Ar Comprimido
Lílian Maial
Caminho dividido,
surpresa e rotina,
e essa interrogação de pôr-de-sol.
O corpo implora,
a paz questiona,
o coração sobre o muro,
e o trajeto no escuro.
Peito abafado,
e o ar martelando.
O que me sei não me aflige,
mas o que não me conheço,
limites imprecisos,
horizonte mal delineado,
rímel borrado.
No teu semblante, minha fé se acaba.
Herege, dispnéica, nua,
quero o amor, o pão,
mas o que me assusta
é essa boca absurda
escorrendo o não.
Sou condenada e juíza de mim,
roubo-me o veredicto,
sonego-me o oxigênio,
e abundo-me em ti.
Sou ar comprimido,
de longe, o estampido.
Enquanto curo e conserto,
atrapalho, destruo, inquieto.
Em tese, tudo o que me agrada, magoa.
Na prática, tudo o que quero é daninho.
E me reprimo e reprimo,
até que a bala não me comporte,
e eu rompa em loucura.
Diante do espelho,
o medo e a coragem,
dicotomia em versos,
decomposta em senões,
a palavra é a arma,
a promessa, a magia,
o instante, a razão de tudo.
Se não me justifico a liberdade,
os versos me redimem
e o amor me imortaliza.
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