De como estou aprendendo a viver com vocês
Oi, meu nome é ALUÍSIO JOSÉ. Eu sou um bebezinho.
Agora que estou completando o meu primeiro aninho já sei me comunicar com o papai, com a mamãe e com todos de casa.
Até um dia desse eu me encontrava no estágio pré-intelectual do desenvolvimento da minha fala. Meus gestos, sons ou expressões ainda não indicavam significados específicos. Por exemplo, quando eu chorava, podia está dizendo que estava com dor de barriga ou com fome, ou com calor.
Agora já estou começando a tentar dizer algumas palavrinhas, mas antes mesmo de dize-las, já começo a demonstrar uma inteligência prática. Em casa ninguém me segura, pois quero subir nas cadeiras, mexer e puxar as coisas, sem utilizar a linguagem. É que estou num estágio pré-lingüístico do desenvolvimento do meu pensamento. Mas com o tempo, dialogando com a mamãe e o papai, vou aprender a usar a linguagem como instrumento do meu pensamento e como meio de comunicação.
A mamãe e o papai sabem que primeiro eu terei uma fala exterior para fazer contato com as outras pessoas, para pedir as coisas, mas ainda não vou usá-la como instrumento do meu pensamento. Primeiro eu vou agir, depois eu vou falar. Depois eu vou agir e falar ao mesmo tempo; vou falar alto, mas vou está falando para mim mesmo, sei que vão dizer que falo sozinho. Mas aí vou aprender a fazer meu discurso interior, vou falar comigo mesmo, mas ninguém vai me ouvir, vai ser a minha fala interior; primeiro eu vou falar, só depois é que eu vou agir, é que já vou está aprendendo a planejar o meu futuro, vou começar a prever, a comparar e a deduzir o que vai acontecer e o que é bom ou ruim.
Mais tarde a mamãe e o papai vão começar a me ensinar outras coisas. Vão comprar jogos pra mim, vão me dá papel pra riscar. Eu vou fazer um bocado de riscos e rabiscos, já vou querer fazer letras, pois o papai vai me mostrar logo todo o alfabeto e os números. Eu vou escrever avião com letra bem grande, porque avião é grande e olho com letra bem pequena, porque meu olho é pequeno.
Depois eu vou descobrir que tudo que a gente diz, a gente pode escrever e que cada letra representa uma sílaba. Mais tarde eu vou ver que não, que as letras formam sílabas, que elas são menores do que as sílabas, mas ainda assim eu sei que vou escrever umas palavras erradas, mas a mamãe e o papai vão tá sempre por perto pra me ensinar.
Esse é o caminho que eu vou percorrer para aprender a ler e a escrever e para penetrar na vida intelectual de vocês. Vou aprender a entender o que me dizem, a ler livros, a escrever cartas, poemas, a ler o mundo. E aí é que ninguém vai me segurar mesmo.
Tchau, cara de boi. Não vai faltar no meu aniversário!
|