que respeita às virtudes cuja aquisição estava sendo postergada.
Aí restará esclarecer que o que fazemos não deve ser considerado mero trabalho ou serviço, mas apostolado de amor, ou então a frigidez dos que se conhecem mercenários do auxílio ficará como roteiro das conclusões dos que não chegam a compreender que existe total possibilidade de se crescer em atributos positivos, de forma que um pouquinho de angelitude se deve conter nas atitudes dos irmãos que se dedicam exclusivamente a favorecer o progresso dos amigos. Sem humilhações indevidas, mas com modéstia e muita contenção de arroubos, os que aspiram a realizar a salvação dos irmãos navegam nas calmas águas de Jesus, segundo a palavra de alerta destinada aos discípulos eleitos.
Tudo o que estamos usufruindo está ao alcance dos encarnados, bastando que tenham boa vontade e desejem, realmente, viver com os olhos voltados para a espiritualidade, verdadeiro destino de quem se sabe criatura de Deus.
Quiséramos ter o dom da palavra para poder trazer as que melhor nos traduzissem os sentimentos, no intuito de convencer os amigos de que estarão certíssimos, se se contentarem com os exemplos de Jesus, desprezando integralmente os desejos mundanos de crescimento na matéria. Sempre haverá quem possa constituir-se no exemplo contrário ao que estamos propondo, entretanto, como gostaríamos de poder dizer que, à vista da benemerência universal, os homens conseguiram fazer regredir o mal a ponto de voltarem a ocupar a Terra na condição de paraíso de delícias!
Eis que tudo será possível, se bem pudermos considerar os desejos de ventura como resultantes do serviço executado, com muita alegria e dedicação, em prol da felicidade dos irmãos. Fora disso, há de ser mero egoísmo.
Pensem nisso!







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AO MÉDIUM, COM AMOR





Deseja o bom amigo atender ao pedido que leu em forma de versos , esquecido de que deve, humildemente, aguardar, com paciência, que seja procurado durante os trabalhos de que irá participar, dentro em breve, nas mesas do socorrismo fraterno dos centros espíritas.
Não tenha pressa, portanto, a menos que desconfie de que tudo possa estar sendo realizado em forma de mentiras e de mistificação. É claro que não é isso que se passa, não é verdade? Então, fique quietinho, esperando chegar a sua vez, para o que vá lendo e trabalhando sobre os textos que lhe sejam ditados. Este mesmo que ora estamos trazendo deve constituir-se em algo à parte do corpo dos últimos comunicados, tanto que está sendo elaborado de forma acentuadamente diferente.
Não fique desconfiado de estar sendo enganado e vá escrevendo, de acordo com as vibrações que lhe estão chegando à mente. Não se preocupe com a correção gramatical nem com a forma das frases. Registre os impulsos tão-somente, já que estamos muito contentes só com o fato de estarmos sendo atendidos.
São poucas as explicações que temos para deixar impressas no vídeo, pois a maior parte das informações já lhe deixamos impressas na mente, ficando o restolho tão-só para ser escrito, como se tudo o que os dedos estivessem fazendo fosse responder a umas quirerinhas de vontade.
Fique, amigo, na paz do Senhor e reze muito para que o seu padrão vibratório vá adequando-se para o apanhado dos ritmos frásicos da poesia. Isso será trabalho de mérito, se você conseguir aperfeiçoamento mediúnico nesse sentido. O mais ficará por conta dos transmissores, que estarão muito felizes por conseguirem mais um bom médium para coadjuvá-los na confecção poética.
Não se assuste, finalmente, se estamos abusando um pouco de sua paciência, mas achamos que você está um pouco desiludido ou decepcionado com as formulações deste último grupo, que não tem trazido nada de novo, embora ainda não se tenha a visão completa do trabalho que está sendo realizado. Quer parecer-lhe, no íntimo, que há algo de muito importante nas entrelinhas e que a formulação dos textos está sendo feita com extrema maturidade e inteligência, mas nada há de espetacular que possa vir a arrebentar a boca do balão, na expressiva linguagem popular.
Não estamos interessados nisso e, portanto, estamos pedindo-lhe que se conforme em se limitar a registrar os ditados, circunscrevendo a sua atitude em ser mero apanhador de textos. Não é isso o que mais chegou a desejar durante largo tempo da vida? Pois agora não queira ser exigente relativamente ao teor do que se está definindo, fique calmo, não se arreceie do que vem por aí e muito menos fique constrangido, por estarmos referindo-nos a esses impulsos íntimos de sua personalidade. Não veja nisto qualquer força anímica, senão o desejo nosso de vir-lhe em socorro, para podermos harmonizar os planos, para que o trabalho alcance sucesso, segundo os objetivos propostos pelos mentores.
Veja como, de repente, os dizeres ganharam volume e a palavra se encorpou, readquirindo os estímulos habituais eleitos por esta turma para os trabalhos oficiais. Sendo assim, aceite-nos tais quais somos, e esqueça que aqui estivemos, estimulando-o de forma quase negativa, para que a reflexão atinja o nível da decisão que estava um pouco arrefecida. O mais será simplesmente destinar o tempo para a prece estremecida, já que o Pai irá enviar os seus prepostos para insuflarem-lhe na alma a vontade e a coragem de ajudar os amigos da Escolinha.
Está você dizendo que exageramos e que quem for ler estas palavras terá a falsa impressão de que esteja havendo má vontade quando, na verdade, o que se registrou, concernentemente aos sentimentos íntimos, são fugidios impulsos conscienciais, absolutamente refreados e sopitados. Nada do que se disse tem real valor no campo da vontade demonstrada, mas é o só reflexo de algum desapontamento, por não se ter realizado, in totum, os anseios de que o mediunato lhe seja reconhecido, o que se constitui, deveras, em ponto negro da contextura moral. Não queira negar este aspecto.
Se não quiser deixar registrado o que escrevemos, basta apagar, o que é extremamente fácil, mas, se deixar, saiba que servirá como exemplo de devassamento consciencial mediúnico aos amigos que desejem servir à espiritualidade, já que estamos conversando mui intimamente, para colocarmos os pingos nos ii.
Adeus, caríssimo. Perdoe-nos o atrevimento e saiba que muito dependemos de sua boa vontade para o prosseguimento dos exercícios. Se você acha que o pessoal que redigiu esta parte não é o mesmo que vem ditando os argumentos da equipe cujo nome ainda não foi declinado, você se engana. É o mesmo pessoal, mas com outros objetivos e outro roteiro. Não é à toa que somos grupo de socorristas muito habituados a tratar com seres inferiorizados momentaneamente, por condições morais adversas. É preciso estimular-se para o trabalho de todo dia, sem os limites de tantos caracteres ou de tantas palavras ou páginas. O que nos importa é avançar nas aulas e isto nós fazemos, sem que a parte da psicografia venha a constituir-se em algo por demais absorvente. Veja que, nesta fase dos trabalhos, meras observações estão tomando bastante espaço, sem que tenhamos o desejo de refrear os impulsos, antes de termos tudo definido com propriedade e clareza.
Se você se cansar, estará negando a oferta generosa de trabalho que nos fez, pois nos prometeu ficar enquanto necessitássemos de seus atributos. Claro que não vamos esgotá-lo, mesmo porque não são tantas assim as recomendações que temos para fazer-lhe. Mas veja como as frases adquirem as tonalidades razoáveis de quem se deixa ir levando pelas palavras, a ponto de configurar que existe até a intenção de deixar claramente expresso que a equipe está aproveitando-se do ensejo, para estabelecer inúmeras avaliações a respeito dos ditados que está apta a realizar.
Abramos o coração para a verdade e saibamos enxergar dentro dele as ervas daninhas a serem arrancadas. Este é o tipo de trabalho que estamos requisitando a todos os amigos leitores. É preciso, portanto, que o ponto de vista da equipe, relativamente aos impulsos íntimos, fiquem bem evidenciados, no sentido de revelar que os médiuns não podem esconder dos doutrinadores e dos orientadores nada do que lhes passa na alma. Se existirem, porém, tendências desconhecidas para nós, é porque os anjos guardiães não permitiram que fossem devassadas as que não apresentavam qualquer interesse para o trabalho que está sendo desenvolvido pelos alunos. Sendo assim, resguardam o amigo de esquadrinhamentos ainda mais profundos e evitam que sejam incentivadas revelações que seriam muito penosas, passando o mediador a sofrer, quando deveria apenas alegrar-se com o serviço que presta a Jesus, pois tudo o que traz benefício aos semelhantes se coloca na conta do Divino Mestre, como se a ele tivesse sido feito.
Veja como estamos indo bem longe nestas observações ditadas ao sabor das intuições do companheiro encarnado, que vai dispondo os temas sob forma de interrogações sutis, que mal chegam a se formular com nitidez tão rápido vai escrevendo, sem se dar tempo de refletir a respeito de tudo o que se passa no interior da mente ou da consciência.
Aos poucos, o nosso atrevimento vai cedendo, de forma que estamos um tanto exaustos pelo esforço continuado de promover ditado de muitas laudas seguidas, sem descansos que nos deixariam refletir a respeito do todo que ficou consignado. Neste campo, o nosso mediador é muito bom, pois não nos permite jamais que nos afastemos da linha que adotamos para a apresentação dos nossos pontos de vista, de forma que nos obriga a ir formulando as idéias bem rapidamente, para que vá escrevendo sem trégua.
Ele mesmo sabe muito bem até onde deseja ir, tanto que nos permitiu um instante de meditação, para que bolássemos um meio de dispensá-lo, para o tradicional restabelecimento energético, especialmente hoje que tantos foram os minutos destinados a este trabalho, já que se contam por mais de cem.
Sabe o médium que temos a obrigação de enaltecer a prece como algo muito importante em situações como estas, em que houve aspectos morais envolvidos, o que poderia deixá-lo preocupado. Mas não vamos dar-lhe a palavra, pois o que queremos consignar ao final é o muito de amor que se contém em sua atitude, já que se dispôs a propor-se ao trabalho em caráter sacrificial, para podermos deixar registrado, indelevelmente, que estamos tendo todas as oportunidades de progresso. Fique, querido irmão, nas graças do Pai e saiba orar com afeto por todos os amigos que aqui compareceram para lhe trazer o apoio que nunca lhe faltará.
Se quiser prosseguir, saiba que rogaremos muito ao Senhor para lhe trazer inspiração, uma vez que estaremos retirando-nos, após termos orado um pai-nosso pelo restabelecimento das forças de todos os que participaram desta sessão.
Pai nosso, que estais...







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SUBLIME ALEGRIA





Não é preciso utilizar muito a imaginação para saber distinguir desde logo qual é a alegria maior dos socorristas: é, evidentemente, o fato consumado do socorrismo, ou seja, quando algum elemento muito pernicioso deixa de atuar desfavoravelmente para o seu progresso e admite aceitar as prerrogativas da ascendência moral de quem vem auxiliá-lo em nome de Jesus, por força da aplicação das verdades evangélicas. Aí, no íntimo de cada membro da equipe, jorra a felicidade, por saber que todos os argumentos empregados estão a refletir, iniludivelmente, a assimilação dos bens espirituais que se encontram nos dizeres evangélicos.
Irremediavelmente frustrante é o acontecimento inverso, ou seja, quando os atendidos escapam das mãos que tentavam protegê-los, ficando o grupo com a sensação de vazio, como se algo tivesse ficado sem aprender, estando cada um em débito em relação aos demais. Quando existe bastante harmonia entre todos os da equipe, logo se apresenta o orientador para explicar onde se deu a falha, quer do ponto de vista da pregação, da exemplificação ou de algum ato de manifesta má vontade captado pelo atendido, que descrê da possibilidade de vir a ser ajudado por alguém que tão fracamente se deixa envolver por situações de inferioridade moral, quando o seu discurso principal se dá exatamente na mesma área do procedimento humano.
Mas as tristezas se vão com o estudo e a camaradagem, de forma que sempre haveremos de suspeitar de que estamos sendo profusamente auxiliados, já que nunca se acaba o estímulo para o prosseguimento do trabalho. Não fora isso e, certamente, os grupos se dissolveriam, já que não se sentiriam equilibrados e em harmonia, provocando-se a ruptura do coleguismo, que deve prevalecer para se firmarem os laços de amizade, o que reverterá em amor genérico e, posteriormente, em apego pessoal profundo, vinculando-se os seres como se não mais pudessem dissociar-se pela eternidade.
Claro está que estamos falando em termos de existências paralelas e não em cruzamento, de forma que as pessoas jamais se encontram definitivamente, a não ser se o aperfeiçoamento transcender as condições precárias das ligações pouco arraigadas, como as que se dão no âmbito deste planeta de expiação e dor. Aqui a malícia transporta os seres para diante de si mesmos, pois é infalível que aquele que classifica o outro como mau se veja, de repente, sendo caracterizado pelos mesmos princípios de valorização da vida ou da existência. É muito comum, pois, haver confusão entre os benefícios que se podem usufruir de amizades muito sinceras, e os interesses em que há obsessão e sofrimento.
O amor ultrapassa esses limites da amizade e se contém de forma mais profunda no âmago dos relacionamentos, de modo que quem ama é capaz de permanecer afastado dos seres amados por longos períodos, compreendendo a necessidade que têm de desenvolvimento, em setores para os quais ainda não se ofereceu, por falta de capacidade ou de interesse. Assim, deixar os seres amados irem mais adiante, é obter a serenidade de que os elos são definitivos, pois se saberá que qualquer afastamento, por mais longo possa ser, será o prenúncio de regresso muito feliz, o que se constituirá em perenal alegria.
Por outro lado, não se pode admitir, no etéreo, que os vínculos do amor se estendam para duplas de seres, mas que devam ser tentáculos mil a prender comunidades inteiras, de sorte que o amor não será tão-somente sentimento individualizado, mas algo que se dispersa por grandes multidões, de forma igualmente distribuída. Para o encarnado, que tem, no sexo, a predominância de uns em relação aos outros e, na fidelidade, o paradigma maior para a manutenção dos sentimentos, pode parecer absolutamente improcedente esta dissertação, uma vez que dificilmente se compreenderá que um homem ou uma mulher possam manter relacionamentos amorosos igualmente intensos com diversas outros seres.
Mas isto não procede no plano espiritual, onde os aspectos sexuais existem somente enquanto simulacros de personalidades, a refletir recentes encarnações. O espírito não tem órgãos reprodutores, portanto, não existe interesse algum em se relacionar puramente por prazer provocado por conjunções de caráter carnal. Daqui o sentimento ser purificado, no sentido de que somente os aspectos espirituais — no campo da carne, diríamos mentais, emotivos ou cerebrais — é que valem para o efeito da aplicação da lei maior do evangelho de Jesus. Por isso, nunca somos de opinião que todo o crescimento se dê no âmbito da matéria. O que insistimos em enfatizar é que as alegrias próprias dos encarnados contenham aspectos daquela que se exige dos espíritos, para que se possa ofertar-lhes os galardões do progresso, o que os conduzirá para regiões de maior felicidade.
Este apanhado não tem, portanto, muito valor no que concerne aos procedimentos que os humanos devem adotar, enquanto seres viventes sobre o planeta. Aqui devem ser mais rigorosamente cumpridos os compromissos individuais, ficando as exigências do grupo em segundo plano, mesmo no que se refira a pessoas da mesma família, pois, como Jesus proclamou, ele não veio para unir, mas para separar. Eis que os exemplos que deu não incluem o dos esposos (marido e mulher), mas entre outros familiares, consangüíneos ou não, sem que se envolva qualquer aspecto sexual. Estamos a citar o Mestre em argumentação bastante distante dos objetivos dele, mas isto não nos provoca qualquer receio de estarmos a ferir os preceitos evangélicos. Antes, é mais uma interpretação que acrescentamos à passagem, para que não se diga que Jesus veio simplesmente para confundir.
Da mesma forma que o texto bíblico exige do leitor agudo senso de compreensão e maturidade intelectual, é preciso também estar atento para os dizeres dos orientadores espirituais que promovem as suas aulas no âmbito das escolas do etéreo, onde são levadas a efeito explicações bastante complexas, a respeito do que a existência pode apresentar de difícil intelecção.
O mais gostoso de tudo é quando se dá, finalmente, o momento do insight, ou seja, o exato instante em que os alunos passam a dominar o conhecimento, sendo capazes de inferir as causas que levaram exatamente àqueles efeitos, em vinculação perfeita entre os raciocínios e as observações da realidade. Esse é outro momento de profunda alegria, que pode ser entendida pelos mortais no próprio instante que souberem bem caracterizar este relatório. É sinal de evidente progresso.
Outro indício de que não teremos mais que enfrentar os dissabores das encarnações expiatórias se dá no momento em que somos chamados pelo anjo guardião para recebermos alguma missão muito específica, em relação ao acompanhamento de algum grupo de encarnados e de desencarnados. Aí a certeza de que o sofrimento corpóreo está ultrapassado leva-nos às raias do deslumbramento. Mas em nossa pobre turma ninguém existe que tenha tido tal privilégio, de sorte que este desenvolvimento temático se faz em função das explicações que recebemos dos professores, muitos dos quais ainda bem distantes de bem entenderem o que seja esse momento de excelsa alegria.
Não será, portanto, difícil de conceber o grau de felicidade que devem possuir os irmãos das hostes angélicas, quando suspeitam de que estão a pique de receber outros encargos de maior responsabilidade. Mas isto não passa de conjecturas, pois quem lá chegou não tem permissão para vir trazer as suas experiências para os pobres que se encontram enleados em míseros problemas de caráter consciencial inferior.
Pensamos ter desfeito as impressões de que, no plano espiritual, só existem agruras, dores, remorsos, agonias, angústias, sofrimentos físicos e morais e demais formas de se sentir o ser despojado de sua origem divina, como se não portasse consigo aquela centelha depositada em sua contextura existencial pela misericórdia do Criador.
Que a sensação de poder que se pode sentir a partir da concepção da vida como realização de caráter espiritual seja o prenúncio das alegrias que se gozarão, por ocasião do regresso a que todos deverão proceder. Seja esta leitura o despertar para quem não teve outra oportunidade e ficaremos imensamente felizes, por termos contribuído um pouquinho para que as nuvens se tornassem brancas e o céu azul, em manhã de resplendente claridade.
Resta-nos, além de elaborar figuras de transbordamento de alegria, orar agradecidos ao Senhor pela misericordiosa oportunidade que nos está propiciando de vir à presença dos irmãos encarnados, para lhes trazer palavra de fé e de esperança, no sentido de que possam aliviar a sobrecarga de dor que a condição corpórea não cessa de gerar.







