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Contos-->Uma história pra contar -- 10/10/2003 - 19:31 ( Alberto Amoêdo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Era um verão de primavera, quando viemos morar lá no hospital de base. As flores do quintal choravam de tristeza e tudo ao redor era escuro.
Lotar um cachorro, pastor alemão, capa preta, do nosso vizinho passava o dia todo amarrado, no quintal de fronte do nosso. Sob aquele sol quarenta graus.Sem água fresca e sem comida. O bichinho já nem latia, parecia inerte, mas choramingava vez por outra.
O nosso vizinho um rapaz, com pinta de playboy, passava o dia todo fora, voltava, às vezes lá pelas seis horas, já noite, quando o sol piedosamente já havia ido embora.
Mesmo ao relento Lotar, quando a porta dos fundos se abria com o seu dono, pra estender uma roupa, o pobre ainda encontrava forças de alegria, e pulava insistentemente. Era o seu único momento de alegria, ou de esperança, quem sabe até de sensibilizar o seu dono, que não entendia e lá não passava de três, quatro minutos.
Dia após dia, compadecidos, eu e meu irmão começamos a alimentá-lo, a dar água fresca, a pular a cerca para brincar e a cobri-lo com papelão, pra evitar aquele soleirão.
À medida que recuperava as forças, ele já brincava, inclusive as flores que a gente também molhava começaram a responder.ficaram viçosas, e já sorriam, dissipando a escuridão.
De repente o silêncio acomodou em seu leito a paz, tão amiga quanto a ternura de nossos corações.
Eu e meu irmão, em tudo pussemos as mãos, chamávamos carinhosamente o cachorro de pretinho e as poucas flores dos vasos de Leila, Maria e João.
O dono do cachorro, nem notou a nova situação, estava tão gelado, que nada percebia, às vezes, que esquecíamos sobre a cerca o papelão, ou a bola que usávamos pra brincar de queimada no seu chagão.
Um belo dia, porém, mamãe nos avisou que iríamos morar em outra casa. Aquela noite estava quente, e as estrela pareciam embalar os meus olhos, num pensamento meio que de tristeza. O deixar aquele cão, ali num sofrimento que só eu e meu irmão podíamos pensar.
Como foi longa aquela noite!
Na manhã seguinte, após a aula, eu fui a primeira a ir com o pretinho e lhe contar, mas ele parece que não entendeu, ou fingiu que não ouviu, lambeu o meu rosto e interferiu na minha tristeza. Brincamos mesmo assim. Como se nada tivesse acontecido. Até eu pensei que não era real.
Mas dois dias depois, ele parece que entendeu. Ele deitou no seu cantinho, debruçou o queixo sobre as patas, e não mais comeu. Acho também que as flores entenderam, pois com o passar do sol, elas estavam muchas, apesar da água que em seus pés coloquei.Ah! o meu coração ficou tão apertado, que chorei.
Luis brigou comigo, por eu ter dito ao cão da nossa partida, mas não fiz por mal. Mulher sempre peca por ser muito sensível.
Na semana seguinte, numa sexta-feira, enquanto arrumávamos as nossas coisas, pretinho olhava pelas frestas da cerca, com aquele olhar de “deixa-me ir com vocês”, mas nada podíamos fazer. Logo depois, nos despedimos dele, e ele num gesto simples, abanou o rabo e esboçou um latido.
O caminhão de mudanças ia se distanciando... o papelão ficou sobre a cerca, a imensa árvore que sombreava o quintal valsava numa brisa pálida de vida, as flores do vaso de D. Cláudia, que mamãe tão bem cuidava, e aquela margarida, que eu tomava conta, em coro cantavam despedidas. Como se não bastasse, à tarde, entristecia mais, quando, de repente, ouviu o declamar do canto do sabiá, que por acaso por ali veio descansar.
No dia seguinte, ao abrirmos a porta da varanda pra irmos pra escola demos de cara com o pretinho, que dormia sobre a mesa mal arrumada no canto da parede.
Com alegria no peito corremos a abraçá-lo. Mamãe desconfiada não entendeu, mas foi vencida pelo emocional. E o colocou no nosso novo quintal, onde tinha muita sobra e água fresca.
Fomos pra aula pensando em voltar.
Quando chegamos, nos surpreendemos com o Sr. Márcio, dono do cachorro discutindo com mamãe, já com o cão preso na corrente. Imediatamente corremos ao encontro dela, apenas olhando em sofrimento o pretinho partir, sem nada entender.
Mamãe nos explicou que o Sr. Macio nos acusava de furta o seu cão.
Com os olhos em lágrimas e o coração nas mãos, me tranquei no meu quarto. Não quis saber de comer. Chorei o que pude e dormi sem me ver.
Noutro dia, pra surpresa da mamãe o cão estava lá. Ela nos acordou e nos mostrou o cachorro pra festa, que a gente sem querer, só pelo sentimento fizemos naquela hora. Foi o melhor presente daquele natal. E o Sr. Márcio não apareceu mais lá, acredito que ficou com vergonha, das verdades que a mamãe fez ele vê.
Hoje quando chego do trabalho, pretinho, um pouco amadurecido vem deitar sob a minha cama. E quando estou meio entristecida ele brinca sozinho com as borboletas, que pousam nas flores do jardim improvisado e os passarinho que dão rasante no imenso quintal.
Ele só não tolera “rabiola” e a molecada, que tenta se arriscar a pular o muro, pra tirar frutas.
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