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cronicas-->Era oito de maio, manhã, quase de madrugada -- 07/03/2003 - 21:27 (BRUNO CALIL FONSECA) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Era oito de maio, manhã, quase de madrugada.
Delurdes levanta-se. Faz café. Prepara a mesa. Acorda Arthur às 6,30h. Ele toma café e, às sete em ponto, já esta na porta do colégio. Ao meio dia está de volta para o almoço. Vai e volta de carro particular. Enquanto almoça, Delurdes assiste à tv e, lá da sala, grita:
- Hoje é o último dia para tirar título de eleitor, Arthur!
Arthur completou 16 anos e não se sabe ao certo qual a razão, já manifestou o interesse em tirar o título de eleitor. Às 13.00h já está na fila do Cartório Eleitoral.
Dasdores, do outro lado da cidade, acorda cedo, levanta-se, faz café e sem sentar-se à mesa, serve-se com uma xícara de café, rasga um pedaço de pão amanhecido e aguarda por Júnior, que um dia antes lhe dissera que foi trabalhar. Júnior completou, recentemente, 18 anos. Tirou carteira de identidade, inclusive profissional, e o título de eleitor. Trabalha desde os 13 anos. Só não tem emprego fixo. Diz para a mãe que faz alguns biscates.
Dasgraça, do Luizote, acorda mais cedo, levanta-se, mal faz o café, esparolada, grita por André, que ainda está, na cama, meio sonolento.
- Acorda André! Hoje é o último dia para tirar o título de eleitor. Vá tirá prá vê se arruma um emprego mió. Tenta mudar de vida, filho.
Ainda debaixo das cobertas, André responde:
- Já tirei no ano passado, mãe. Lembra não?
Por óbvias razões diferentes das de Arthur, André já havia enfrentado aquela fila degradante. Haviam explicado-lhe que mencionar o título eleitoral no currículo dava a entender que era um cidadão mais ligado no mundo.
André, não faz duas semanas, completara dezessete anos. É um garoto moreno, alinhado, do tipo muito simpático. Só vendo!
Não é de hoje que ele procura um emprego digno. E não é de hoje que ele começou a trabalhar. Aos quatorze anos pediu dinheiro ao pai e este não lhe deu. Então resolveu fazer bicos. Trabalhou de auxiliar de ambulante, entregador de propaganda, enfim, não dispensava o que lhe rendesse alguns trocados, embora estivesse claro na sua mente que ao completar os dezesseis anos sairia em busca do emprego melhor.
Dezesseis completos, de carteira profissional na mão e currículo que pagou para fazer, foi pessoalmente distribuí-los nos comércios, fábricas e escritórios. André havia traçado um objetivo. Queria um emprego de office-boy. Começaria de baixo, bem de baixo, se fosse preciso. Faria qualquer coisa, desde lavar banheiro a entregar papéis. Era assim que muitos começaram e se tornaram homens importantes na vida, ensinava-lhe a mãe, Dasgraça.
Depois de muito tentar, de bater pernas de porta em porta, André desistiu de ser office-boy. Ficou desanimado e foi ser plaqueteiro, também chamado de homem-sanduiche.
Hoje trabalha nove horas por dia, com um intervalo de uma hora para almoço. Ás 9h já está circulando no centro da cidade, vestido com um jaleco de plásticos estampado com os seguintes dizeres: "compro e vendo celular". André ganha R$15,00 por dia. A propósito, já havia confessado a um amigo que se mãe insistisse para que arrumasse um emprego para ganhar mais, iria envolver-se com o tráfico de drogas.
Era oito de maio, 6h da tarde.
Arthur chega em casa com o protocolo do título de eleitor. Enfrentou uma fila quilométrica. Ficou o dia inteiro no sol escaldante. Mas trouxe um semblante de satisfação. Não sabe bem o que fazer, em quem votar, por que votar, mas tem o título na mão. Vai dizer no cursinho que agora é um cara-pintada.
Arthur já faz Paes e não sabe também, ao certo, qual curso profissionalizante escolher. Não tem referencial de sucesso. Não vê perspectivas de trabalho sem que tenha que se ralar ao extremo. Está complemente desnorteado.
André chega em casa com os R$15,00 no bolso. Às 19h tem que estar no colégio. Cursa a primeira série do ensino médio. Não gosta do que faz. Mas é preciso trabalhar, ganhar dinheiro, sobreviver. Contraditoriamente diz "Às vezes eu gosto, mas às vezes me encho de ver tanta falsidade". Onde trabalha é foco de violência de todo o tipo que se possa imaginar. Tem que estar sempre atento e corre-se o risco de ser atingido por uma bala perdida. Ele diz que pior do que isso é ficar em casa ouvindo os gritos da mãe: "Minino! Acorda minino, vai procurá emprego, minino".
Júnior não chega em casa. Neste mesmo horário, dobradiças chiam e a grade de ferro bate no portal. O barulho estridente ecoa nos corredores do presídio. Lá dentro, Júnior amua-se num canto da cela. Acocorara-se, abraça seus joelhos, abaixa a cabeça e chora. Aos poucos, retoma-se, mas olha só para si, para bem dentro de si e pressente que ainda tem chances. Entrou nessa de gaiato. Juntara-se aos quatro amigos, quase que da mesma idade, que já estavam incursos na criminalidade sem muita malícia. Por influência deles portara arma e participara de um assalto à loja. Consola-se porque no máximo, amanhã de manhã ele sairá dali. A cadeia pública está lotada de garotos com uma lista de delitos muito maior do que a dele. Para a mãe, Júnior faz biscates...
Arthur, André e Júnior são três jovens que têm um destino em comum: acreditar nos homens e escolher entre eles um governante para este país. Os três trazem uma arma na mão: o título de leitor que lhes permite votar. Mas é uma caso a repensar. Em determinadas democracias esses papéis são pouca bucha para disparar bala de canhão.
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