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UMA AULA PRÁTICA





Não desejamos forçar o bom amigo a transformar este dia em mera expectativa de fracasso, já que se trata de novo texto proposto com as dificuldades de não se ter a certeza de que será proveitoso.
Pois o grupo resolveu aceitar a oferta — quase dizíamos desafio — do amigo médium, para desenvolver um tema bastante fácil de se transformar em algo útil, ou seja, a regalia de se saber apaniguado pelo dom da mediunidade. Evidentemente, os bons amigos que têm desenvolvida essa qualidade sabem que não se deve propor nada ao plano da espiritualidade, mas que se deve ficar bastante quietinho, aguardando, pacientemente, que os dizeres ocorram de forma espontânea. Sendo assim, nunca é o melhor que acontece, quando se está convidando simplesmente os do etéreo para participarem das mesas de doutrinação ou de assistência mediúnica.
Houve um tempo em que as evocações dos familiares eram o que se fazia mais comumente, pois as pessoas desconfiavam de que os seres que se apresentavam poderiam significar simples configuração mistificada de quem se propunha como mediador, enquanto os filhos ou demais parentes viriam com notícias particulares, a demonstrar, de maneira cabal, a realidade da aventura extracorpórea.
Assim, não iremos dar provimento ao pedido do irmãozinho, no sentido de oferecer outro desenvolvimento em seqüência temática, uma vez que as aulas da turma terão seguimento normal, através da discussão do que se conseguiu com a transmissão do texto do dia. Para que novo texto venha a ser elaborado, deveremos aguardar as explicações dos professores, o que só ocorrerá por ocasião da aula formal, segundo o horário estabelecido para a turma, o que, de resto, se insere nos horários gerais da instituição, exatamente da mesma forma que acontece nas escolas terrestres.
Parece-nos, portanto, ter ficado bastante claro que não pretendemos dar continuidade aos trabalhos normais do grupo, de modo que este desenvolvimento vai adquirindo tonalidade muito pouco adequada para inserir-se no contexto da obra que resultará como esforço da turma, o que está sendo cuidado com muito carinho.
Fique, assim, caro amigo, disponível para as demais tarefas do dia, uma vez que, sabemos, deverá haver estudo no centro espírita. Prepare-se convenientemente mas não espere muito da aprendizagem que vem realizando, uma vez que os temas são sabidos, embora muito importantes. O que mais nos parece valioso em tudo o que lá se faz é o congraçamento das idéias em torno dos objetivos revelados por Kardec para o desenvolvimento do Espiritismo. O mais chega quase a ser pura perda de tempo, já que as apreciações dos casos particulares não têm o mesmo cunho de aplicação do intelecto para a elucidação definitiva das causas e dos possíveis efeitos da divulgação. Mas a reunião é válida e tem méritos, principalmente se considerarmos que os guias têm prévio conhecimento dos temas e conduzem para o ambiente espiritual certos companheiros necessitados justamente de aprender os tópicos em evidência. Por isso, não há que desanimar dos trabalhos. Siga recebendo os influxos energéticos dos doutrinadores e abra a mente para as possíveis influenciações que desejarem ver insufladas nas discussões, pois, muitas vezes, o que lá se debate está diretamente sendo estabelecido por aqueles amigos que têm interesse em que tudo transcorra de certo modo, uma vez que a sala se transforma em pequenino núcleo escolar, como se fora curso avulso ao qual comparecem somente alunos altamente interessados.
Eis que a notícia que tínhamos poderá vir a ser útil para o grosso dos leitores, podendo, inclusive, figurar em anexo ao corpo principal da obra.
Enaltecemos a disposição do companheiro encarnado e pedimos-lhe que continue dando-nos esta segunda oportunidade a cada dia, pois sempre haveremos de ter algo que analisar conjuntamente.
Muito obrigado! Fique com Deus, no regaço da família.







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UMA LIÇÃO DIVERTIDA





Estranhou sobremodo o escrevente o título que lhe ditamos. Evidentemente, o teor dos últimos textos não fará supor jamais que estejamos predispostos ao riso fácil, quando mantivemos sempre grave aspecto e sisudo cenho. É que nem sempre as alegrias são muito sutis, havendo, entre os espíritos, momentos de profundo desafogo, quando são enlevados por situações de felicidade.
O que mais chama a atenção dos novatos é a profunda amizade que liga todos os elementos das turmas mais antigas, de modo que parecem colegiais veteranos das escolas, prestes a deixar o curso secundário para tentarem a vida com maior responsabilidade, embora ainda sob a tutela de professores mais avançados ou de instrutores especializados, nas escolas ou firmas.
Na verdade, o paralelismo existe só em parte, porque, se as turmas se dissolverem, para cada qual seguir de perto aos que lhes são afetos por consangüinidade ou afinidade de várias encarnações, por outro lado, é extremamente fácil congregá-las de novo, por solicitação de algum dos mentores, interessado em reorganizar o grupo para tarefas muito especiais.
Tal perspectiva de ajuda mútua, em total congraçamento, fica definitivamente impressa na mente de todos, de forma que se sabe, com bastante propriedade, que jamais os companheiros se verão na rua da amargura, mesmo quando têm diante de si campanhas bastante difíceis, junto aos amigos encarnados ou na busca dos que se deixaram perder pelas barafundas dos crimes e das viciações e se encontram mergulhados nas profundezas das regiões infernais.
Assim, os jogos e demais brincadeiras são incentivados, principalmente no sentido de tornar as competições bastante estimuladoras da pesquisa e do despertar da facilidade das respostas mais adequadas para os problemas que se põem como de resolução essencial para o prosseguimento da aquisição dos atributos das virtudes, que redundarão, fatalmente, no progresso a que todos visamos no âmbito da espiritualidade.
Mas nada do que se faz serve para deixar alguém em superioridade ou inferioridade, pois são estímulos que se preparam com o máximo de carinho, sem o caráter ofensivo que têm os dispositivos intelecto-emocionais dos encarnados. Vamos supor que alguém, absolutamente, não seja capaz de atinar com alguma das respostas, ficando, então, à mercê das explicações dos que organizaram os testes. Aí, a situação de prova se inverte e o proponente da questão deve esforçar-se para demonstrar que tudo o que deixou na forma de porfia será devidamente esclarecido, uma vez que estava perfeitamente enquadrado na programação dos orientadores.
Acontece, muitas vezes, que nenhum dos companheiros é capaz de decifrar o enigma, devendo ficar sob a responsabilidade dos professores a explicação final do mistério, não só no que se relaciona aos pontos levantados, mas também na elucidação das causas que provocaram a falência de todo o grupo.
Os desafios persistem incontáveis, sendo inúmeros os exemplos que se buscam no campo fenomênico do orbe, no sentido de tornar as lições o mais próximas possível da realidade de atuação que aguarda por todos, já que não há quem não vá exercer funções junto aos que sofrem em encarnes dolorosos. Por outro lado, a descoberta dos mecanismos das situações especiais evidencia o progresso da turma, o que deixa a todos imensamente felizes, uma vez que vão apercebendo-se de cada pequenino ganho no campo do aprendizado dos temas curriculares.
Capítulo particular ocorre quando algum membro do grupo, de súbito, revela problema de caráter mais grave. Aí a alegria cede a vez a sérias atitudes de socorro, precisando todos concentrarem-se para que não escape tão importante oportunidade de demonstrar o afeto que os faz companheiros de equipe, por estarem fortemente ligados pelos sentimentos mais nobres. Um parceiro que se perde — o que raramente acontece — e se faz internar em algum centro de tratamento das afecções morais, transtorna todo o pessoal, que se volta exclusivamente para o atendimento de suas necessidades, não volvendo ao curso regular sem que tenham bem caracterizado todo o espectro das dificuldades, assim como delineado o programa de assistência até o restabelecimento final. O reingresso desses amigos junto aos demais é digno da festa que se preparou ao filho pródigo da parábola de Jesus. Aí a felicidade volta a reinar soberana.
Outra defecção possível ocorre quando existem problemas demasiadamente sérios no grupo familiar de algum dos integrantes da turma, a ponto de se tornarem os assistidos obsessores do próprio assistente. Aí há envolvimento sentimental e emocional de fortes conseqüências psíquicas, rejeitando o companheiro qualquer assistência a si mesmo, pois a visão lhe fica obliterada pela necessidade premente de extrair dos parentes afetados pela malignidade toda tendência ao crime ou à perversão. São crises demasiado agudas, de forma que, muitas vezes, até a classe fica afastada de qualquer providência de caráter amadorístico, partindo os mentores para o exercício de ajuda mais especializada, em verdadeiro trabalho de redenção. São questões estas que não se encontram definidas no currículo, embora se dediquem os mestres a observar com severidade que os prenúncios íntimos desses desajustamentos devam ser, de imediato, declarados, para que a assistência se faça oportuna e segura.
Como pode o amigo leitor observar, há muito de parecido com o que é possível constatar-se na sociedade dos encarnados. O nível de solidariedade é que se demonstra muito mais intenso, o que nos obriga a formular a hipótese de que será para breve o momento da formatura.
Seria capaz de nos dizer o irmão se, por acaso, via o mundo da espiritualidade com olhos tão próximos da verdade? Não lhe parece que as imagens que estamos construindo são o produto de fértil imaginação, bem longe da realidade? Não desconfia de que estejamos insuflando reações muito pueris, uma vez que tudo parece sobremodo fácil de entender e simples de executar?
Não se iluda, entretanto, com as palavras que lançamos aos borbotões pelo papel. As dificuldades são inúmeras até que se possa chegar a tão alto índice de benquerença. A confraternização só se pode dar entre os seres que estipularam para si estreita vigilância dos atos, no interesse de perlustrar tão-só a estrada do bem aberta por Jesus. São seres muito sofridos, que se cansaram de errar inocuamente, para o proveito que poderiam usufruir no sentido do crescimento moral e espiritual. São seres muito imperfeitos, necessitados de ajuda, nos campos do conhecimento e do desenvolvimento sentimental, mas que decidiram enfrentar as vicissitudes que as reações desabusadas costumavam interpor-lhes à vontade de regeneração. São seres que desafiam as próprias inclinações pelos vícios e pela maldade e que se sentem amparados pelos amigos do grupo, especialmente porque sabem que o caminho, a verdade e a vida devem ser conquistados através de rompantes e desabridos gestos de coragem moral.
Esta é a lição que gostaríamos de deixar para a reflexão de quem esteja altamente interessado em abandonar a liça terrena em vantagem no campo das realizações da benemerência. Aceite a emulação exatamente do jeito que descrevemos os jogos entre os amigos dos diferentes grupos, de forma que nada que faça daqui por diante seja feito com o cenho carregado e o coração oprimido pelo medo de vir a errar ou, o que é pior, de pecar contra Deus. Tudo que se realiza com alegria e serenidade, na certeza de se estar cumprindo a obrigação cármica, sob as vistas amorosas dos protetores, será computado, com certeza, entre os ganhos que se acrescentam ao saldo positivo da bondade e da benquerença.







