Nada de nada/outra distribuição
maria da graça almeida
O amor quando arrefece
da rotina é refém,
o nariz que muito cresce
mede as mentiras de alguém.
O petiz que empina a pipa
nasceu de cara pintada,
dentro de um berço de ripa,
sobre uma colcha rasgada.
A vida de todos nós
tem contornos e debruns,
desde a barra até o cós
a costura é incomum.
O vento que venta forte
traz a poeira do além
se, um dia, saudar-lhe, a morte,
convide-a a morrer também.
O dia chega brilhante,
a tarde fica-lhe aquém,
num dia sou rico infante,
noutro não tenho um vintém.
A noite faz-se silente,
sozinho, não vejo ninguém,
só laranja com sementes
um farto caldo contém.
|