Brasília, 14/07/2004 – 0:40h
Não gosto de despedidas.
Na verdade, nunca gostei.
Mas, se há algo que se repete nesta vida,
são as despedidas. E eu nunca as desejei.
Cresci avessa às despedidas.
Cresci vertendo lágrimas a cada uma delas.
Conquanto mais vivida, mais crescida,
as despedidas voavam por todas as janelas.
O tempo foi passando – olha só, mais despedida:
estamos dando adeus todo o tempo
ao tempo que está de saída,
mal damos boas vindas ao novo momento,
já estamos na hora de outra despedida.
Despedida, pra mim, sempre rimou com ferida,
separação, conclusão, dor muito doída
e parecia durar muito mais o tempo da despedida
que o tempo das coisas vividas.
Crescer, viver mais, ficar mais velha,
nada parecia melhorar minha aversão
a este momento que voa pela janela
e leva consigo um pedaço de coração.
Chega um tempo –
e nem é porque mais velhos estamos,
mas porque vamos entendendo que é preciso ter olhos novos,
ver por outro ângulo, sair da planície, subir as montanhas,
deixar os apegos, deixar sossegar os mortos em suas covas –
só nesse tempo, novos olhos, causas perdidas, outras ganhas,
planícies de tranqüilidade, quedas abissais, altas montanhas,
a gente vai aprendendo que despedir-se, afinal,
não é perda, não é derrota, nem tem que ser dor:
pode até parecer, ter cara de ponto final,
mas se a gente olha outra vez, vê outra cor,
e descobre que a despedida só dói
porque nos apropriamos de tudo,
e a propriedade que assim se constrói,
de nós se apropria: eis tudo!
Quando chega o tal tempo de olhos novos, nova alma,
tempo de maturidade, ponderação, serenidade,
vamos aprendendo a nos despedir, com calma,
sabendo que o fim, a despedida, em verdade,
é o início, com mais bagagem, em outra ou na mesma estrada,
mas desta vez sabendo que não há que despedir-se de coisa alguma,
que nada nos possui, que não possuímos nada.
Somos companheiros, viandantes da mesma via,
que aqui e ali um atalha, outro desvia,
e tudo que temos é a nós mesmos: mais nada.
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