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SEGUNDO TEMPO





Vamos propor alguns exercícios para que o caro amigo possa compreender o que se passa junto aos alunos da Escolinha. Proporemos, em forma de questões, alguns problemas do tipo dos que são estipulados para os companheiros das primeiras letras.
Lá vai o primeiro.
Quem, dentre os mortais, está mais próximo da felicidade: o que estimou os parentes, dando-lhes todas as condições do conforto material e espiritual ou o que abandonou a família, para pregar, com extremos sacrifícios, o dever da bondade e a necessidade do amor?
Parece-lhe que a questão é de simples resposta? Pois saiba que houve um grupo que ficou quinze meses debatendo o tema, sem chegar a conclusões plausíveis, dado o incrível número de exemplos que se coletaram para definir-se por uma ou outra solução. Não vamos adiantar as respostas, pois julgamos suficientemente claro que o que pretendemos é estimular a reflexão em âmbito individual, ou as discussões entre os colegas que se dispuserem a perlustrar conjuntamente a leitura destes textos.
Lá vai outra proposição.
Quem tem mais merecimento aos olhos do Pai: o indivíduo que não soube reconhecer a existência de Deus, mas extraiu da natureza carnal o sumo da vida, para oferecer aos irmãos, ou o que teve profunda crença religiosa, tendo, entretanto, procedido com alguma incontinência, no campo das regalias pessoais?
Esta segunda questão mereceu de outra equipe sérias restrições quanto à formulação do problema. Seria o amigo capaz de discorrer a respeito, caracterizando irretorquivelmente as falhas apontadas, sugerindo, em seguida, as correções mais adequadas, para que a questão possa ser levada à consideração dos amigos?
Terceiro problema.
Um dia, um jovem resolveu que a vida não tinha qualquer atrativo, decepcionado que estava pela frustração de não ter sido correspondido pela pessoa amada. Aí se suicidou. Poderemos encontrar motivos que lhe justifiquem a atitude, de forma que o espírito deverá merecer das equipes socorristas imediato tratamento? Quais? Por quê? Ou não? Por quê? Em caso de não ser possível, pelo consenso do grupo, receber de imediato o sofredor, onde podemos imaginar que irá ficar, até que haja tal possibilidade de auxílio? Com que sofrimentos?
Esta questão transcende um pouco a possibilidade de imaginação do leitor encarnado, embora seja tópico de fácil resolução da parte da maioria dos que freqüentam as turmas iniciais, isto porque existe esquecimento de como sejam as regiões no plano da espiritualidade. Entretanto, podem os irmãos socorrer-se das informações transmitidas por estas equipes ou por outros irmãos, segundo publicações diversas de fácil acesso. Se for responder com seriedade, não se furte a enfrentar nenhum possível percalço. Afinal de contas, não estamos diante de meras situações quiméricas, mas de casos absolutamente reais com que nos depararemos, uma hora ou outra, em razão de estarmos destinados todos a perpassar pela sacratíssima condição de socorristas.
Finalmente, sem que tenhamos possibilidade de avaliação, a não ser se formos convocados especificamente para isso, vamos requisitar do amável leitor que estabeleça alguns desafios mais, todos passíveis de serem respondidos pelo proponente. Não é preciso que haja, desde logo, resposta pronta para o exercício, pois uma das mais valiosas qualidades deste tipo de atividade é justamente o fato de que os problemas possam constituir-se em estímulo para a meditação daquele que está interessado em ver como é que os amigos resolvem as propostas, fornecendo-lhe visões diferenciadas, segundo o ponto de vista em que se situem.
Se lhe pareceu algo banal esta atividade, decepcionando-se o amigo por não encontrar entre os espíritos a seriedade que esperava dos seres sob cuja responsabilidade está, dentre outros, o direcionamento filosófico dos espíritas, pedimos vênia para lembrar que a maior ou menor eficácia do exercício está intimamente ligada à natureza dos problemas colocados em evidência. Sendo assim, releve os desafios que resolvemos enunciar e substitua-os por outros mais prementes e importantes.
Deixemo-nos, de qualquer forma, embalar pelas diretrizes evangélicas, que nos transportarão, com certeza, para o regaço do Senhor.







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TRABALHO HONESTO





Existem inúmeros médiuns que se deixam embair pelas produções de imaginosas catervas espirituais, de forma que, aos poucos, vão adentrando as entranhas da terra, no sentido de que tudo perdem em favor dos que, miseráveis, desejam fazer chegar aos encarnados muitas mentiras e baboseiras, para que se desestimulem da crença nos espíritos e da continuidade da vida após a morte.
Muitos desses médiuns, no entanto, ao atravessarem os portais da morte, são muito bem recebidos pelos amigos da espiritualidade, pois nada fizeram que não estivesse expresso no contrato de vida que assinaram. Perguntará, espantado, o amigo leitor, que misteriosa atitude é essa que não prevê a maldade desses atos quase indecorosos. É que o mal foi intentado pelas entidades do etéreo e não pelo pobre encarnado, que, muitas vezes profundamente inculto, só dava vazão aos chorrilho das asneiras.
Que proveito terá havido e para quem? Para os próprios infelizes que vinham com as tentações, pois, ao se achegarem aos médiuns, viam-se em campo de imantação propício à doutrinação. Por tal meio, muitos podem ser convencidos a desistir das atitudes maldosas, ficando à disposição dos socorristas, para que venham a ser conduzidos para locais de restabelecimento perispiritual.
Dá-se caso totalmente diferente quando o mediador é criatura culta, capaz de distinguir muito bem o falso do verdadeiro, em termos morais e espirituais. Aí a solicitação de socorro deve partir sempre que se constatar que se trata de entidade com o intuito de indução ao erro e, portanto, à culpa. Os protetores acorrerão pressurosos para resgatarem mais aquele ser, o qual, de repente, se vê enleado nas malhas da bondade e da sabedoria. Se o encarnado, apesar de esclarecido, afeta superioridade e crê que não será atingido pelas malévolas intenções dos obsessores, buscando trabalhar sozinho, como se fosse suficientemente evoluído para oferecer resistência, poderá sucumbir à malícia empregada, pois os dizeres são muita vez macios e camuflam as intenções.
Recomendamos, pois, que todo trabalhador das searas da luz espiritual seja muito prudente e previdente, iniciando todas as sessões através de convite obrigatório aos mentores e encerrando com agradecimentos e preces ao Senhor, protestando prosseguir o mais possível em serviço sob a orientação dos guias e protetores, sem iniciativas que, além de se constituírem em enorme perigo para sua redenção, são o favorecimento a que os maus se tornem ainda mais perversos, o que se configura como enorme desserviço aos amigos socorristas. Vamos, portanto, ser bastante prudentes e deixemos de lado qualquer idéia de grandeza pessoal, filiando-nos a uma boa equipe de seres mais evoluídos, para que possamos demonstrar fidelidade ao juramento cármico.
Outro trabalho especialmente perigoso para os que deixarem de vigiar é o de ajuda aos amigos em dificuldades. Em geral, as pessoas não sabem dar, doando-se. O que mais se vê, no campo da benemerência, é constrangimento, no momento de se desfazer de algum bem ou valor, no receio de que possa vir a faltar o que hoje se apresenta em sobejo. Tal atitude íntima é muito mais encontradiça do que pode supor o amigo leitor. Não vamos fazer acusações específicas, mas vamos patentear o nosso ponto de vista, segundo o qual quem age dessa maneira não compreendeu com exatidão as palavras do Cristo nem o sentido evangélico de sua peregrinação.
O desprendimento é algo que se deve realizar de coração. Se, por acaso, o amigo desconfiar de que não será com gosto que se desfará de algo para ajudar aos semelhantes, é preferível que não dê nada, não correndo o risco de se arrepender. Se o remorso o abater porque não deu, aí o objeto ou o dinheiro estará à mão, para que a doação se faça emotivamente incondicional.
Imaginemos que a pessoa assuma, definitivamente, o fato de que seja usurária e de que não esteja conseguindo livrar-se desse péssimo sentimento egoísta. Deverá forçar a mão a dar ainda mais do seu, para constranger-se a aceitar a benemerência como virtude a adquirir-se? Jamais. Deverá, isso sim, com muito esforço, se for o caso, com muita dedicação e boa vontade, participar das atividades de ajuda em alguma organização assistencial, procurando dar de si e de seu tempo, ao invés de se desfazer de propriedades materiais. Entrementes, que vá compenetrando-se de que tudo o que possui irá esvair-se, pela própria degenerescência natural das coisas, até o momento em que de tudo irá apartar-se, por ocasião da passagem de uma realidade a outra. Assim, não sobrecarregará os sentimentos e terá algo que apresentar no momento do ajuste de contas.
Não queremos criar polêmicas inúteis com esta postura moral. Poderá parecer a muitos que estejamos redondamente enganados ao recomendar que a pessoa não se desfaça dos bens por temer arrepender-se. Pois, se essa for a opinião do irmãozinho leitor, que realize segundo o que lhe parecer o melhor alvitre, mas não deixe nunca de auxiliar os necessitados, que é para isso que todos vêm ao mundo. Em havendo honestidade de propósitos, todos os trabalhos merecerão receber os galardões do Senhor.







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PAPO FURADO





O leitor muita vez tem a impressão de estar diante de desenvolvimentos sem substância, como se desejássemos somente estender o tempo de permanência junto ao médium, para o que trazemos alguns assuntos sem qualquer interesse, como este mesmo, que atinge diversas linhas sem que haja qualquer informação de importância. Entretanto, o treinamento do dia já se efetuou, de modo que a conclusão será precípite. É que os temas não se apresentam com o valor da aquisição imediata de alguma virtude em falta, de sorte que o bom amigo reforça as noções antigas, sem que apreciações novas se lhe juntem ao repertório.
Sendo assim, é bom estar atento para as intenções que jazem subjacentes à própria manifestação, uma vez que o que deixamos expresso não está a dizer exatamente o que facilmente poderia depreender-se do sentido dos termos, mas é preciso um pouco de esforço de interpretação para conhecer o que se ocultou dos olhos imprevidentes dos maliciosos. Não era assim que Jesus agia em relação ao povo em geral e aos apóstolos em particular, dizendo parábolas cujo entendimento não era dado a todos perceber?
Agora, o arguto e preclaro amigo irá deduzir que estejamos querendo comparar-nos ao Mestre. Longe de nós tal intenção. O que fizemos foi mera lembrança, para deixar bem enunciado o pensamento, ao contrário do que vínhamos afirmando, ou seja, de que nem tudo fica inteligível pelo entendimento simples dos vocábulos.
Todo este longo preâmbulo vem a propósito de termos de efetuar verdadeira profissão de fé evangélica, sem darmos a entender que estejamos ufanando-nos por seguir os passos de Jesus, uma vez que, se é justamente esse o caminho que deixamos indicado, é o que necessariamente devemos perlustrar. Mas o que também enfatizamos muito é a virtude da humildade, que todos devemos cultivar, para não resvalarmos pelo egoísmo mais acendrado. Se é bem certo que todos somos muito imperfeitos, também devemos chegar à conclusão de que não devemos ufanar-nos disto, o que nos remeteria, indefectivelmente, a considerações de caráter depressivo, já que, contraditoriamente, a nossa fraqueza deveria transformar-se em motivo de orgulho. Mas não é bem isso que desejamos enfatizar, pois os humildes, muitas vezes, desconhecem que o são, da mesma forma que os vaidosos estão bem longe de assim considerarem-se.
A que conclusões nos levam tais considerações? Invariavelmente à necessidade da reflexão a respeito de nós mesmos, no incentivo daquilo que os mestres antigos exigiam de todos: o conhecimento da própria alma, para se ter a certeza do que se constitui em vigor espiritual, em qualidade ou em virtude, e do que deverá sujeitar-se a reformas, para que a personalidade possa ascender rumo à angelitude.
Bem pouco prática foi esta exposição de segundo turno. É que não nos dispusemos a prosseguir com outros temas, sem revolver um pouco as suspeitas que assumem a mente do leitor, já que se vê diante de turma de fanáticos pregadores morais, como se a vida pudesse resumir-se em tarefas inadiáveis e obrigatórias, não havendo sentido em se querer usufruir qualquer felicidade, seja junto a uma boa e farta mesa, com os amigos e parentes, seja dentro de um estádio, a torcer pela equipe de predileção.
Absolutamente não vamos impedir a quem quer que seja de se alegrar, de viver feliz ou de realizar tudo com um sorriso nos lábios. Se tiver sido essa a conclusão a que chegou o companheiro, tendo em vista as dissertações anteriores, devemos afirmar que se enganou completamente, pois o que dissemos relativamente às alegrias que envolvem as realizações dos socorristas deve servir também para quantos amigos se compenetrarem de que estar encarnado significa excelsa oportunidade de criação de novas condições evolutivas de caráter superior, o que não pode causar nenhum outro sentimento que não seja o da alegria.
Sendo assim, se se concluir que, para nós, a vida é só alegria, não se estará longe da verdade, pois é o que todos os espíritos em débito suplicam ao Pai, pois consideram o estágio carnal como a própria oferta de salvação de Jesus. O que arrefece um pouco o entusiasmo dos socorristas é ver quantos são os irmãos que não percebem que foi Deus quem, misericordiosamente, colocou as entidades no mundo, e preferem julgar tudo terrivelmente injusto e maligno.
Considera você que este entrecho contenha apenas conversa para ser jogada fora, ou algo de substancioso poderá conter-se nas entrelinhas? Responda com sinceridade, após meditar profundamente a respeito de tudo o que expusemos, não sem antes rezar vigorosa prece de agradecimento ao Senhor, pela possibilidade intelectual que lhe foi outorgada na presente encarnação.
Eis que se encerra outra maravilhosa tarde mediúnica, muito embora não seja esta a conclusão universal, lamentavelmente.







