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Cordel-->Jeca Tatu- catulo da paixão cearense -- 13/07/2006 - 10:53 (m.s.cardoso xavier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Jeca Tatu
Catulo da Paixão Cearense

Não teje vancê jurgando
Que eu seje argum canguçu
Não sou não, seo conseiêro
Sou caboclo... sou violeiro...
E vivo naquelas mata
Cumo veve um sanhaçu
Vanssuncê já me cunhece
Eu sou o Jeca Tatu
Peguiçoso? Madracero?
Não sinhô, seo senadô
Não sinhô, seo conseiêro
É pruque vancê num sabe
O que seje um boiadero
Criá com tanto cuidado
Com tanto amô e aligria
Umas cabeça de gado
E despois, a ipidimia
Carregá tudo com os diabo
Em meno de quatro dia...
É pruque vancê num sabe
O trabaio desgraçado
Que um homi tem, seo dotô
Pra incoivará um roçado
E quando o ouro do mio
Vai ficando imbonecado
Pra gente intonce coiê
O mio morre de sede
Pulo só estorricado
Sequinho cumo vancê
É pruque vancê num sabe
Quanto é duro um pai sofrê
Vendo seo fio crescendo
Dizendo sempre: papai,
Vem me ensiná o A-B-C
Preguiçoso? Madracero?
Não sinhô, seo conseiêro...
Vancê não sabe de nada
Vancê não sabe a corage
Que é preciso um homi tê
Pra corrê nas vaquejada
Vossa incelença não sabe
O valô de um sertanejo
Acerando uma queimada
Vancê tem um casarão
Tem um jardim, uma chácra
Tem criado de casaca
E ganha tudos os dia
Qué chova, qué faça sór
Só pra falá, contos de ré
Eu trabaio o ano inteiro
Somente quando Deus qué
Eu vivo do meu roçado
Me estarfando como um burro
Pra sustentá oito fio
Minha mãe e minha muié
Eu drumo im riba de um couro
Numa casa de sapé
Vancê tem seu artomóve
Eu, pra vim no povoado
Ando déis légua a pé
Neste mês amarfadado
Pru via de num chovê
Via a roça do feijão
Cum farta dágua morrê
O sór teve tão ardente
Lá pras banda do sertão
Que meno de quinze dia
Perdi toda criação...
Na semana retrasada
O vento, tanto ventô
Que a páia que cobre a choça
Foi pulos mato, avuô
Minha muié tá morrendo
Só pri farta de mpezinha
E pru farta de um dotô
Preguiçoso? Madracero?
Não sinhô, seo conseiêro
De lei, lezes, eu num sei nada
Meu palaço é de sapé
Quem dá lezes pra famía
É minha boa muié
Eu sou fromado oito vêis
Eu sou também conseiêro
Pruque tenho oito fiínho
E quem dá lezes pra minha arma
É as déis corda do meu pinho
Vancê qué sê presidente?
Apois seje, meu patrão
Nóis já ficava contente
Se vancê desse pra gente
Um restozinho de pão...
A nossa terra, o Brasí
Já tem muita intiligença
Muito homi de sabença
Que só dá pra espertáião
Leva o diabo a falação
Pra sarvá o mundo intero
Abasta tê coração...
Pros homi de intiligença
Trago comigo essa figa
Esses homi tem cabeça
Mais porém, o que é mais grande
Do que a cabeça, é a barriga...
Vancê leva nesses livros
Lendo, lendo a tuda hora
Mas porém eu só queria
Cunhecê, seo conseiêro
O que vancê ignora
E abasta, já vô m imbora...
e ó!
Se um dia vancê quisé
Passá uns dia de fome
De fome e tarveis de sede
E drumi lá numa rede
Numa casa de sapé
Vá passá cumigo uns tempo
Nos mato do meu sertão
Que eu hei de lhe abri a porta
Da choça e do coração
Eu vorto pros matagá
Mas porém oiça premero
Vancê pode nois xingá
Nois chamá de madracero
Pruque nós, seo conseiêro
Num qué mais sê bestaião
Vá tratá das inleição
E voismecê hai de vê
Pitando seu cachimbão
O Jeca Tatu se rindo, aqui
Cuspindo, sempre cuspindo
Cum queixo im riba da mão...
Eu sei que sô um animá
Eu não sei memo o que eu sô...
Mais porém eu lhe agaranto
Que o que vancê já falô
E o que ainda tem de falá
E o que tem de escrevê...
Todo, todo o seu sabê
E toda a sua saranha
Num vale uma palavrinha
Daquelas coisa bonita
Que Jesus numa tardinha
Disse em riba da montanha

(Em Boldrin, Rolando (org.). Empório Brasil; atos e artefatos. São Paulo, Clube do Livro / Melhoramentos, 1988, p.92-97)

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