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Contos-->Portugal x Alemanha -- 02/10/2003 - 22:37 (Marcel de Alcântara) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O Português casou-se com a Alemã achando que ia ter suas roupas sempre engomadas, as cuecas lavadas, suas opiniões acatadas, louça sempre limpa, casa impecavelmente em ordem, cafunés ao chegar do trabalho, a televisão sempre livre quando fosse transmitido o futebol, os repastos nos horários pré-determinados...
Mas o Português, após algumas semanas, viu o cesto de roupa suja ficar cada vez mais abarrotado com suas roupas, as refeições sempre atrasando e o pior, sem nenhuma variação no cardápio! Suas camisas e calças invariavelmente amassadas em alguma parte, ou na gola, ou nas mangas... "Mas ela tinha muitas qualidades também", dizia para si mesmo o Português, que casara-se por amor!
A Alemã casou-se com o Português esperançosa de ser sempre compreendida, de receber pequenos mimos nas datas comemorativas, de ter orgasmos múltiplos todas as vezes que transassem e que transassem pelo menos cinco vezes por semana, cafézinho na cama, beijinhos do maridão sempre antes deste sair para a lida, o horário da novela respeitado e uma mesada semanal para as compras da casa.
Mas a loira depois de um tempo, constatou decepcionadíssima, que o marido só transava aos sábados, acordava sem dar bom dia e chegava do trabalho de cara amarrada reclamando de tudo e de todos, jogava suas roupas sujas no chão do banheiro, comia e não lavava sua própria louça e detestava ouvir, queria sempre falar mais e mais sem escutar o que ela tinha para dizer e ainda por cima era um tremendo pão duro... "Mas ele tinha muitas qualidades também", matutava consigo a Alemã, que casara-se sentindo um extremado amor!
E o tempo foi passando, e ambos notando que os defeitos aumentavam ofuscando as qualidades, que qualidades?
Criticavam-se diariamente e vasos, pratos, talheres, livros, quadros, diversos objetos por vezes voavam pela casa causando o desespero dos vizinhos. Certa vez, até o cachorro foi arremessado!
A guerra a muito estava declarada! Ele resmungava que ela, por ser Alemã, era autoritária e teimosa! Uma nazista! E ao invés de ser disciplinada, era totalmente desorganizada e preguiçosa!
Ela por sua vez, acusava-o de porco, teimoso, insensato, insensível, sem educação e burro...
Às vezes eles resumiam tudo, sentenciando: "Só podia ser Alemã" ou "Só podia ser Português".
Aos sábados, (principalmente) eles faziam as pazes, pois apesar de tudo, amavam-se! Afinal, eram almas gêmeas. Como não? vejam as semelhanças de caráter: ambos adoravam críticas, brigas, desentendimentos por qualquer bobagem, e eram orgulhosos demais para admitirem-se errados, deixavam os dias transcorrerem e depois tratavam-se como se nada tivesse acontecido...
E o tempo foi passando e no meio dessa guerra nasceram duas crianças lindas que proporcionaram aos combatentes alguns anos de trégua.
O gêmeos logo que tomaram consciência do mundo ao seu redor, arrependeram-se de ter nascido.
O Português tentava trazê-los para o seu lado da trincheira e a Alemã fazia o mesmo. Era um cabo de guerra imprevisível!
Até que um dia, algo inusitado aconteceu. Era época de Copa do Mundo e iam jogar justamente Alemanha contra Portugal. Os gêmeos foram viajar pois premeditaram uma catástrofe de proporções cósmicas! Já na véspera, a Alemã apesar de detestar o esporte bretão, cantava as proezas da seleção germânica, o indiscutível favoritismo sobre o adversário, que nunca levantou o troféu mais cobiçado do planeta.
O Português mandava-lhe secamente calar a boca. Seus cabelos encaracolados eriçavam ante a perspectiva da derrota, e talvez de goleada por parte dos branquelos.
Não conseguiram dormir direito à noite. No dia seguinte o Português vestiu a camisa da seleção lusa, que tinha comprado naquela semana. A Alemã imprimiu através do computador diversas bandeiras do seu país e pendurou-as por toda a casa.
O Português estava um tanto pessimista, mas tinha comprado alguns foguetes e ficava rindo sozinho, imaginando os rojões calando a boca da mulher.
Enquanto fazia o almoço, ela cantarolava uma canção popular alemã...
Adivinhem o que ela preparava caprichosamente para o banquete? Claro, além do arroz e batatas cozidas, para acompanhar, um delicioso "Gulasch".
Na hora do jogo sentaram-se nas extremidades do pequeno sofá. Cada qual cantou ufanamente o seu hino com a mão no coração! Ela chorou, ele também.
O jogo começou morno e o primeiro tempo terminou sem uma única bola em direção ao gol...
Nenhuma palavra foi pronunciada pelo casal. Ele rangia os dentes e ela roía as unhas.
O segundo tempo iniciou-se tenso, a Alemanha resolveu fazer uma "Blitzkrieg" e atacou com ímpeto. O Português balbuciava preocupado: "Ai, meu Deus do céu, ai meu Deus..." A Alemã bradava: "Vai, chuta! Agora! isso, avancem, acabem com eles!"
De repente, a seleção de Portugal contra atacou e meteu uma bola na trave! A Alemanha ficou abalada, os mísseis portugueses chegavam mais facilmente ao gol germânico. A contenda equilibrou-se, tudo era possível!
Os dois pulavam no sofá e provocavam-se:
"Caramba, esses burros estão com sorte!"
"O branquelos não estão aguentando o calor, e teve um baixinho maluco que denominava-os de "raça superior", Bah!
Foi no ápice das emoções, quando os dois digladiavam-se verbalmente, quando a partida estava mais eletrizante... faltou eletricidade...
Ela caiu exausta no sofá e ele gritou um palavrão.
Faltava quinze minutos para o fim. E agora?
Ela foi pegar um copo com água e trouxe outro para ele, que agradeceu gentilmente.
Acalmaram-se, comentaram o jogo e elogiaram o desempenho das duas equipes... aproximaram-se... riram gostosamente da situação...
Comentaram bem humorados aquelas reações que cabiam melhor à crianças imaturas... relaxaram e até ensaiavam um beijo, quando a televisão, de repente ligou, mas o jogo tinha acabado.
Qual o resultado? Empate.
Ele levantou-se e após se espreguiçar com vontade, disse em tom sarcástico:
"Não foi justo..."
Ela olhou-o enviesado e antes que concluísse, retrucou:
"Também acho, a Alemanha foi infinitamente superior!". Mas o empate para uma seleção como a sua, sem tradição, é um grande resultado!"
"Tradição? A Alemanha tem tradição em fazer guerra e..."
E fim.

Marcel de Alcântara

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