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O RIO JORDÃO





Banhar-se nas águas do rio Jordão, ao tempo de Jesus, poderia representar breve encontro com as luminosas águas da redenção, águas lustrais que escorreram pela face do Divino Pastor, ao influxo das bênçãos de João Batista, primo e amigo fiel.
Não é assim que sente o leitor a verdade daquela distante época, quando se preparava o Mestre para iniciar a peregrinação do amor que se transformaria em profundo engaste de dor na História da Humanidade? Pois vamos propor-lhe dilema muito especial, diante das fantasias que são capazes de elaborar as mentes humanas.
Era necessário que ali aparecesse uma pomba, para simbolizar a paz espiritual?
Evidentemente, a proposição é de mui difícil resposta, pois envolve aspectos místicos profundos, estando nós no conhecimento de que, para cada indivíduo, o relato bíblico assume determinada envergadura moral, havendo, inclusive, quem desdenhe completamente das possíveis verdades místicas que ali se deixaram inscrever, por força do aparato cultural dos evangelistas e da reprodução quase certa que fizeram de anotações populares transmitidas por tradição oral. Com toda a certeza, o hábito de se registrar nas tábuas ou no papiro deve ter influenciado sobremodo a passagem da linguagem oral para a escrita, de modo que as deduções fantasiosas ficavam como que cristalizadas, deixando de haver acréscimos significativos, dado que a leitura petrificou de vez a veracidade do conto, em determinada época.
Mas não viemos para examinar a história da fixação nos manuscritos dos contos populares. Viemos, sim, tentar resolver para o amigo leitor sério problema moral, qual seja o de se crer irretorquivelmente nos dizeres bíblicos, como se tudo que ali se registrasse tivesse o dom do sagrado e representasse, efetivamente, toda a verdade dos fatos históricos. A partir desta colocação, devemos abrir em leque a possibilidade interpretativa e dizer que tudo o que se encontra escrito deve ser argüido de inverdade?
Que poético é imaginar Jesus às margens do Jordão, ao pé do taumaturgo, a receber o batismo das águas, estando a voar em torno, em largo vôo, premonitória alva pomba, enquanto a multidão aguarda em prece que se dê a transfiguração do divino ser, que irradiará de si as luzes resplandecentes do amor e da felicidade!
É quadro de profundo respeito ou tudo se situa no plano das idealizações humanas carentes de maravilhoso?
Vamos interromper a citação dos eventos bíblicos, para nos atirarmos nas profundas águas do espiritismo, que deseja incentivar a perquirição dos sentimentos através da razão despertada para a verdade. Quanto de teoria e de suspeição existe nessa científica atitude do codificador? Será que ao homem cabe realmente medir todos os fatos da natureza, quer físicos, quer morais; quer materiais, quer espirituais? Que medida será utilizada para saber quanto vale cada um dos fenômenos espíritas? Deveremos dar crédito também às configurações que nos chegam através de pessoas que se denominam de médiuns, ou poderemos, igualmente ao fizemos para os dados obtidos dos Evangelhos, colocar todos esses elementos à conta da fantasia, da imaginação?
Se estamos intentando pintar um quadro das reflexões basilares que se verificam no íntimo de cada consciência, é porque sabemos que os homens desejam ver-se livres das preocupações com relação à importância dos acontecimentos da vida, como reflexo seguro de tudo o que trazem em si do plano espiritual, na forma de característicos pessoais da personalidade. É que as pressões orgânicas dão conformação aos pensamentos, aos desejos, à vontade, às atitudes, buscando cada qual configurar as leis da matéria e do intelecto como resultantes lógicas do fato de existirem sob condições fortemente determinadas pela carne.
Neste ponto da dissertação, parece que deixamos bastante claro que duvidamos da honestidade dos seres enquanto encarnados, pois não se estimulam para a vida espiritual, a não ser quando coagidos por fortes impressões, que se exercem a partir de acontecimentos muito dolorosos. Enquanto o homem está vivendo em relativa felicidade, obtendo da matéria tudo o que deseja para prosseguir usufruindo as sensações que os sentidos lhe proporcionam, vai esquecido de que existem muitas premissas de caráter obrigatório, que deveria cumprir pelo simples fato de se ver revestido de matéria.
Assim, existem duas escapatórias muito fáceis de se obter, enquanto o raciocínio não se realiza sobre os fundamentos da verdade: a fantasia e a renúncia à crença na existência de deveres indeclináveis.
Hoje, por injunção temática, resolvemos complicar deveras a escritura, não deixando nada muito claro, para deleite dos que somente responsabilizam, por todas as mensagens indecifráveis, os desencarnados, como se tivéssemos nós inscrito, nas listas dos deveres, que devêssemos simplificar todas as noções, para o entendimento, sem preocupações e esforços, dos pobres companheiros encarnados. Se existem conceitos bastante arrevesados, que merecem dedicado estudo, é preciso fazer valer as prerrogativas da inteligência, para o efeito da perquirição íntima, antes e acima de tudo com a finalidade precisa de conduzir cada um ao conhecimento de suas tendências, mesmo que profundamente arraigadas na personalidade. Nada melhor para isso do que acicatar a curiosidade através de alguns enigmas bem construídos. Foi nesse sentido que nos propusemos para a confecção desta comunicação, muito pobre no que respeita aos ensinamentos que desejaríamos estimular, mas rica em sugestões para a meditação do nobre amigo leitor.
Como gostaríamos de nos ver às margens do Jordão, a contemplar o Cristo sendo banhado pelo...







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DESANUVIANDO





Não se atemorize, irmãozinho, se, às vezes, as mensagens adquirem foros de mistério. É que, realmente, como acima se afirmou, nem tudo na vida pode ser reduzido à lei do menor esforço. Vamos batalhar muito para tornar de fácil entendimento tudo o que desejarmos demonstrar, mesmo que venhamos a incorrer em falhas conceituais relativamente a alguns postulados científicos. Lamentavelmente, não somos donos da verdade e não temos o conhecimento universal das coisas.
Por outro lado, que se esforce o bondoso amigo, por seu turno, para entender os fatos mais complexos, dedicando um pouco mais de tempo para a decifração dos ensinamentos cristãos, que estão muito longe de serem percebidos pela maioria.
Parece-lhe ilógico o que estamos a afirmar? Pois é o que realmente ocorre, caso contrário não haveria tantos crimes e disparates no mundo. Não é verdade que os homens agem como se não tivesse havido a peregrinação evangélica do Senhor? Pois bem, que o caro leitor não caia em semelhante armadilha, preparada pelo desejo de ver predominarem os ideais humanos sobre os divinos. Se daqueles temos a certeza da comprovação material, destes devemos inteirar-nos pela meditação, pela séria reflexão sobre os dados que estão sendo trazidos, desde há muito, pelas inteligências que se situam no plano da espiritualidade e que são interpretados, à luz do saber humano, por sábios encarnados.
Não nos satisfaçamos, todavia, com os argumentos dos que pretendam impingir-nos sua sabedoria, por meio de ideário estabelecido racionalmente mas de todo incompatível com os nossos pontos de vista. Para adquirirmos as mesmas certezas, temos de perlustrar todos os raciocínios, analisando, um a um, os argumentos, dando razão somente quando nos compenetrarmos de que tudo se ajusta em elaborado sistema filosófico, moral ou religioso. Não deixemos nada por conta de outrem, mesmo que traga os augustos nomes dos expoentes do Espiritismo. Se Kardec nos disse que a fé deve ser raciocinada, cabe a cada um de nós formular os mecanismos que nos inculcarão na mente os desenvolvimentos psíquicos necessários para a confirmação dessa verdade e, daí para a frente, a ação que se desencadeará a partir da afirmação convicta de que assim é que deve ser.
Se este texto parecer ainda mais confuso do que o anterior, quando pretendíamos tornar tudo claro e seguro para o bom amigo indeciso, queira perdoar-nos, pois foi sem a intenção de enredá-lo que acabamos formulando alguns pensamentos bastante complexos. Mas isto não tem importância, pois a parte essencial parece-nos que ficou exposta segundo razões de fácil intelecção, qual seja a de que tudo o que se possa fazer chegar ao nível da compreensão de cada leitor certamente passará pelo crivo de sua experiência e pelo arguto senso de sua capacidade de discernir a verdade.
Certos de termos deixado algo a mais com que se ocupar o amável amigo, vamos encerrar este comunicado, pedindo que nos escusem o fato de se apresentar por demais enxuto de figuras, sem qualquer tônus literário, como a bela apresentação feita pelo irmão que nos antecedeu.
Como o amigo entende que devam ser redigidos os textos mediúnicos? Não se atenha a ficar imaginando para que serve esta questão, mas veja como é que tem reagido aos diversos discursos que lhe têm estado sob as vistas e nos emita vibrações bastante positivas a respeito daqueles que o satisfizeram ou que o desgostaram. Em último caso, se não pudermos aproveitar todas as sugestões, ficarão, evidentemente, arquivadas no repositório da memória do caro confrade, que se aproveitará das intuições e reflexões em algum instante da existência, já que, por certo, não haverá como fugir de passar também por alguma Escolinha de Evangelização.
Para os que ainda estão em fase de menor adiantamento, vamos endereçar comovida prece aos protetores, para que consigam inocular-lhes na mente o desejo e a vontade de realizar todos os exercícios que os levarão à trilha de Jesus. Aos mais adiantados, fica o nosso agradecimento por estarem a inquirir do texto os pontos mais vulneráveis, no intuito de nos comunicarem as conclusões, com a finalidade de nos deixarem definidos rumos mais consentâneos com a realidade da escrita e da leitura, como dupla realização concomitante do emissor e do receptor.
Fiquemos todos na terna companhia de Jesus.







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A HORA PRESENTE





Tema de suprema importância dentre os propostos para desenvolvimento pelas turmas da Escolinha, o entendimento do transcurso dos tempos, das eras e das épocas, merece dos orientadores intensa aplicação, para que sejamos bem capazes de compreender o que favorece tal mecanismo.
Inicialmente, somos levados a considerar os aspectos materiais do crescimento, maturação, apogeu e morte dos seres encarnados, para que possamos avaliar com precisão a diferença daquelas idéias que concebemos na carne, em relação ao que observamos na erraticidade.
A primeira constatação que nos move a verificar profunda discrepância é que os desgastes corpóreos na Terra não ocorrem em relação ao perispírito, que tende a se manter íntegro, quando não afetado por vícios ou procedimentos indignos relativamente aos semelhantes e ao próprio aperfeiçoamento moral. Mas, se pensarmos que a saída da carne para o etéreo deve prescrever que o envoltório perispiritual não tenha sofrido qualquer modificação, estaremos incidindo em forte erro. É que o destino do homem encarnado é o de aperfeiçoamento, de forma que, quando chega de volta das labutas terrestres, deverá apresentar-se de maneira bem mais harmoniosa, o que se refletirá diretamente sobre a vestimenta de luz.
Se pensarmos, por outro lado, quantos são os que mancham o terno espiritual, ao invés de trazê-lo limpo e bem tratado, tristes ficaremos com os desajustes que os irmãos atingem, por procedimento irregular.
Bem, mas esse tempo fica para trás e, daí para frente, os arremessos da virtude deverão prevalecer para superação dos traumas desenvolvidos e do tempo perdido. Os irmãos da espiritualidade acorrem para receber todos os filhos de Deus, já que ninguém deve ficar sem assistência, apesar de que muitos chegam a este lado desconhecendo por completo qualquer atividade que seja levada a efeito para socorrê-los. Por isso, vão diretamente para as regiões mais profundas do báratro, local de toscas construções, onde a dor e o sofrimento andam de mãos dadas para a conseqüente fase do arrependimento e do remorso, os quais nem sempre chegam, ficando essa passagem por locais tão terríveis totalmente inútil para muitos. São os que recebem outras oportunidades de encarnação com dificuldades crescentes, para que possam chegar à conclusão de que algo devem fazer para melhorar a performance moral.
Como considerar o transcurso do tempo em tais circunstâncias? Como mero delongar do instante presente, com perspectivas de encontros funestos com a própria consciência, sem que o futuro imediato tenha qualquer oferta de bem-aventurança. É a impressão de dor e de sofrimento que se configura como única realidade possível, principalmente durante a permanência no Umbral. O passado passa a existir como algo extremamente penoso e o futuro, como algo cheio de promessas de mais momentos terríveis.
Vamos trazer à presença do amigo leitor outro tipo de ser, um indivíduo que não esteja marcado por crimes de grande expressão. São pequenos maus hábitos, que deixaram de ser extirpados na última encarnação, que fazem com que se estabeleçam momentos de apreensão e agonia. Aí o passado figura na mente de tal personagem não tão horrendo, a propiciar até a possibilidade da investigação das causas que obstaram que fossem extirpados da personalidade aqueles costumes inconseqüentes, que mantiveram o indivíduo a marcar passo.
A partir dessa análise possível, há melhores perspectivas para o futuro, que se ilumina com alguma luz, pois se pode conceber a pessoa, sem o referido defeito, a usufruir momentos de tranqüilidade, na preparação de novas investidas contra outros setores a serem desenvolvidos. O tempo presente adquire tom de esperança e de fé na própria capacidade de regeneração, havendo até momentos de euforia, ao se perceber que os protetores estão presentes para o auxílio irrecusável.
Do cotejo dessas duas posturas, devemos extrair o conceito de tempo relativo ao grau de progresso de cada ser. Na Terra, existe a possibilidade de variar essa perspectiva, segundo o quanto a pessoa viveu ou sofreu, mas sempre sob a perspectiva final do decesso. É que as energias se desgastam e o indivíduo vai ficando cada vez mais incompetente para produzir forças com que possa reestruturar-se física e psiquicamente. A proximidade do fim é algo inexorável a cada novo dia e as pessoas marcam no calendário e no espelho, irresistivelmente, suas condições de tempo.
No etéreo, os recursos humanos da marcação dessa passagem não existem, a não ser quando os espíritos conseguem manter contacto diuturno com a crosta, não se apartando para qualquer outra atividade. Se houver exclusão da contagem de tempo pelos critérios humanos, o ser, na erraticidade, fica à mercê das condições íntimas de desenvolvimento, de modo que não percebe o tempo passar, a não ser ao final de cada etapa de existência, demarcada rigorosamente pelo início e término de alguma atividade longe do plano terreno. É como se a dedicação à meditação ou aos trabalhos socorristas absorvessem por demais a atenção, não havendo qualquer indício de que os dias estejam passando, ou os anos, ou os séculos.
Às vezes, para exemplificar, o irmão se vê tão fortemente envolvido em algum trabalho de esclarecimento que tem a impressão de haverem decorrido vários anos desde que iniciou. Mas, se o pupilo estiver altamente interessado e for bom discípulo, realizando admiravelmente as tarefas solicitadas, o término da atividade se dá em poucas horas, de sorte que, ao retornar ao bulício das atividades comuns, pode o instrutor perceber que o cálculo que presumiu esteve muito além do verdadeiro. Para o mesmo ensinamento, em outra ocasião, com aluno menos aplicado, haverá maior demora na assimilação da matéria, apesar de que, para o instrutor, a idéia do transcurso seja exatamente a mesma. Assim, ao efetuar o cálculo, baseando-se no caso anterior, irá ter desagradável surpresa, pois verificará que os seres encarnados estão em fase bem mais avançada de suas vidas, o que determinará a ele a duração do tempo decorrido.
Terá o amigo instrutor perdido algum tempo? Ou terá ganhado, no caso do aluno anterior? Nem uma coisa nem outra. O importante foi a realização da tarefa, independentemente de ter havido este ou aquele decurso de prazo no cotejo com o que ocorreu na face do globo. Teria sofrido algum desgaste prejudicial, se tivesse de atender aos reclamos de algum ser encarnado. Quando existe, porém, tal situação, a demandar os serviços do socorrista, não receberá incumbência que venha a desviá-lo dos objetivos imediatos.
Pensamos ter trazido alguns fatos à consideração do leitor, para os quais não havia destinado as reflexões. Não estamos levantando a fímbria de nenhum mistério, mas estamos, com esta dissertação, promovendo a desconfiança de que algo existe do lado dos espíritos que não se configura exatamente da mesma forma do ver e do sentir dos encarnados. Sendo assim, gostaríamos de vê-lo concluir que tudo o que for capaz de assimilar dos elementos trazidos pelas informações dos irmãos do espaço, através da mediunidade dos escreventes, deve arquivar-se rigorosamente, sem contestação fundamentada nas observações produzidas pelos sentidos. Aqui vale o espírito compenetrado do valor das ilações puramente filosóficas, pois o que é meramente circunstancial, como é a vida no orbe, não pode prevalecer para a formação doutrinária que se pede a quantos almejem chegar ao mundo dos espíritos com o desejo de evoluir.
Oremos para que as noções que estamos intentando fazer chegar à compreensão do amigo realmente sejam recebidas com o mesmo amor com que foram emitidas. Fiquemos nas mãos de Deus, agora e sempre, o que, em termos espirituais, significa exatamente a mesma coisa.







