CANÇÃO DE AMOR PERDIDA NO TEMPO
Tereza da Praia.
Tu sempre foste o meu homem amado,
Sempre foste meu, adivinhado e imaginado.
Por quem tenho um amor incondicionado.
Amas-me, mesmo quando por ela entusiasmado.
Foste meu, desde quando, na floresta,
Roubaste meu disfarce, minha máscara.
Conheceste-me despida de mim, imodesta.
Nobre caçadora, mulher bela, uma jóia rara.
Escondeste de mim o meu disfarce,
Fui por te conquistada, deus do fogo,
O teu amor em mim fez-se em catarse,
Não tive como evitar o teu desafogo.
Roubaste-me as vestes, roubei-te o fogo.
Em mim tenho uma fagulha de ti, sufoco.
Segui-te onde me levaste, fui no teu caminho.
Como sua companheira, como teu carinho.
E assim me amaste naquele tempo.
Voltamos a nos encontrar agora,
Situação tão singular, do passado fragmento.
Realidade que se vez em mim, aurora.
E por isso eu te sinto com tanta intimidade,
E te possuo mesmo quando te negas a mim.
Compartilho contigo a luta pela igualdade.
E acredito que a verdade um dia chega sim.
O que desprezas em mim é o teu reflexo,
A minha feiúra é da cor da tua longa noite.
Não te libertaste para admirar teu belo nexo,
Ainda veneras àqueles que detinham o açoite.
É a perversa dialética da razão indolente,
Por vidas e vidas, por gerações e gerações,
Ouviste dizerem que eras incapaz, doente,
Sem alma, que acreditaste nestes sermões.
Sempre me amaste, mas contra mim lutaste,
Pois carrego de ti a melhor parte.
Os nove pedaços, que de mim cortaste
Hoje os integro, já que me ressuscitaste.
Queres esquecer tua situação, tua origem real,
Continuar acreditando ser dejeto no rio a agonizar.
A escolha é tua. É tua a opção de morte atual.
Só peço-te deixes os chifres de búfalo no meu altar.
Tereza da Praia
Série: Vadiação da alma indecente.
(baseada na historia de Ogum e Oiá)
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