Cara Sebastiana!
Ao pé do moro
Sob chuva, que não cessa
Inventa um futuro para o piralho
Que não tira o olho do Toyota
Desses que passa na televisão
_ Estuda, Tavinho. Um dia tu vai ser milionário
_ Por que, mãe?
_ Por que é bom. Olha só pra eles. Tão cobertos. Não se molham, no quente. Enquanto a gente ta aqui no relento, com frio.
Como o moleque não entende, ela aprofunda
_ Nós somos pobres. Pobres de doer. Mal se tem grana pro ônibus. Eles não, vivem bem, tudo que o dinheiro pode dar.
É, essa é a vida ideal. Pro seu filho. O dinheiro compra tudo.
Eis que o “carrão” leva um jovem casal e uma senhora em idade avançada. Se aproximam, para bem em frente e de dentro salta a pergunta:
_ Ei, senhora? O abrigo Cristo Redentor fica longe daqui?
Não, não ficava. Um quarteirão. Morada final dos velhos.
E lá iria morar a velhinha, que um dia foi jovem como ela e tivera um filho que sonha com um carrão.
Disso, Sebastiana não sabia.
_ É manero, mãe! Vou ser doutor igual a esse daí.
_ Eu sei que vai, filho. Você é inteligente e tem um bom coração.
É, quiçá ele consiga tudo, inclusive mudar seu bom coração.
A chuva pára.
Vai embora. Vai agora, minha cara. A gente se vê no futuro.
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