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DE GRAÇA





São muitos os escreventes que recebem as mensagens do Além como se fossem beneplácitos incríveis que se fazem à sua humilde postura de receptores. Para muitos, realmente existe enorme favorecimento na atitude dos companheiros desencarnados, pois dão inúmeras orientações que, de outro modo, os infelizes terrenos não teriam como conseguir em virtude da fragilidade de sua composição mental.
Mas muitos outros irmãos que se colocam à disposição do etéreo são vilmente enganados por seres cujo desejo é o de verem prevalecer vícios e maus costumes. É como exercem sua influência, no sentido de se manterem em posição de ascendência intelectual, pois a humildade do encarnado em questão está eivada de fúteis desejos de grandeza e de reconhecimento público.
Acontece raramente outro tipo de subjugação, este muito mais sutil porque benéfico: é quando irmãos de ordens mais elevadas trazem problemas para os encarnados, sabendo, de antemão, que serão incapazes de resolver sem que se transformem por dentro, alterando substancialmente sua atitude diante das virtudes a conseguir. É uma questão de prova muito mais que de obsessão. São os médiuns, em tais casos, muitíssimo capazes de agir em consonância com os deveres e obrigações, mas desandam, em atitudes de profundo desrespeito às normas que aceitaram como válidas, a partir do momento que passaram a receber as mensagens. São estes os que deveriam considerar que estão recebendo de graça e que deveriam concluir, portanto, que de graça deveriam trabalhar. No entanto, exigem que se lhes dêem oportunidades superiores de recebimento de mensagens muito extensas e complexas, de forma que os leitores se extasiem diante de faculdades tão desenvolvidas.
Bem, aí estão várias atitudes possíveis diante da mediunidade. Gostaríamos de ver o leitor entretido em considerações a respeito de qual delas se justificaria perante o Senhor, caso viesse a se propor ao trabalho da intermediação. São considerações que devem realizar-se um dia ou outro, mas que desejaríamos que ocorressem o quanto antes, para que tivessem os irmãos da espiritualidade outros mediadores que considerar no rol daqueles que apanham os melhores ditados, sem se considerarem, por isso, apaniguados por méritos superiores.
Analise, bom amigo, este mesmo ditado e veja se ficaria satisfeito em ter apanhado semelhante mensagem. Veja se não está exigindo intimamente que tudo se tivesse desenvolvido de modo mais sutil, mais formoso, mais literário, mais profundo, mais elegante, mais... Sabemos que existem espíritos atualmente ditando várias obras a alguns médiuns que não se conformam com o recebimento de ditados tão simplórios. Por outro lado, há alguns que, ao receberem as comunicações, agradecem muito ao Senhor mas nem de longe suspeitam a extensão do valor dos trabalhos, enquanto outros ainda ficam deslumbrados com mensagens relativamente pobres, mas não se tocam de que os dizeres que ali se contêm são endereçados diretamente para eles mesmos.
Como você vê este ditado? Como acha que o escrevente deveria reagir ao tomar semelhante texto, apesar de ir registrando os vocábulos com extrema rapidez, impedido que está de refletir a respeito do conjunto? Sabemos que os temas que propomos estão muita vez distantes demais da realidade de alguns leitores, enquanto outros podem considerá-los por demais simples. É assim que transcorre a vida. O importante é saber situar-se perante as obrigações determinadas em lei pelo Pai e explicitadas, com enorme precisão, por Jesus.
Está o amigo cansado de receber estes avisos de contenção dos impulsos deletérios? Pois saiba que a consciência pesada não fará outra coisa, durante todo o tempo em que se supuser carente da justiça e do amor divinos.
Faça, por favor, a ligação da primeira parte com o último parágrafo e veja se é capaz de evidenciar o ponto de contacto que nos levou a realizar esse último apelo à boa vontade e ao bom senso do amigo. Será que a vida nos terá sido dada de graça?

Senhor, nós vos agradecemos a possibilidade de transformar meros impulsos energéticos em textos de tanta profusão de idéias. Mais teríamos para agradecer, Senhor, se nos fosse dado acompanhar cada envolvimento dos leitores nas elucubrações e nos raciocínios que desenvolvemos, para podermos aumentar o discernimento na análise do teor e da forma que mais devem ser incentivados, para que mais e mais pessoas venham a considerar-se em débito e atrever-se a recuperar o tempo perdido, através da aplicação às suas vidas dos benefícios da inteligência e da benquerença pelos irmãos em desajuste orgânico ou psíquico. Que este apelo, Senhor, se lido por algum amigo, se torne em mais uma ardente súplica de compreensão da verdade, para o que, desde já, nos propomos como auxiliares com quem se pode contar a toda hora.

Mais queríamos registrar neste desenvolvimento, mas, para não corrermos o risco de tornar o amigo profundamente desesperançado, por verificar que nem tudo são flores entre os que se atreveram a vir demonstrar o grau de seu adiantamento, vamos encerrando por aqui, crentes de que haverá compreensão e perdão pelas atitudes tão pouco integradas nos ideais evangélicos.
Estamos propositadamente confessando-nos culpados de vários deslizes. Saberá o companheiro encarnado reconhecê-los e apontá-los, após serena e reflexiva leitura deste texto? Aguardaremos pacientemente que suas vibrações se tornem favoráveis a que possamos entrar em contacto para os devidos esclarecimentos de parte a parte. Teremos sorte nesta iniciativa? Pois o resultado final depende somente do amigo.
Fiquemos todos nas graças de Deus!







22

UM TIRO PELA CULATRA





Quando passeava pela Terra, não tinha inteira noção do que poderia esperar realizar para usufruir a vida em caráter espiritual. Sabia bem o que eram propriedades materiais, de sorte que tudo fiz para que os meus bens crescessem em importância e valor. Para isso, sufoquei muito a consciência, pois precisei sacrificar muitas das virtudes que me apregoavam como sendo as essenciais para o bom procedimento. Eram os meus pais, os meus familiares, os meus professores, os sacerdotes e confessores, enfim, todos os que tinham autoridade sobre mim até determinada idade.
Como me mantive católico até o final, os padres exerceram mui poderosa influência, principalmente no sentido de que determinavam certo procedimento, conquanto tudo realizassem em sentido inverso. Como era bom observador e via que se aproveitavam de minhas posses para erguerem as suas missões apostólicas, no sentido de dominarem mais larga faixa da população, não acreditava em suas pregações morais, nem quando citavam diretamente os Evangelhos, de onde extraíam as passagens em que o Mestre combatia as mazelas humanas, especialmente dos hipócritas, que tentavam fazê-lo culpar-se de crimes contra as leis mosaicas.
Mas esse meu modo de ser foi terrível para o encontro que tive comigo mesmo no etéreo. Aqui, desejei, desde logo, ver prevalecer minha vontade, já que tinha comprado diversas comendas, através de valiosos auxílios encaminhados diretamente à Santa Sé. Clamei por justiça e evoquei todos os sacerdotes que para cá partiram antes de mim. Só um deles compareceu, compassivo, recomendando-me muita prudência, pois ele mesmo estava passando por tormentos inacreditáveis.
Não sabia eu, na época, que não viera por conta própria, mas que fora trazido por meus protetores pois, apesar de tudo, por incrível que pareça, havia quem se interessasse por minha recuperação. Vim a conhecer, depois, que muito do que depositei nas mãos dos sacerdotes foi com bom ânimo, sem perverter o significado da benemerência. Ainda bem que houve boa vontade. Eu mesmo não desconfiava disso, pois sempre atribuí o fato a que tinha a mão furada, como se costuma dizer, e distribuía às largas muito do que conseguia arrecadar através dos negócios e das negociatas. Até representante do povo na assembléia consegui ser, por meio da compra dos votos. Isso tudo não me parecia ser demérito ou crime, pois jamais me vi na condição de ter de matar alguém para impedir que outro melhor qualificado viesse a conseguir exatamente a vaga que estava pleiteando. Talvez não houvesse quem se opusesse de alma pura, de sorte que todos os adversários políticos tinham exatamente os mesmos péssimos atributos que eu. Fica aí um pequeno rastilho de pólvora, para fazer explodir o paiol das arrogâncias.
Mas o que me traz aqui não é a descrição do que se passou comigo no âmbito da carne nem o sofrimento que adveio, assim que percebi que não lograra estabelecer-me no paraíso. O que me traz é o poder que deverão ter minhas palavras no convencimento do leitor que se ache igualmente prenhe dos ideais humanos mais grosseiros do ponto de vista da mera realização pessoal. Não gostaria de ver os irmãos que se atreverem a ler estas páginas imaginando-se às voltas com os sofrimentos da consciência culpada. Por isso, devo dizer que os males que praticamos, em nome das leis admitidas socialmente, muitas das quais contrariam até os textos da legislação oficial, são suficientemente poderosos para nos deixarem derreados e perplexos durante largo tempo, quando nos parece que tudo fica por demais tenebroso e indefinido.
Sabemos que Deus é pai de misericórdia e ainda assim não no julgamos justo quanto à decisão de nos deixar ao alcance de certos inimigos que supúnhamos desprezíveis. É uma lição de humildade inesquecível, entretanto, bastaria ter tido a consciência aclarada pelas luzes evangélicas para não ter de sofrer tais desditas. Ficasse alegre com o mínimo necessário, soubesse ver nos entes queridos a herança do amor do Pai, visse nas poucas habilidades o mérito a ser desenvolvido através de trabalho honesto e teria, por certo, tido a felicidade de fazer vingar o encarne. Agora, diante da falência evidente de todos os atrevimentos nesse campo, vou ter de propor-me para nova aventura na face da Terra, sob condições muito inferiores às dos que joguei na lama da miséria mais aviltante.
Pode parecer ao leitor menos atento que esteja eu bastante bem, já que minha facilidade com as palavras favorece conclusões desse tipo. Mas não é bem assim o que se passa no íntimo de meu ser, uma vez que devo refazer inúmeros laços afetivos que rompi, inadvertidamente, nas andanças do egoísmo, da ganância e da vaidade. Já se vê o quão orgulhoso sou, tanto que pretendo até dizer que o meu discurso conseguirá, indubitavelmente, trazer, para o redil dos espíritas, muitos companheiros que jazem submersos nos mesmos lodaçais em que permaneci entalado por toda a vida.
Cá estou a pedido (ou a mando?) dos orientadores da Escolinha, que desejavam que alguém viesse demonstrar como reagem os seres em estado de recuperação ainda bem no comecinho. Dizem-me eles que muito deverei pelejar até merecer freqüentar regularmente os primeiros cursos, embora me apresente em condições intelectuais muito superiores às de muitos que lutam para o entendimento das verdades mais simples. É como se tivesse já cursado o ensino superior, conhecendo toda a matéria, sem ter aprendido nada que pudesse pôr em prática, preferindo exercitar o poder de dizer a todos o que julgo ser o melhor, esquecido completamente de que existem diretrizes superiores a serem seguidas.
Esta perfeita lucidez que demonstro é o que habitualmente ocorre com quem, estando ainda muito confuso, recebe os influxos magnéticos dos irmãos interessados em desvendar a parte oculta dos sofredores ainda impenitentes. Sei que deveria solicitar, rogar mesmo aos parceiros que me mantenham sob tal situação, mas também tenho a convicção de que tal estado é inteiramente estranho às verdadeiras condições espirituais de minha consciência. Não será essa a ilusão que têm os encarnados que se vêem donos de sagaz inteligência e de sofrível capacidade sentimental, de modo que sufocam a voz da consciência para verem prevalecer sua vontade materializada?
Muitas outras suposições poderia eu realizar durante esta transmissão, principalmente porque tem sido essa a minha existência nestes últimos doze anos. Quem sabe algum dia atinarei deveras com o real conhecimento de minha composição pessoal, de sorte que possa vir a esquecer os remorsos, as dores morais, os desejos de vingança, a impressão de injustiça, e me atire, por inteiro, nos braços de Jesus! Quanto deverei sofrer até então?
Não gostaria de afastar-me desta mesa sem antes rogar aos irmãozinhos que orem comigo a prece do Senhor, pois estou tão embaraçado que mal consigo balbuciar algumas palavras, remetendo logo o interesse para outra direção, realizando a oração de modo mecânico, sem qualquer vibração íntima. Que pena que tenha ainda de ser assim, pois o que mais desejava era escrever uma prece igual àquela que os irmãozinhos deixaram registrada no dia de ontem. Algum dia lá chegarei. Faço votos que na companhia de muitos destes companheiros que estão terminando comigo a reelaboração desta mensagem.




Comentário



O irmãozinho deixou muito claro o seu principal defeito, não só por tê-lo declarado, como ainda pela formulação das idéias e conceitos, pois tudo girou em torno de uma simples palavrinha: eu, símbolo do profundo egoísmo que lhe grassa no interior.
Poderia ter escrito algo mais condensado e mais simples, mas deixou-se conduzir pela glória de ter as palavras depositadas nas mãos de quantos leitores entrarem em contacto com possível publicação. Teria tido o mesmo desempenho, se soubesse que a confissão que fazia seria levada na conta de mero reflexo pessoal, para futuras leituras, de forma a bem caracterizar os defeitos a serem extirpados? Duvidamos muito, já que o que o empolgou, do começo ao fim, foi a facilidade que teve de transferir os pensamentos para o intelecto do mediador e deste para o registro lingüístico.
Mas não estamos aqui para facilitar as coisas para o caro amigo que está a imaginar o que tudo isso pode ter a ver com ele, que cumpre razoavelmente as obrigações espíritas, segundo as premissas da moral evangélica. É que nem tudo se configura exatamente como pensamos que seja, havendo muitas sugestões íntimas que transparecem somente quando deixamos correr a pena despreocupadamente. Assim, se o bom amigo desejar aproveitar-se de nossa ponderação, faça como se estivesse debaixo de ataque de animismo, ponha-se a escrever desbragadamente, evite colocar barreiras aos impulsos intelectuais, suspenda as defesas morais e verifique até onde vão as inconseqüências de seu intelecto. Verdadeiramente, não estamos querendo sugerir que tudo resulte em obra publicável, de modo que o mais que se irá encontrar serão imprecisões, a bem caracterizar os defeitos a serem analisados, segundo as fontes que os produziram, para serem subjugados pela vontade poderosa de quem quer acertar.
Talvez este método de trabalhar sobre a psique vá adentrar fundo nos interesses dos psicólogos e alguém venha a acusar-nos de estarmos incentivando algo com o que o pobre mortal vai se envolver, sem ter como sair das armadilhas que o inconsciente é bem capaz de preparar. Isto será bem verdade, se estivermos interessados em descobrir as falhas de procedimento no sentido da formação psíquica adquirida durante a humana peregrinação corpórea. Mas o que estamos incentivando está bem longe de se constituir em ameaça para o pobrezinho que acreditar em que tudo possa evidenciar-se através desse método psicográfico. O que estamos sugerindo que faça é simples abertura consciencial para conhecimento dos pequenos desvios de comportamento moral, em função do que o Cristo deixou recomendado em seus discursos. É leve exercício de perquirição de algumas verdades em falta na concepção do que seja a vida e a existência. São tênues conclusões sobre como deverá proceder para merecer ascender na escala espiritual, tendo como roteiro aquele que elaborou o irmãozinho mensageiro desta data, que registrou seus impulsos vibratórios de maneira tão franca e direta.
Antes que nos acusem de maliciosa atitude, pois a seriedade do que estamos propugnando ultrapassa de muito a simples análise conjectural das possíveis causas das falhas de comportamento das reações baseadas na frustração dos desejos, vamos suspender as apreciações. O que estamos estimulando é a observação cármica da vida e isso transcende a qualquer cuidado dos psicoterapeutas, que não chegam sequer a equilibrar o procedimento social com os impulsos psíquicos, uma vez que não têm essa visão mais vertical e aprofundada do sistema doutrinário da filosofia espírita, a qual remete o conhecimento da personalidade para paragens de outras épocas, em encarnações anteriores.
Mas isto será uma outra história...
Fiquemos, portanto, entretidos com a simplicidade do evento: a escrita pura e simples de todas as idéias que nos perpassarem pela cabeça e às quais não daremos muita importância, a não ser que descubramos tendências fortemente impregnadas, da mesma forma que a análise do texto do irmãozinho nos propiciou.
Aí, o que fazer?
Orar com muito afinco para que os protetores nos ajudem a deslindar definitivamente o intrigante mistério de nossa personalidade. E isso é pouco?







