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Poesias-->De Vinícius de Moraes -- 09/07/2004 - 17:48 (Érica) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
P.K. (de Sto André, S.Paulo), lembra-me que hoje (nove de julho) é data triste por lembrar a morte do poeta Vinícius de Moraes. P.K. enviou-me este poema do poetinha, que compartilho:



Elegia Desesperada



O desespero da Piedade



(Vinícius de Moraes)





E no longo capítulo das mulheres, Senhor,



Tenha piedade das mulheres



Castigai minha alma, mas Tende piedade das mulheres



Enlouquecei meu espírito, mas Tende piedade das mulheres



Ulcerai minha carne, mas Tende piedade das mulheres!











Tende piedade da moça feia que serve na vida



De casa, comida e roupa lavada da moça bonita



Mas Tende mais piedade ainda da moça bonita



Que o homem molesta, que o homem não presta



Não presta, Meu Deus.







Tende piedade das moças pequenas das ruas transversais



Que de apoio na vida só têm Santa Janela da Consolação



E sonham exaltadas no quarto humildes



Os olhos perdidos e os seios na mão.







Tende piedade da mulher no primeiro coito



Onde se cria a primeira alegria da criação



E onde se consuma a tragédia dos anjos



E onde a morte encontra a vida em desintegração.







Tende piedade da mulher no instante do parto



Onde ela é como a água explodindo em convulsão



Onde ela é como a terra vomitando cólera



Onde ela é como a lua parindo desilusão.







Tende piedade das mulheres chamadas desquitadas



Porque nelas se refaz misteriosamente a virgindade



Mas Tende piedade também das mulheres casadas



Que se sacrificam e se simplificam a troco de nada.







Tende piedade, Senhor, das mulheres chamadas vagabundas



Que são exploradas e são desgraçadas e são infecundas



Mas que vendem barato muito instante de esquecimento



E em paga o homem mata com a navalha, com o fogo, com o veneno.







Tende piedade, Senhor, das primeiras namoradas



De corpo hermético e coração patético



Que saem à rua felizes mas que sempre entram desgraçadas



Que se crêem vestidas mas que em verdade vivem nuas.







Tende piedade , Senhor, de todas as mulheres



Que ninguém merece tanto amor e amizade



Que ninguém mais deseja tanto poesia e sinceridade



Que ninguém mais precisa tanto alegria e serenidade.







Tende infinita piedade delas, Senhor, que são puras



Que são crianças e são trágicas e são belas



Que caminham ao sopro dos ventos e que pecam



E que têm a única emoção da vida delas.







Tende piedade delas, Senhor, que uma me disse



Ter piedade de si mesma e da sua louca mocidade



E outra, à simples menção do amor piedoso



Delirava e se desfazia em gozos de amor de carne.







Tende piedade delas, Senhor, que dentro delas



A vida fere mais fundo e mais fecundo



E o sexo está nelas, e o mundo está nelas



E a loucura reside nesse mundo.







Tende piedade, Senhor, das santas mulheres



Dos meninos velhos, dos velhos humilhados, Sede enfim



Piedoso com todos que tudo merece piedade



E se piedade Vos sobrar, Senhor, Tende piedade de mim.









Trecho retirado do livro " Antologia Poética" , 1960















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