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Cronicas-->O CHEQUE -- 12/03/2003 - 09:39 (Clodoaldo Turcato) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Eu tenho dez minutos para concluir esta crónica e hoje minha criatividade esta no mínimo aquém do esperado por qualquer cidadão de bom gosto. Mas enfim, como hábito é hábito, vou expor algumas linhas para entretê-los.
Recebi um amigo aflito com um cheque de R$ 4.000,00 em meu escritório. O cara tinha cobrado uma conta e recebera um cheque cruzado. Dois traços sobre a datilografia impediam nosso vitimado de embolsar o dinheiro. Aí tive a solução.
- Deposite na conta de alguém e peça para este sacar a grana.
Grande idéia. Mas quem tinha conta naquele banco? Eu não. Pensei e lembrei.
- Seu João.
Liguei, ele prontamente me atendeu. Marcamos para dentro do banco. Mostrei o cheque para o caixa e seu João lembrou-se de que tinha a CPMF. É verdade, ele não poderia ficar no prejuízo. Cálculo feito, lá se foram quinze reais. Peguei o cheque de R$ 3.985,00 e fui até a boca do caixa.
- Sinto muito, mas para esta quantia temos que fazer previsão?
- Mas tem fundos.
- Claro, mas tem de fazer previsão.
- E um cheque visado.
- Pode ser, mas custa quinze reais.
- Tá certo, faça então.
Tudo acordado pelo meu amigo.
- Só que vai ter de passar à tarde, pois o Gerente saiu e precisa da assinatura dele.
Lá fomos nós para casa sem o dinheiro. Voltamos à tarde e pegamos o tal cheque visado. Fomos ao outro banco. Como a fila estava enorme, meu companheiro pediu para que eu depositasse, usando a prerrogativa de deficiente e passar à frente. Afinal ele tinha um compromisso urgente e pagaria R$ 300,00 reais de multa se não chegasse a tempo. Lá fui eu.
- Tem a CPMF- disse-me a caixa.
- De novo?
- O IOF também.
- Quanto vai dar tudo?
- R$ 25,00.
- Tudo bem.
Depositei o cheque e lá se foram mais R$ 25,00. Mas na hora do depósito caiu o sistema. Pode?. Quando voltou eram três e meia . Não saí da fila , não saí do banco. Meu pobre amigo esperava por mim, considerando que a minha demora fosse ocasionada por um bate papo, olhar indiscreto na caixa ou sei lá o que. Jamais que o sistema tivesse caído. Estava aflito, perderia o compromisso e mais uma grana.
Saí do banco perto das quatro, e vi dentro da D-20 o cidadão suando frio, falando desesperadamente com alguém pelo celular.
- Olha estou saindo daqui agora..... Eu sei que eu falei, mas deu tudo errado.....Não cobra, às cinco eu chego... Póxa vida, pelos velhos tempos.
O outro desligou.
- Porra! que cara mal educado; não me deu nem mais uma hora - olhando pra mim com cara de acusador.
- Olha, o sistema caiu; tive que esperar até agora - apressei-me em explicar.
Ele sorriu, me mandou entrar e melancolicamente falou:
- Preocupa não, menino, tem mais Deus prá dá que o Diabo pra levar.
Enquanto nos dirigíamos para o meu escritório, eu mentalizava a quantia de tempo e dinheiro que aquele homem gastou para descontar um cheque. No mínimo quinze por cento. Quinze por cento de um dinheiro dele, jogado pelo ralo. Ainda a humilhação de andar pedindo favores, esmolando por alguém que o ajudasse. Indignado comentei.
- Puxa, por um chequinho desses pagar quinze por cento; que sacanagem!
Ele riu alto.
- Que que é isso menino, chora não, amanhã vou trabalhar e plantar meu soja, farei mais dinheiro, mais cheque pra esse povo ganha. Vamos dividir, não é assim?
Este era um sujeito de sorte. Na adversidade brincava com a própria desgraça. Mas que nada, ele aparentava estar bem, sem mencionar uma queixa estacionou em frente ao meu escritório.
- Quanto dá o teu trabalho, menino?
Fiquei envergonhado de cobrar qualquer coisa, depois do prejuízo que o moço sofria; me neguei a fazer preço.
- Nada disso, você seria o único merecedor de qualquer pagamento aqui. Saiu por duas vezes dos seus afazeres sem nem me conhecer, perdeu tempo e não vai cobrar nada? Nem brinca.
- Deixa prá lá...
- Pegue aqui - vinte reais - Senão vou ficar porreta contigo, afinal o que são vinte porcento?
Se despediu e foi. Cheguei a sorrir com toda aquela sabedoria. Era uma certeza de que iria ver aquele sujeito mais vezes e mais rico. Mas que tinha sido uma roubada tinha.

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