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SACRATÍSSIMA COMUNICAÇÃO





Sempre que nos atrevemos a comparecer diante dos encarnados, consideramos a nossa presença como favor especial do Pai, em sua infinita misericórdia. Embora tenhamos a propensão para julgar os irmãos necessitados de amparo moral e de ajuda espiritual, não é com tal desiderato que muitos vêm, mas sim porque se sentem abandonados dos companheiros que ficaram na carne, enquanto passavam eles isolados do restante dos parceiros, imersos em sofrimentos atrozes, por imprevidência, arrogância, ganância ou maldade.
Sendo assim, não pense o amigo que estejamos prestando qualquer favor, enquanto demonstramos sabedoria, por estarmos a reproduzir muitos ensinamentos que os mestres nos passam. Mesmo quando são alunos da Escolinha que se apresentam, no atendimento exclusivo das determinações curriculares, efetuando meros exercícios para o aprendizado necessário de como se vincular mais facilmente com os entes encarnados, até aí a expectativa do plano espiritual é o de alcançar que suas palavras, seus apelos ou suas exortações e advertências venham a significar maior proximidade e mais rápido congraçamento.
Consideremos os vários casos dos amigos que vieram trazer o relato de suas experiências pessoais, sob o comando assistencial dos mentores do grupo. Teriam eles a sensação de que os textos tivessem o dom da conversão dos que desandaram em seu caminhar evangélico? Certamente a esperança de serem úteis preside a muitos dos atos nesse sentido, mas o fato mais importante que os convenceu a partilharem destas sessões mediúnicas foi o de que seriam ouvidos e, portanto, iriam ter a oportunidade de se manifestar para darem início a alguma correspondência que os fará sentirem-se gente de novo. É a doce melancolia de quem sofreu desditas muito profundas e que se lembra dos momentos mais felizes em que perambulavam ao sol, pelas estradas da vida. É a bênção de Deus a que acima aludimos.
Se o bom amigo levar em consideração este novo ponto de vista que lhe estamos pondo diante dos olhos, com certeza irá conduzir-se mais serenamente, quando estiver lendo as produções mediúnicas. Mesmo quando estiver diante de longos romances ou de livros doutrinais de largo fôlego, pare um pouquinho para agradecer ao Pai a bem-aventurança de poder contatar com os pensamentos provindos de seres do etéreo, ansiosos por verem as vibrações se perpetuarem no coração dos que, com amor e boa vontade, forem predispondo-se para o verdadeiro tributo de companheirismo que representa a anuência às verdades reveladas. Até mesmo quando os textos estiverem eivados de defeitos conceituais, mas que se sabe que foram apanhados seriamente, por médiuns idôneos, apesar de refletirem intentos muito próximos da perversidade, que se reaja com muita consideração, para que as vibrações sejam positivas e atinjam os comunicantes em pontos essenciais de sua contextura moral, a fim de se lembrarem de que deverão refazer os posicionamentos, para voltarem à frente dos encarnados com notícias mais verdadeiras e honestas, quando terão ensejo de verificar que estão merecendo do Senhor a oportunidade da regeneração.
É preciso, portanto, estar o leitor bem atento, no que respeita às reações emocionais e intelectuais. Rejeitar in limine qualquer mensagem atribuída ao plano espiritual é correr o sério risco de perder excelente oportunidade de melhorar as condições de relacionamento com os guias e instrutores. Em último caso, se a procedência for de avaliação por demais difícil, que se ore muitíssimo pelo autor, seja mesmo o próprio indivíduo que se fez passar por médium, pois todos nós temos uma alma que deverá sofrer o escrutínio da verdade estabelecido pelo Senhor, quando instituiu as leis da justiça e do trabalho.
Considerando que tudo o que nos chega do Além possa conter algum mérito, vamos orar com desvelo para que mais e mais textos dos bons possam ser remetidos aos mortais, o que demonstrará o avanço inequívoco dos processos de contato entre os planos. Como se vê, somos de opinião de que muito do que ocorre nesse sentido está indefectivelmente preso às atitudes dos próprios destinatários. Não é assim que agem os seres humanos ao se corresponderem entre si? Não é verdade que as cartas que não recebem resposta, se tornam únicas? Então, está o amigo procedendo a alguma revisão interior de seu modo de interpretar os recados provindos do etéreo?
Enfim, devemos muito agradecer a Deus tudo o que nos chega no sentido de avisar que temos de tomar extremos cuidados com o desenvolvimento das qualidades e virtudes a serem assimiladas e, definitivamente, torná-las partes constituintes da personalidade. Que seja esse o resultado final destas nossas arremetidas.







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O BEM





Razoavelmente aquinhoado pela sorte, pairei pela vida sem muito esforço físico, já que a saúde não sofreu muito com o avançar das fases do crescimento, da maturação e da velhice. Quando chegou a hora de despedir-me, sofri um pequeno abalo no coração, depois dos oitenta anos de idade, de modo que fui apaniguado pelas benesses divinas, no que tange aos estímulos carnais.
No que respeita aos bens materiais, devo dizer que herdei alguns, havendo mais do que para me sustentar durante todo o transcurso da vida. Como não hesitava em efetuar negócios lucrativos, deixei para a descendência mais outras propriedades, não podendo queixar-se qualquer dos filhos e enteados.
Relativamente aos bens espirituais, devo dizer que, no que dependeu de uma boa formação religiosa, não deixei de executar nenhum dos compromissos que ia assumindo, quer com os sacerdotes, quer com os seus representantes em diversas instituições de benemerência. Entretanto, eu me furtei a contribuir para o fisco o mais que pude, para não sentir-me espoliado pelas forças governamentais. Durante largo tempo, mantive boa parte dos governantes em minha folha particular de pagamento, de forma que as propinas favoreceram-me enormemente o crescimento das posses. Mas isto não me ficou como peso na consciência até o momento do despertar para as verdadeiras relações que deveria ter mantido com todos os semelhantes, durante todo o tempo.
"Não faz mal" — refletia inconsciente — "quando chegar a hora da benemerência fraterna universal, irei ter do que me desfazer para proporcionar a todos o equilíbrio vital entre corpo e alma, para que prossigam progredindo."
Adiava as decisões mais importantes, aguardando novo encarne para que tudo pudesse voltar-me às mãos para o resgate dos débitos.
Nessa expectativa, aguardei por mais de vinte e cinco anos, imerso em profunda desarmonia interior. Achava que tudo tinha realizado segundo os preceitos religiosos, mas algo, no fundo da alma, me dizia que estivera o tempo todo tão-só aproveitando-me do trabalho dos pobres seres escravizados sob o rigor da lei.
Um belo dia, apareceram-me diversos espíritos de fulgurante luz, para resgatarem-me da escuridão. Sei agora que se tratava de meros socorristas cujo esplendor não era assim tão pronunciado, embora para mim tenha sido como se se abrissem as portas do paraíso. Foi aí que compreendi que o bem pode ser feito não somente na face da Terra mas, principalmente, no âmbito da erraticidade, pois as pessoas nada possuem de seu aqui, a não ser a ânsia do progresso, para fazerem jus ao desligamento da dor e do sofrimento.
Aceitei partilhar deste grupo, na esperança de que pudesse vir a exercer alguma atividade bastante próxima da que me foi possível divisar quando o socorro se deu comigo mesmo. Nos primeiros tempos, tinha a ilusão de que tudo se arrastava enormemente, fastidiosamente, já que não via nenhum oferecimento de participação em romagens de auxílio, para qualquer dos pontos possíveis de se alcançar.
Esquecia-me das recomendações dos mestres para os estudos e para a meditação. Nesse chove, não molha..., passei mais diversos anos, indeciso quanto a que atitude tomar para facilitar o acesso ao coração das palavras norteadoras dos amigos da Escolinha.
Certa ocasião, propus-me com veemência a integrar-me em grupo que se destinava ao resgate de alguns companheiros na Terra e fui admitido sem cerimônias. Fiquei muito alegre e corri para participar de reunião em determinado centro espírita. Em lá chegando, logo fui sendo levado a me pronunciar a respeito dos deveres dos bons cristãos. Logo que me pus a falar, várias questões me foram sendo propostas, quer pelo encarnado que dirigia os debates, quer pelos parceiros que me estimulavam o pronunciamento.
Fiquei atarantado com o pouco que sabia a respeito das virtudes. Falavam-me de joeirar o trigo para separação do joio e eu ficava perplexo, não entendendo a imagem bíblica do ponto de vista espiritual. Atrapalhei-me deveras e fui obrigado a confessar-me orgulhoso, vaidoso e egoísta. Foi a glória dos orientadores, que aguardavam tal oportunidade para me passarem várias sérias lições a respeito de meu procedimento.
Voltei para meu retiro, devendo traçar vários projetos de realizações de benemerências, para o que estava querendo destinar-me. Ao apresentá-los aos maiores, tive a desdita de não ver um único aprovado, embora recebesse instruções bastante precisas a respeito do que alterar para facilitar a aprovação.
Após alguns anos de idas e vindas, fui aceito como membro efetivo da equipe, pois deixei para fazer o extrato das atividades em conjunto com a turma, não pretendendo acertar quanto ao que e ao quanto fazer. Finalmente, percebi que deveria, humildemente, sujeitar-me aos deveres, sem perquirições da importância ou do valor do bem a ser consignado como bônus ao meu ativo.
Depois de muito titubear, assim que me foi dada esta oportunidade de expor os meus desavisados juízos, a muito medo, assumi a cátedra para fazer este pronunciamento de dor e de estremecimento, já que não vejo qualquer importância no fato de estar relatando tudo quanto escrevi.
Explicam-me que a minha participação, como vi delineado no programa da equipe, traz ao encarnado a perspectiva do sofredor em tratamento, a pique de oferecer claros indícios da percepção das próprias faltas. É como se me encaixasse dentre os que foram convidados para transmitir seus testemunhos de dor.
Pois, se foi suficiente o que deixei escrito, peço a oportunidade de me despedir muito agradecido, podendo dizer que muito me aborreceu a princípio ter de estar aqui como que na qualidade de cobaia, mas, finalmente, compreendi que deveria orgulhar-me faceiramente pelo bom desempenho que consegui, mercê da ajuda de todos estes bons amigos.
Não é maravilhoso saber-se membro de grupo altamente evoluído ou interessado nisso?
Nesta altura da palestra, tenho vontade de argüir o bom leitor a respeito de suas reações, perante este enorme movimento, que se expande pelos continentes, de contacto com o plano da espiritualidade, mas o pessoal está a me avisar que, de novo, estou tentando extrapolar a minha simples condição de ser muito imperfeito, necessitado urgentemente de voltar ao retiro, para promover novas meditações a respeito das posturas intelectual e moral.
Gostaria também de solicitar a todos que elaborem uma bela prece para os que se encontram nesta fase da penitência, mas eu mesmo caio em mim e vejo que estou, simplesmente, transferindo a sutil alegria por ter participado da sessão, para recomendações absolutamente incongruentes com o momento presente.
Que sirva, então, minha atuação como exemplo a ser estudado por quantos tiverem o poder de compreensão do que se deve ver em depoimentos desta espécie, para prevenirem-se contra as más atitudes e os maus pendores, os quais remeterão, indubitavelmente, o orgulhoso, o vaidoso ou o egoísta para a escuridão das cavernas.
Fiquemos todos nas augustas e suaves mãos de Jesus, que nos propiciará os elementos indispensáveis para que possamos ascender ao reino do Pai.




Comentário



Realmente, demos ao companheiro oportunidade de comentar parcialmente a própria participação. É evidente demais o desejo do grupo de torná-lo modelo para determinado tipo de reação, mediante o grau de despojamento das deficiências adquiridas no encarne mais recente.
Mas não se iluda o leitor, pensando que todos as pessoas que aportam com semelhantes problemas encontram, desde logo, apoio para se livrarem das dores e sofrimentos. Fizemos de propósito que o narrador cumprisse a obrigação de demonstrar o que se passou desde o momento em que foi resgatado para a luz em que se move este grupo, mas com a recomendação de deixar muito bem expresso o quanto de tempo desfilou pelo Umbral.
Quando em ponto de bala para a exposição, o irmãozinho não percebeu que estava sendo manipulado ainda por forças inferiores, que, por largo tempo, se infiltraram vibratoriamente em sua psique, de forma a perturbá-lo até dentro da instituição socorrista. Mesmo os protetores mais eficazes não conseguem afastar de todo essa péssima influenciação, pois o que lhe dá guarida é o procedimento mental do assistido.
Assim, pensar que estar sob a proteção dos muros da Escolinha é estar liberto de todos os dissabores é conclusão muitíssimo precipitada. O trabalho de regeneração é árduo e sustentado através de muito esforço na consagração integral que se deve fazer aos deveres.
Aspecto muito importante é a compreensão da necessidade de se alijarem da mente as perversidades sentimentais ou emotivas, pois, se sobrarem desejos de rebeldia, de vingança, de engrandecimento diante dos demais, isto se refletirá de modo poderosamente negativo sobre os pontos de bondade que se poderiam incrementar por meio dos resultados auspiciosos das tarefas cumpridas.
Relativamente ao fato de termos estado sempre vigilantes para que o depoimento se desse vigoroso, pensamos não haver a possibilidade de levantamento da mínima dúvida. Mas, se algum leitor mais desconfiado suspeitar de que tudo se forjou, para que o ingressante na turma representasse um papel, devemos dizer para que lembre de que para aqui viemos com a permissão dos mentores, cuja autorização foi conseguida em planos bastante mais altos. Desta forma, não se deve suspeitar de segundas intenções maliciosas. Quando muito, não dizemos tudo por falta de espaço ou por nós mesmos não estarmos preparados para isso. Se, alguma vez, algum colega realizou alguma pregação com interesses diversificados, sem declará-los todos, pode ficar o amigo certo de que tudo o que quedou subjacente era de boa procedência moral. Assim, a presença desse meio sofredor deve ser compreendida como um passo adiante do último, já que o bom amigo desta tarde está bastante próximo de se libertar dos perseguidores, o que ele mesmo parece desconhecer, uma vez que nem citou a influenciação de qualquer força maligna sobre sua personalidade.
Eis que deixamos inúmeras pistas de como se desenvolvem certos serviços assistências no âmbito de nossa organização educacional, ao mesmo tempo que avisamos que o bem que se possa fazer hoje não se deve deixar para depois, quando poderá ser tarde demais, tendo em vista que a passagem pelo orbe é demasiado rápida.







