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cronicas-->Mal havia colocado os painéis digitais -- 07/03/2003 - 21:26 (BRUNO CALIL FONSECA) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Mal havia colocado os painéis digitais de propaganda nos canteiros centrais da Rondon, o Antunes apareceu por aqui, na cidade e disse que veio visitar o Chagas. Veio numa época boa. No outono, pela manhã o clima, pelo menos nesta maravilhosa avenida, fica em torno de 20 a 26 graus.
No primeiro dia em que o Antunes pediu ao Chagas para deixá-lo no centro da cidade, um desses painéis lhe chamou a atenção. Não o painel em si. Mas o número 24 que indicava a temperatura naquele exato momento. Ai veio aquela história de sempre, hoje em desuso:
- Estão chamando-me de veado, Chagas.
Sorriram, caçoaram e nada mais. Chagas deixou o Antunes no centro da cidade e foi trabalhar. Voltaram a se encontrar no fim de tarde e à noite, mas não tocaram no assunto do número 24.
No dia seguinte, Antunes pediu ao amigo o mesmo favor. Deixá-lo no centro da cidade. Quis justificar. Disse que acostumara, nas manhãs, a andar pelo centro da cidade, tomar café com pães de queijo, comprar jornais, parar numa esquina e observar pessoas. Este costume tornara-se rotina na sua vida. Conversaram um pouco mais sobre o passado comum, entraram no carro e seguiram para o centro.
- Um pedido de amigo é uma ordem, vamos.
- Vamos.
Essa convicção era comum aos dois.
Ao passar pelo mesmo painel, mais uma vez, por coincidência ou não, marcava 24 graus de temperatura.
- Ah! Não pode! Exclamou Antunes. Isso é marcação. Olhe lá, de novo o 24. Acho que tó com sorte.
Os dois deram risadas.
Chagas deixou o Antunes no centro. Imaginava vagamente o que viera fazer aqui. Aliás, até insinuou. O amigo captou as insinuações e respondeu-lhe com um sonoro não, mas educadamente. É uma pessoa muito reservada. De bom coração. Chega a ser meiga, doce, sociabilíssima. Nunca causou aborrecimento a ninguém.
A propósito, o Chagas teve a coragem de insinuar porque sabia um pouquinho da história do amigo. Vinte e poucos anos atrás, Antunes deixara o interior de Minas e fora para o ABC Paulista vender leite. Lá e em quase todas as cidades do estado de São Paulo o leite era vendido na porta do consumidor. Com o pouco capital que tinha, comprou uma carroça e uma linha micha de freguesia e disse para si mesmo:
- Mãos à obra, Antunes!
Antunes levantava todos os dias 3h da manhã e dava duro até às 10h. Ficou amigo de um freguês, dono de botequim, que marcava jogo-do-bicho. Todo dia, Antunes fazia a sua fé na expectativa de ganhar um bom dinheiro para aumentar ou trocar de linha. Já ia para o segundo ano de labuta sem que o seu rendimento superasse a marca de dois salários mínimos líquidos e no jogo do bicho só acertava passes baratos. Vivia na ilusão de um dia acertar na milhar. Andava meio desgostoso porque esse dia não chegava. Resolveu reclamar para o marcador de bicho. O botequeiro amigo se dispós a ajudá-lo.
- Toma, pega esse bloquinho de bicho. Te pago a metade do meu lucro. Quem sabe dá certo.
Ah! Pra que? Antunes trabalhou de parceria com o amigo apenas uma semana. Na segunda fichou na banca principal da sua área sujeitando-se a ganhar apenas vinte por cento. Mas não tinha que dividir com ninguém. Ao final de um ano, Antunes tornou-se, naquela região, o único marcador de bicho do banqueiro Tonhão. Com o lucro do leite e do jogo comprou outra linha de leite do outro lado da cidade. Trouxe o irmão do interior para tocá-la. Por sorte a banca do bicho daquela região era também do Tonhão. Na verdade fizera um negócio casado. Comprara a segunda linha de leite pensado no jogo do bicho. Para encurtar a história, não levou dez anos completos para o Antunes tornar-se um dos maiores distribuidores de leite e banqueiro da cidade, com uma frota respeitável de caminhões baús e motocicletas para os respectivos trabalhos, finalizou Chagas.
No terceiro dia, pode parecer que estou a exagerar - digo: eu não, o Chagas. Eu sou apenas o narrador -, mas então no terceiro dia, ao passarem pelo mesmo painel, parece até que o painel pressentira a presença do Antunes. Marcava 23 e deu um salto rápido para o 24. Desta vez foi o Chagas quem atentou para o fato.
- Veja Antunes, esse painel tá mesmo gozando com a sua cara. Deu de novo o 24.
- É - respondeu seco, Antunes.
- Parece-me preocupado, amigo. São os negócios?
- Não! - um não reticente - Perguntei a um garoto se havia banca-do-bicho no centro da cidade e ele não soube me responder. Perguntei a um idoso, também não soube. Durante esta semana que se finda, não vi e não li nos jornais (impressos, rádios, tvs) uma notícia sequer sobre a polícia e jogo-do-bicho.
Chagas resolveu ser mais direto com o Antunes. Já estava tedioso fingir que não sabia dos negócios dele. E, naturalmente, a chateação do Antunes não era porque ele tinha que andar um pouquinho mais para marcar o 24 na cabeça. Ele pouco acreditava nisso. Chagas foi direto ao assunto:
- Mas esta situação não é boa para os seus negócios, Antunes?
- Não, não, disse ele sem dar detalhes.
- Mas...
- Mas, mas, mas, nada. Esquece Chagas. Deixa-me no Aeroporto.
- Antunes! Eu não te entendo...
- Esquece meu caro Chagas.
Sinceridade! Eu também não entendi o Antunes. Mas quem entende os homens do bicho?
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