Imponentes prédios pretos
Onde moram os prestos com seus pretos
Brancos, cafuzos, mulatos e mestiços
De várias ordens, religiões e partidos
Onde moram bichas, gays e afins
Homens machos e mulheres femininas
De várias crenças, crendices e desejos
Onde moram açougueiros, joalheiros
Bombeiros, seresteiros e torneiros
Motoristas, maquinistas e equilibristas
Onde moram kombeiros, cambistas
Aviões, maconheiros e presidiários
De várias viagens, fugas e ilusões
Onde moram raparigas, prostitutas
Putas, sérias e virgens
De vários encantos, sutilezas e intrigas
Onde moram bêbados, ladrões e surfistas
Gente séria, gente medíocre e gente cafona
De vários ganhos, roubos e fofocas
Onde moram os cães, os gatos e os canários
As aranhas, as baratas, as formigas e os ratos
De vários buracos, despensa e potes
Onde moram televisões, rádios e racks
As geladeiras, os fogões e os colchões
De várias marcas, modelos e cores
Imponentes prédios pretos
Onde moram os fortes, os fracos e os falsos
Os risos, os sorrisos e os prantos
De vários afagos, surras e planos
Onde moram manias, hobys e taras
O SPC, a Serrasa e crédito aberto
De várias lojas, bancos e agiotas
Onde moram as portas, janelas e frestas
Parede mofa, infiltração e reboco
De vários cheiros, vários desenhos e... pretos
Há! Imponentes prédios pretos
Altos, firmes e cheios
Gente com fome, gente sem fome
Gente com emprego, gente sem emprego
Gente com dívidas, gente sem dívidas
Gente com Deus, gente sem Deus
Gente farta, gente pedindo ao redor
Gente chegando, gente saindo
Gente nascendo, gente morrendo
Gente pecando, gente perdoando
Gente ganhando, gente perdendo
Gente! Gente! Gente!
Imponentes prédio pretos
Sem garagem
Sem TV à cabo
Sem piscina
Sem vigilância paga
Sem fast food
Sem cobertura
Sem hipermercados
Sem ônibus leito
Sem jardins
Sem ornamentos
Sem cerâmica Brennand
Sem arquitetura
Sem imaginação
Imponentes prédios pretos
Casulos pretos, feios,sem sonhos
Lugar de prestos com seus pretos
Brancos, mulatos, cafuzos, mestiços
Lugar de muitos pretos, muitos pobres.
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