25

APELO BEM DIRECIONADO





Quando os indivíduos estão a pique de se desfazer das vestimentas corpóreas, costumam elevar aos céus solenes apelos de benemerência e de perdão relativamente a tudo a que aspiram do outro lado e que temem perder, por não terem procedido exatamente como as consciências julgam que deveriam.
Os sentimentos aí se purificam um pouco, pois quase sempre essas pessoas são bem capazes de perceber que estão solicitando algo que, maliciosamente, deixaram para pedir ao final da vida, quando as cobranças dos respectivos pagamentos podem deixar de efetuar-se, tendo em vista que as forças estão no fim e que o tempo será insuficiente para a cobertura de todos os débitos.
Não atentam, todavia, para o fato de que os preços podem elevar-se, quando chegarem a este lado do etéreo, onde as contas deverão saldar-se definitivamente, para bem do devedor, pois, se ficarem para novo encarne os pagamentos, serão acrescidos de juros, em virtude das defasagens verificadas com o acréscimo das falsidades e da maldade.
Sendo assim, que o apelo da última fase da vida seja bem direcionado é o que deve estar pensando o bom amigo leitor, que quer ver uma saída satisfatória para o caso de o arrependimento ser verdadeiro.
É claro que forneceremos pista bem segura de como livrarem-se os devedores da perseguição dos desafetos e da consciência, mas o entendimento do que iremos propor deverá resultar de estado de ânimo bastante propenso à aceitação das verdades evangélicas como os únicos lenitivos capazes de arrefecer a dor do remorso.
Na derradeira etapa da vida, quando a pessoa já não tem como oferecer nada em troca da certeza da recomposição moral, deve o encarnado deixar-se enlevar pela idéia de Deus e por sua bondade infinita, crente de que tudo o que possa ocorrer-lhe venha em seu benefício e nunca para torná-lo ainda mais infeliz. Sob esse prisma, a verdade das deficiências vai revelando-se íntegra, ou seja, para cada efeito aparecerá, na tela da consciência, a respectiva causa, de modo que haverá compreensão total dos sofrimentos, bem como os meios de superação pelo trabalho diuturno em favor do próximo e pelo estudo dedicado para a compreensão exata do que seja a virtude e a utilidade de sua prática para o progresso.
Quem esperava que trouxéssemos alguma formulazinha salvadora, do tipo confessa-te que eu te perdôo, enganou-se redondamente. É preciso confessar, sim, com inteira sinceridade e desejo incondicional de melhoria; mas também é necessário saber entender que o trabalho irá reconstruir os sentimentos danificados pelas más qualidades, pela ganância e demais viciações de caráter, e que o estudo terá o condão de abrir a mentalidade para os fatores da evolução a serem adquiridos e integrados à maneira de ser do indivíduo.
Pois aí está a receita da salvação, tudo ordenado segundo os princípios evangélicos, conforme o ensino de Jesus reproduzido nos Evangelhos. Caso a linguagem dos evangelistas seja de difícil intelecção, recomendamos a leitura de O Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, cujas explicações promovem verdadeiros esclarecimentos de inúmeros pontos que suscitariam significativas interrogações. Para a complementação do entendimento, Kardec escreveu outros comentários a respeito dos eventos bíblicos em A Gênese, os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo.
De qualquer modo, entretanto, não ficar somente na leitura dos textos da codificação, mas procurar efetuar atenta leitura do chamado Novo Testamento, para obtenção de integrais informações a respeito de todas as passagens, predispondo-se à aceitação parcial das mensagens ali contidas, já que nem tudo pode ser atribuído diretamente aos conhecimentos do que Jesus ensinou ou dos fatos que lhe envolveram a peregrinação.
Apenas para exemplificar, existe, nos diversos autores evangélicos (Mt. IV: 1-11; Mc. I: 12-13; Lc. IV: 1-13), a passagem das tentações que teria sofrido o Mestre no deserto. É absurdo considerar-se como de origem divina toda aquela encenação metafórica, pois não houve testemunha do que o Cristo teria passado, nem das conversas com o Demo, que o tentava. Acreditar-se que o próprio Senhor viesse fazer propaganda de superioridade em relação ao pobre ser das trevas é simplesmente inconseqüente. Achar que alguém do plano espiritual viesse participar aos encarnados tais disparates, só se pensarmos em quem não tivesse o desejo de glorificar ao Pai.
Como conhecer a verdadeira intenção dos evangelistas? Simplesmente estudando muito as diversas tradições de outros povos antigos, onde o tema das tentações aparece, relativamente a outros missionários da luz que vieram fazer revelações à humanidade. Em todas as versões, fica claro que tudo são demonstrações dos deveres e obrigações para com o plano da espiritualidade, pois são as grandiosidades materiais que devem ser subjugadas por vontade tenaz, consciente de que os verdadeiros bens são os que transportamos para o etéreo, dentro do coração.
Pois esse é o apelo que trocamos pelo desejo humano mais legítimo de conseguir suplantar os defeitos, mesmo que à última hora, à vista do perigo da retaliação natural, para restabelecimento do equilíbrio das balanças da justiça de Deus. Ler, estudar, assimilar os conhecimentos e aplicá-los ao campo dos relacionamentos é o que se pede sempre, ainda mais quando bem pouco tempo resta para o término da peregrinação.
Haverá quem deseje saber se as pessoas que se dirigem, nessa fase da vida, aos templos religiosos, para suplicar a piedade do Senhor, terão alguma vantagem sobre os que não se dispuserem a orar, por não conhecerem exatamente qual o proveito que vão tirar, embora muito trabalhem pelo soerguimento físico ou espiritual de muitos irmãos, em várias casas de benemerência. O proveito daqueles será maior do que o de quem nem isso faz, mas certamente será menor do que o de quem trabalha denodadamente por ver os irmãos melhorarem de condição de vida, qualquer seja o aspecto considerado.
Mas, com certeza, quem estiver lendo estas páginas terá tido muitas intuições a respeito das atividades a serem cumpridas, em todas as situações de inferioridade ou de supremacia. Quem souber deslindar os raciocínios que apresentamos da maneira o mais razoavelmente clara possível, terá condições de conhecer todos os mecanismos da humana postura diante do mistério e saberá enfrentar a morte da mesma forma criteriosa com que vem encarando a vida. Não que os textos contenham algo de excepcional. Mas rara deve ser a capacidade que se dispõe a enfrentar tão áridas palestras, em época totalmente voltada para as apresentações meramente visuais, onde a linguagem se resume a umas poucas expressões comuns, para que mais pessoas consigam identificar-se com o ritmo psicológico das personagens.
Se os humanos conseguirem entender os apelos da moderna tecnologia eletrônica, certamente terão mais um recurso para a compreensão do que devem providenciar para alcançar, no plano da espiritualidade, serem apaniguados por condições de satisfatória felicidade, sempre relativa aos impulsos que determinaram todos os seus hábitos de vida.
Como entender esses apelos da moderna tecnologia eletrônica? Facilmente. Basta verificar como é que são lançados os pedidos para a aquisição dos bens materiais e aplicá-los todos aos aspectos da vida espiritual. Se, para vender um pedaço de sabão, tudo se apresenta limpo e rigorosamente brilhante, da mesma forma deve estar a alma dos que precisam considerar-se a um passo da ventura de serem aceitos em grupos de espíritos de excelentes desempenhos quanto ao caráter. Se, para que um banco consiga armazenar as economias...
Não vamos ficar a analisar os reclames, mas vamos incentivar que os telespectadores o façam, para que vejam o modo sutil com que se apresentam os argumentos para o convencimento visado. Essa introjeção nas modalidades da persuasão dos clientes, deve ferir de morte os próprios recursos de que cada qual lança mão para o próprio convencimento de que devam realizar estas ou aquelas exposições de motivo, para a justificação de todas as atitudes.
Vejam que, de certa forma, estamos deixando tudo nas mãos do temeroso consulente da última hora, mas não nos esqueçamos jamais de que Jesus nos contou a imortal parábola dos trabalhadores da undécima hora (Mt. XX: 1-16) e isto nos servirá, pelo menos, para nos encher de esperança.
É muito difícil a salvação nas condições apontadas, mas não será jamais impossível que se inicie aí o trabalho da recuperação, que deverá estender-se por bom tempo, mesmo depois do decesso.
Oremos sentidamente para que todos os nossos dizeres estejam formando um quadro bem coerente, para que os amigos leitores se estimulem pelas boas razões que conseguimos levantar. Caso os argumentos lhes frustrem as expectativas, então que tenham para conosco a mesma boa vontade que desejavam ver aplicada em relação aos próprios defeitos.
Quedemos todos nas mãos do Senhor!







26

NA HORA DA DECISÃO





Pode parecer ao bom amigo que toda hora seja igual. Não é verdade. Existem os momentos de decidir e aqueles de realizar o que ficou deliberado. Quanto à hora de trabalhar, parece-nos que é só dar continuidade aos projetos elaborados, para que o seguimento da tarefa determine cada pequena atividade, a fim de que o conjunto da obra se realize.
O difícil mesmo é a hora da decisão. Claro está que não iremos dar aulas de procedimento, no campo das realizações dos desejos ou aspirações materiais; nem nos atreveríamos a isso. Entretanto, as decisões, no âmbito do espiritual, têm evidentes reflexos sobre tudo o que se faz na vida.
Vejamos.
Quando julgamos que tudo não tem valor algum diante das grandiosidades dos semelhantes, uma vez que ardemos de inveja, aí o nosso caráter, a nossa personalidade, o nosso jeito de ser adquire pronunciado azedume, parecendo-nos que tudo se volta contra nós e nossas realizações. Não ficamos contentes com nada e o bem maior, a felicidade que deveríamos localizar bem à frente, quase ao infinito, não nos reluz diante dos olhos, para o estímulo necessário à compreensão das verdades profundas da vida.
Um simples sentimento relativo à matéria faz desandar, portanto, toda uma gama imensa de valores que deveriam ser os principais, a comandar todos os procedimentos na vida.
No etéreo, embora não haja grandezas materiais, existem as formosuras espirituais de quem se desenvolveu pelo muito sofrer e trabalhar em prol do engrandecimento moral. Quem vê os espíritos de luz volitando com tanta rapidez e desembaraço não sabe que de sacrifícios e de dores tais seres tiveram de enfrentar, em lutas aguerridas diante das vicissitudes, que são iguais para todos. Nesse momento, pode despertar, nos espíritos de caráter mal formado, a mesma inveja que sentia no campo da matéria, pois nada fez para suplantar tão grave defeito.
Tanta é a importância na hora de nos decidirmos por esta ou aquela atividade que outra não poderia ser a nossa advertência, no sentido de prevenirmos a quem pudermos, para que se observem as normas evangélicas da pureza das intenções e da necessidade total do despojamento de todos os vínculos materiais, para se suportarem os reclamos e as exigências espirituais, nunca tranqüilas como quando se chupa um sorvete de chocolate. Da mesma forma que o doce gelado pode trazer conseqüências funestas para a saúde do corpo, também péssimas decisões de caráter moral podem ferir o espírito, pois se incrustam maus hábitos na maneira de ser, que exigirão enormes esforços para a extirpação.
Que fazer para se superarem as dificuldades? Agora, sim, vamos recomendar a oração, a prece rogativa do auxílio dos benfeitores da humanidade, que são os protetores e espíritos guardiães. Um pedido bem feito ao Senhor poderá despertar a consideração dos que se responsabilizaram por acompanhar-nos nas peregrinações expiatórias, de sorte que as intuições que nos vão perpassando pela mente bem podem significar a preocupada ajuda daqueles que nos estão vendo à beira da falência moral, por estarmos tendentes a tomar alguma atitude frontalmente contrária aos ensinos do Mestre.
A oração dita no recolhimento da consciência, junto com o reconhecimento das falhas que nos estão mais visíveis, transformará o ambiente energético que nos circunda, podendo, então, atuar o magnetismo dos espíritos amigos, que nos enlevarão a alma, no sentido de adquirirmos condições de mais facilmente absorver os influxos vibratórios que nos enviam para nossa orientação.
Transformar a hora da decisão em momento de extrema importância espiritual é o que recomendamos, incondicionalmente, para todos, uma vez que nunca o ser humano pode considerar-se barco a navegar à deriva, no largo oceano das experiências humanas. Quando o timoneiro abandonou o posto e o capitão perdeu o rumo, certamente haverá quem, irresponsavelmente, tenha dado acesso a outros padrões vibratórios, engajando em sua travessia seres imperfeitos, desejosos de ver o barco afundar.
A linguagem figurada sempre parece-nos de mui frágil contextura para representar devidamente o que temos em mira. Mas, de vez em quando, somente assim temos condições de nos fazer entender plenamente pela mente fantasiosa dos encarnados. Veja que até a difícil decisão de tomar os termos em sentido literal pode ter conseqüências no campo dos relacionamentos. Que se dirá, então, quando as decisões envolvem outras pessoas, em situações de íntimo relacionamento, quer por serem os vínculos pessoais, quer profissionais, ou sociais, ou religiosos, como por ocasião do casamento, da escolha do emprego, da compra e venda de bens de raiz, da persuasão de que tais ou quais sistemas religiosos têm vantagens em relação aos demais?!
Seríamos levianos se estendêssemos esta pequena dissertação, exemplificando ainda mais, pois o bom leitor será bem capaz de perceber, no campo fenomênico, quais os eventos que servem para testemunhar que a recomendação de recolhimento é sábia no que respeita à hora de se tomarem decisões cruciais. Fiquemos, pois, por aqui, advertindo para o fato de que a valorização de nossas palavras deve ser precedida de extensa meditação, pois o que parece muito simples, à primeira leitura, pode trazer novos planos de interpretação, após alguma reflexão, principalmente quando cotejados os textos, complementando-se os argumentos, já que uma obra nunca apresenta temas isolados, mas que compõem um todo orgânico, que procura o mais possível ser homogêneo.
Este é o objetivo que temos em mira com estes textos aparentemente dissociados uns dos outros, uma vez que todos se voltam para o convencimento do leitor de que deve tomar a sábia decisão de se dirigir para os doces ensinos de Jesus, com a alma purificada pela prece.







