Rosa Maria buscava uma lógica para justificar suas ansiedades. Sabia que algo mais existia, além da vida que, até muito bem, vivia. Parecia que faltava-lhe algo. Talvez aventura, talvez liberdade, coisas que, aparentemente tinha.
Era inteligente, bem casada, viajava, trabalhava, era admirada, mas vivia intrigada com uma insatisfação que lhe remoía o íntimo e que não encontrava motivos para sentí-la.
Numa de suas viagens, conheceu um rapaz que tratou-lhe como uma criança, encheu-lhe de mimos e ela, sempre forte e determinada, não se sentia confortável com tal situação, pois estava acostumada a se virar e, no máximo, paparicar os amigos, os quais sempre gostou de ajudar e presentear. Era a fortaleza para todos e gostava de ostentar tal fama, mas ao encontrar tal rapaz, deixou escapulir dela uma vontade contida, reprimida, de ser cuidada, ao invés de cuidar, como costumava fazer, e foi então que sentiu que uma das coisas que lhe faltavam e por ela era desconhecida, era desarmar-se em favor da sensibilidade e deixou-se vencer sendo frágil, ao aceitar ser mimada pelo novo amigo.
É interessante o quanto só se percebe o que se falta, quando um fato inusitado acontece. Rosa Maria, poderia ter deduzido há muito, que sua maneira forte de encarar a vida, lhe deixava cada vez mais fraca em relação à mesma, pois todos os seus medos foram contidos dentro dela e agora, como qualquer ser humano, ela, também reconhecia que não podemos ser fortes o tempo todo e para entregar-se a fraqueza, é necessário ter muita coragem e, ao pensar ser corajosa, entendeu o quanto era medrosa. Tinha medo de magoar, de ferir, de falhar, de não corresponder, e acabou por esquecer o quanto era humana, demasiadamente, humana.
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