Ninguém jamais saberá
para onde caminhava a guará,
perdida no êrmo da madrugada
sem saber regressar à morada.
O seu predador motorizado
em um insensível enfado,
roubou-lhe a centelha da vida
que se esvai na profunda ferida.
Os olhos ainda cintilam,
em muda prece suplicam
por um conforto final
ao magnífico animal.
O dia que vai amanhecendo
ilumina o quadro horrendo:
ao vento, os pelos dourados
emolduram dentes cerrados.
O seu habitat, o cerrado,
em mares de soja ilhado,
não abriga mais a qualidade
de homens ou lobos de verdade.
Brasília, 25 de junho de 2004
(Em memória de uma fêmea de lobo guará adulta, atropelada e morta por um carro na via EPIA, sentido sul-norte, em frente ao Parque Nacional de Brasília, às 5:45 h do dia 25/06/04, pelo autor presenciado. Não tendo sido recolhida até o final do dia seguinte, foi sepultada no canteiro central da via) |