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BEM-AVENTURANÇA





Não conseguimos entender, às vezes, como é que muitos seres conseguem ascender em paz aos páramos da bem-aventurança. Quantas horas gastamos imaginando o que devem ter feito para atingir o nível do merecimento supremo e somente somos capazes de mentalizar enormes sofrimentos, extremados sacrifícios, profunda dedicação ao estudo e ao trabalho. Será que todos os que estão em elevadas esferas tiveram, obrigatoriamente, de passar por essas fases para o progresso definitivo?
Que bom seria se algum deles descesse até nós e esmiuçasse convenientemente cada pequenino esforço, para elucidar o que representou em termos de minúsculos avanços em sua carreira ascencional! Os mestres nos advertem de que, se o nosso desejo se confirmasse, nenhum dos seres teria como explicar com clareza, dadas as nossas precárias condições intelecto-emotivas, o que desejaríamos ver demonstrado, necessitando reproduzir os ensinos de Jesus, que se encontram fartamente ilustrados na literatura universal, a partir dos Evangelhos.
Que grave responsabilidade, pois, é a nossa, quando comparecemos diante dos encarnados, trazendo pálidos conhecimentos dos deveres e das virtudes, prontos muito mais para pespegar uns safanões nos que evitam enfrentar corajosamente os desafios do Senhor, do que para esclarecer as dúvidas mais tenazes do débil espírito dos amigos encarnados!
Olhando para trás e vendo os diversos discursos que fizemos, fica-nos a dúvida de que terão, realmente, algum valor na divulgação da doutrina espírita, missão maior da equipe, enquanto divulgadora das premissas do bem viver. Tememos, especialmente, pelas terríficas visões que deixamos impressas, relativamente aos sofrimentos que aguardam pelos que não se satisfizeram com seguir os passos de Jesus. E quanto àqueles que tudo fazem em benefício do próximo, esquecidos até mesmo de elevar os pensamentos ao Pai, no rogo de seu beneplácito em favorecimento pessoal, teremos elevado sua moral, pondo-os à vontade diante de si mesmos, para considerarem-se aptos ao merecimento, mesmo que de mísera quirera de bem-aventurança?
Responda-nos o amigo leitor, assim que estiver diante da interrogação. Nem é preciso prosseguir na leitura. Deixe o volume de lado e passe a meditar a respeito de tudo o que dissemos, avaliando cada pequeno trecho que lhe pareceu importante, procurando configurar os pontos que lhe mereceram destaque, por conterem algo em que se apoiar para a dedução de argumentos válidos para o afastamento dos fantasmas das dúvidas. Mas, se nada lhes ficou que prestasse, a seu juízo, evidencie claramente, através de enérgica vibração mental para que consigamos rastrear, os tópicos falhos, para descobrirmos onde exatamente estão os nós que perturbaram o bom relacionamento com o amável amigo.
Ainda aqui nos fica certa dúvida quanto ao valor deste tipo de rogativa espiritual, pois julgamos que muitos dos encarnados simplesmente ignorarão as nossas colocações, preferindo imaginar que estejam isolados do plano espiritual, admitindo, no máximo, estarem na companhia de seu guia e protetor familiar.
Pois essa postura indicará bastante falta de fé nas informações que os espíritos vêm passando aos mortais, desde há tempos, e bloqueará, deveras, o acesso da equipe ao pensamento do irmão, uma vez que, por certo, ficarão postados ao seu lado inúmeros espíritos maldosos, que procurarão impedir, por todos os meios de que dispõem, que haja o saudável congraçamento que pretendemos.
Haverá ainda quem se atemorize com o fato de ter perto de si espíritos que se declaram interessados em entrar em contacto íntimo, mesmo que em caráter meramente aleatório e passageiro, uma vez que desconfiam de que existe a possibilidade da fraude e do desejo de engrupi-los, para domínio completo de suas reações morais e espirituais, numa espécie de possessão demoníaca. Para estes, temos de pedir-lhes que exerçam plena vigilância, através de muita oração, pois tão pouco discernimento quanto ao vigor intelectual e moral dos seres que estão a propor trabalhos tão sérios, porque nos rastros dos ensinos evangélicos, só poderá abrir caminho para seres deveras imperfeitos e malignos.
Que estes tópicos de orientação sirvam de roteiro para a percepção de um dos caminhos possíveis para se seguir estrada avante, no caminho que conduz à bem-aventurança, qual seja o do contacto mediúnico intuitivo com os seres que se encarregaram da doutrinação e da elevação mental e sentimental do protegido. Para ir em frente, basta avançar nos estudos e nas tarefas do socorrismo, qualquer o âmbito de atuação dos seres, seja no plano espiritual, seja no carnal.
Bem-aventurados, pois, são os que conhecem os próprios recursos e os aplicam com sabedoria, em proveito da concretização dos ideais evangélicos contidos no plano de vida. O mais, além disso, advirá com o tempo, à medida que se ampliarem os conhecimentos, por meio de vigorosa aplicação aos estudos e ao trabalho. Há vicissitudes a enfrentar e superar através de algum sacrifício? Pois esforcemo-nos por compreender-lhes as causas, para opormos a resistência moral conveniente, atribuindo ao Senhor todas as forças que nos forem fornecidas no momento oportuno dos embates da dor.
Parece-lhes que estamos a dizer que existe bem-aventurança sempre, mesmo que o ser se debata nas vascas da agonia? É exatamente isso, desde que reconheça em Deus o criador misericordioso que nos aguarda em seu trono de glória. Isso é realmente possível, se soubermos considerar todos os beneplácitos, que estamos a todo momento logrando, com a atitude serena de quem se coloca finalmente, de modo confiante, nas mãos do Senhor. Mais ainda teremos de que nos rejubilar, se formos capazes de avaliar o quanto de auxílio estamos recebendo dos seres que amorosamente nos embalam em seu regaço, para que vençamos as fases mais críticas da peregrinação. É tão certo que teremos de enfrentar tantos momentos de angustiosa expectativa, como temos de aceitar como inexorável o fato de o Cristo ter pendido na cruz, em extremo sofrimento moral, embora saibamos que inocente de todos os crimes de que o acusaram. Ou não foi bem assim?
Vamos deixar a interrogação como reflexo da íntima dúvida que sempre fica no fundo da consciência dos encarnados, para demonstrar que nem tudo o que temos argumentado deve estar recebendo integral adesão do amável leitor. Ou não é bem assim?...







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A GRANDE PESCARIA





Em tempos remotos, o homem contentava-se com o resultado da boa caça ou da boa pesca, pois garantia o sustento da comunidade pelo período correspondente ao que se denominava de época farta. Nas vicissitudes das secas ou dos tormentos das intempéries, muitos deixavam a vida e retornavam para o etéreo com a idéia da frustração, pois não conseguiam municiar os parceiros dos bens que lhes garantiriam a continuidade da peregrinação.
Essa postura de fornecimento da subsistência, atualmente, quase de todo desapareceu das preocupações da humanidade, mesmo até em relação àqueles que têm a prole e a comunidade à beira da morte por inanição. A luta já não se acirra tão fortemente, pois o valor que se dá à vida é ínfimo, havendo até certo alívio quando se fecham definitivamente as bocas dos famintos. Parece que o nível da luta se atenuou drasticamente, à medida que os bens materiais foram tomando vulto na mente ensandecida dos que têm contacto com a civilização, mas que não conseguem fazer-se presentes para o usufruto dela.
Assim, quando morre um desses indivíduos sobre quem repousava a responsabilidade do atendimento de diversos outros seres incapazes de se fornirem por si mesmos, já não chegam preocupados com a possibilidade de serem acusados de infanticídio ou de genocídio. Vão tranqüilamente para as zonas purgatórias de destino, sem atinarem exatamente com o que os está impulsionando para lá. Alguns não chegam a suspeitar sequer que aqueles seres que se perderam pelas desgraças tenham qualquer contextura orgânica espiritual, imaginando que, se lhes desapareceram da vista, é porque não existiram realmente.
Cabe, agora, efetuar um termo de comparação com outros tipos de reações das pessoas mais civilizadas, que não têm sequer conhecimento da ocorrência desses dramas, tão integradas estão em seus meios mais evoluídos. É como ocorre com as criancinhas que não conhecem as vacas e que julgam que o leite que bebem provém de meros pacotes que se compram em lojas. Não faz parte de seu universo a dificuldade da manutenção da saúde e o sustento da família.
E como arribam deste lado as pessoas que não consideraram esses aspectos importantes e deram azo a que irmãos em regiões não abonadas viessem a falecer, por falta dos alimentos mais essenciais? Da mesma forma inconscientes de que seus deveres não se cumpriram. Quer dizer, então, que a responsabilidade pelo que ocorre do outro lado do mundo é igualmente partilhada por todos os homens? Não é exatamente assim que devemos refletir, mas sempre haverá alguma razão nesse raciocínio, a partir do princípio de que, se não tivermos ajudado a ninguém, não teremos o que apresentar em nossa defesa, no momento de nos virmos diante da consciência a nos apontar seu dedo acusador de egoísmo.
Por outro lado, existem pessoas que têm o encargo de municiar de alimentos as regiões menos aquinhoadas, por ocuparem postos na organização governamental, que têm de prever para prover, para que não aconteçam trágicos desfechos. Tais indivíduos, se não dedicarem atenção ao problema que se põe, irão ver o quanto se perderam ao tentarem aproveitar-se da situação de imensas regalias. Sua ação será comparada à dos que se sentiram aliviados com a morte daqueles a quem deveriam fornecer alimentação.
Mas chega de colocar obstáculos morais para quem está aqui tão-só para aprender a proceder, o que já demonstra cabalmente que possui, em alto índice, o espírito da solidariedade, uma vez que não desanimou de seguir por estes arrevesados caminhos que lhe estamos indicando.
Há quem esteja em posição desfavorável? Vamos ajudar, para possibilitar que desenvolva na vida os recursos de aceitação do carma como necessário. O mais correrá por conta dele mesmo, pois nunca se deve esquecer que a maior responsabilidade pelo progresso é a da própria pessoa. Esclarecer, encaminhar, favorecer são atitudes dos socorristas, em qualquer esfera de serviço em que se engajem; mas crescer, aperfeiçoar-se, suplantar defeitos e adquirir qualidades, só o próprio indivíduo pode proporcionar a si mesmo.
Quem sabe, um dia, tenhamos a possibilidade de estar ao lado dos que, antes de nós, conseguiram subir na escala da perfeição e possamos, reparando bem, perceber que eram justamente aqueles que achamos que não estavam cumprindo as obrigações evangélicas. Que belo alívio teremos, então, ao conhecer que realmente é por todos que o Pai vela, pois sua rede a todos alcança.







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PALAVRAS ESPECIAIS





Sem dúvida alguma, esta equipe foi a que menos comentou paralelamente aos desenvolvimentos das comunicações, talvez em respeito à atitude do médium, que não desejava ver nenhuma palavra particularmente endereçada a ele.
É atitude digna de consideração, mas frustra, de certa forma, os princípios deste relacionamento, que se vem mantendo há quase três anos, ininterruptamente. Fique, portanto, solidário conosco e atenda à solicitação que estamos fazendo-lhe, para dar curso a este pronunciamento especial.
Bom amigo, não desanime, caso esteja considerando as tentativas de escrever em versos em fase demasiado crua. Persista no treinamento indicado para facilitar a possibilidade de influenciação, caso tenhamos a felicidade de obter a participação de algum amigo que tenha tido veia poética, em algum de seus encarnes importantes. Por enquanto, a facilidade que se observa na transcrição prosaica parece-nos muito saudável e dela nos aproveitamos com bastante alegria, dando prosseguimento às tarefas que nos estão sendo passadas (dentre as quais se encontra este momento de distensão e relaxamento espiritual).
Vamos, portanto, deixá-lo a pensar a respeito de que todos temos as nossas dificuldades, mas que também sabemos reconhecer os méritos dos trabalhadores que se oferecem para se integrarem nos grupos socorristas que se formam.
Graças a Deus, o bom irmãozinho sempre se recorda de que está cem por cento disponível para qualquer tipo de recepção, momento de que nos valemos para infiltrar alguma comunicação pessoal.
Não se preocupe com a extensão dos ditados e julgue apenas da importância dos textos, em função de sua elevação moral e do proveito que podem propiciar aos leitores. Quanto ao mais, só temos de lhe agradecer o muito que tem feito por nós.
Fique na paz do Senhor!







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DERRADEIRA PÁGINA





Não queríamos encerrar a nossa participação sem vir trazer um abraço amigo ao caro escrevente.
Deveras, estamos muito emocionados por termos logrado deixar impressas várias orientações, que julgamos as mais preciosas para quem estiver tendo o impulso sagrado de melhorar-se espiritualmente. Tais comentários foram por nós colocados como algo bastante prático; pelo menos, foi assim que os consideramos, dado que pouca experiência temos no que respeita a escrever dissertações que visem a permitir ao leitor que analise o seu processo de vida, em função dos ganhos espirituais que deverá promover.
Hoje, vamos definir o título do livro e o nome a equipe. Queira, pois, anotar: Turma do Despertar Consciencial e Arejando a Mente. É importante trazer nome que lembre que o grupo proveio de núcleo socorrista das esferas mais distantes dos círculos terrestres.
Quanto ao livro, pode receber outro título, se não for considerado o que demos suficientemente apelativo. O que temos em mira é deixar muito bem esclarecido que há necessidade se prestar atenção em todo tipo de atitude, para que não se firam os preceitos estabelecidos por Jesus em seu evangelho.
Queira Deus esta dissertação sobre fatos tão sem importância não nos venha a prejudicar, perante o conceito que devemos manter elevado junto ao irmãozinho médium!
Gostaríamos de encerrar definitivamente, enviando forte abraço a cada leitor que se dispôs a enfrentar tão áridos temas, sem momentos de tranqüilidade ou de euforia. Pensamos ter trazido exemplos em quantidade suficiente, relativamente ao que podem passar os irmãos que não primam por pautar o procedimento pelas normas morais. Mas, se não foi assim, solicitamos que nos perdoem o atrevimento. Pelo menos, no que tange ao grupo, tivemos todo o treinamento almejado pela equipe dos professores.
Não é preciso dizer que nova equipe (Turma dos Noviços) se apresta para trazer os seus ditados, para o que vamos despedindo-nos comovidos com a recepção que tivemos.
Fiquemos todos em paz e oremos a prece do Pai, em agradecimento pelos belos momentos que nos foram propiciados.
Graças a Deus!


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