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Poesias-->D. Pedro III -- 09/07/2004 - 18:04 ( Alberto Amoêdo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Enquanto dormes sossegado num canto aquecido,

Enquanto dormes sossegado, de barriga satisfeita,

Enquanto dormes sossegado, no acochego do teu lar.



Enquanto os teus filhos dormem sossegados com o futuro garantido, com um sorriso perfeito no rosto,enquanto em tua casa a paz reina e o amor é dividido.



Enquanto sob o teu teto limpo e bem cuidado,

Enquanto ao redor da mesa só discursas a esperança, pousando para a pujança dos jornais sociais e cedes sem qualquer receio ao primeiro interesse alheio.



Enquanto os teus salários não defasam e a chuva do inverno não invade a tua morada,

Enquanto os teus passeios são longíncuos, sob palcos iluminados.Enquanto tu te distancias da liberdade, o teu povo é renegado.



Enquanto muitos pensadores agonizam em gritos nas portas da justiça, tu te escondes,ficas a merce da luxuria sorrateiro num sobrado.



Enquanto a vida passa sem rumo pela morte, quem tem fome e sede morre sem ser saciado.E tu com as mãos no cetro, dá o teu tempo e não mudas nada.



Enquanto tu fechas os olhos, a democracia anda de lado e a fachada, cuja bandeira não cansa de enusitar fica pálida de horror na brisa, com tanta gente miséravel se arrastando na sociedade, pedindo empregos, pedindo comida...sobrevivendo do lixo,já sem dignidade, vivendo por viver, vendo,vegetando, pedindo, pedindo favor.



Enquanto tu dá as ordens,

Enquanto tu não interfere no curso da covardia,

Enquanto tu ri, com a boca cheia de vinho...tantos milhares se revoltam,tantos milhares morrem, tantos milhares agradecem a Deus.E o sol,o sol nasce para cada um de nós todos os dias, e a chuva cai para cada um todos os dias, e o rio mata a nossa sede.
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