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Humor-->A Crônica do Conto -- 20/02/2003 - 16:27 (Domingos Oliveira Medeiros) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Crônica em Conto
(por Domingos Oliveira Medeiros)

Na certa o assunto já correu mundo. Deu na televisão. E quando se dá na televisão, todo mundo fica logo sabendo. Mas não é o que se poderia pensar à primeira vista. Muito embora, seja forçoso reconhecer, que a má qualidade dos programas apelativos, que invadem nossos lares, da parte de quase todas emissoras, faz uso explícito do verbo comer. Comer, mesmo. Não no sentido literal do termo; mas no sentido conotativo. Porém, isso é um outro assunto. A questão a que me disponho a falar é outra.

Diz respeito a mais nova tecnologia a serviço do consumidor. Nova tecnologia, é bom que se diga, para nós aqui deste imenso e belo país tropical; daqui do outro lado do Equador. O lado sul. O lado dos pobres e dos eternos chamados “países em desenvolvimento”. Ou do terceiro mundo, como queiram. Cujos riscos são avaliados por estrangeiros, coincidentemente banqueiros e executivos do mercado financeiro internacional que, por sinal, ultimamente, não se cansam de elogiar a gestão econômica do novo governo.

Para encurtar o assunto, a moça chegou em casa mais cedo. Estava uma pilha de nervos. E com muita raiva. Havia perdido o seu emprego. Justamente nessa hora em que as noticias não andam boas. Fala-se em guerra. Aumento de juros. Inibição do crédito. Reajuste de preços. Volta da inflação. Crescimento da dívida pública e outras mazelas que pensávamos pertencer ao passado.

E sua mãe tentou acalmá-la. - Não adianta o aborrecimento, disse ela para a filha. - Os problemas têm que ser encarados de frente. - Você tentou dialogar com o pessoal? - Não, mamãe. - Simplesmente porque me deu muita raiva. Você sabe, mamãe! Eu sou uma pessoa muita comunicativa. Gosto de me relacionar com pessoas. De atender o público. De fazer novas amizades. - Por isso que minha raiva é ainda maior, diz a moça. - Pois a pessoa que irá me substituir, a senhora precisa ver. É calada, antipática, e nem olha pra gente. Parece que tem um rei na barriga. - E o pior é que alguns clientes já manifestaram uma certa simpatia por ela. Pode, uma coisa dessa? Calada, fria e feia, do que jeito que ela é? - Não, mamãe, não se trata de preconceito.- É a pura verdade.

E a moça continuou a desfolhar suas desilusões. - Mamãe, e a senhora ainda não sabe do pior. - Lembra quando eu ajudava as pessoas mais idosas? - Aquelas pessoas que tinham dificuldade de pagar a conta com o seu cartão de crédito? – Sim; e muitas outras. - E de arrumar as compras nas sacolas? - Também. - Pois bem. Agora, com a nova contratada, não tem mais essa. A pessoa é que, sozinha, passa as suas compras pelo identificador, registra o valor na máquina, passa o seu cartão de crédito e depois, pasmem, ainda tem que arrumar as mercadorias nos sacos.

E a nova contratada não dá uma palavra. Não ajuda ninguém. Fica só autorizando, ou não, a abertura do portão, tão logo a pessoa acabe de registrar o pagamento de sua conta. Não é um absurdo? Os clientes, a grande maioria, bem que reclamaram. Mas a minoria, não. Acharam moderno. Legal!

Coitados! Além de perder uma boa amiga, um bom papo, como dizem, ainda ficaram sendo empregados do supermercado. Pois eles agora é que fazem tudo. Por conta do sistema de auto-atendimento que foi introduzido, em caráter experimental, em alguns supermercados. Não consigo entender o porquê de eles chamarem isso de “avanço tecnológico”.

É o mesmo caso dos caixas eletrônicos dos bancos. Das catracas eletrônicas que querem colocar nos ônibus. E depois reclamam que o desemprego está crescendo. Eles só esqueceram de uma coisa: estão diminuindo a quantidade de consumidores dos mercados, como um todo. E as máquinas, que também não recebem salários, não terão condições de comprar seus produtos. E cada vez a coisa vai piorando.

No futuro, acredito, deveremos voltar às origens. A população não agüentará muito tempo sem ter com quem reclamar, passar adiante uma fofoca, ou ter uma palavra amiga que lhe conforte num dia triste de chuva.

Domingos Oliveira Medeiros
20 de fevereiro de 2003
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