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Cordel-->As coisas que já passei, só agora eu vou contar -- 13/06/2006 - 19:29 (Airam Ribeiro) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Mote – As coisas que já passei
Só agora eu vou contar
Por Airam Ribeiro 27/05/06 Brasília DF

(décima)

Vou lhe contar Marina
Um pouco da minha história
Não tive lá essas glórias
Pra você abro a cortina
Por essa nossa estima
É que vou desabafar
Sei que posso confiar
Pois a ninguém jamais contei
As coisas que já passei
Só agora eu vou contar.

São memórias de família
Isso que passo pra você
Não precisa ninguém saber
Também não são maravilhas
Meu destino fez a trilha
Por onde tinha que passar
Até chegar aí neste lugar
Muitas coisas matutei
As coisas que já passei
Só agora eu vou contar.

Em setenta e dois aí cheguei
Tendo na mala a confiança
Nunca perdi a esperança
Na causa que eu dedique
Pra dar um lar abdiquei
E muitas coisas deixei por cá
Pensando em um dia voltar
Nesta opinião eu firmei,
As coisas que já passei
Só agora eu vou contar.

Com o cinto apertado
Sem ter quase alimento
Mamãe num certo momento
Seu plano tinha traçado
Com o tio aí neste estado
Que estava a me esperar
Fui chorando deste lugar
E daqui me afastei,
As coisas que já passei
Só agora eu vou contar.

Cidade do interior
Nos cafundó da Bahia
Eu chegava naquele dia
Nos planos que mamãe traçou
Com esperança no labor
Eu chegava neste lugar
Com as promessas no ar
Por tudo que escutei,
As coisas que já passei
Só agora eu vou contar.

Sem reclamar pra ninguém
Pensando construir um lar
Pra minha mãe poder morar
Eu estava em Itanhem
Desabafar para quem!
Vendo a saudade chegar
Estando neste lugar
Com minhas tristezas bem sei,
As coisas que já passei
Só agora eu vou contar.

Cheguei para ser gerente
Do comércio de atacado
Viajar pra todo lado
Isso eu estava ciente
Mas tudo tão de repente
Mudou neste lugar
E cativo então a ficar
Mesmo forçado fiquei,
As coisas que já passei
Só agora eu vou contar.

No comércio de atacados
Vivia a enrolar sabão
Pra satisfazer o patrão
Que mamãe tinha confiado
Eu padeci um bocado
Sem ter a quem desabafar
Só para fazer nosso lar
Neste patrão confiei,
As coisas que já passei
Só agora eu vou contar.

De madrugada levantava
Pra vender gás e cimento
Sem raiva naquele momento
A ninguém eu demonstrava
Também não lamentava
E nem podia demonstrar
Era um frio de danar
E muitas vezes eu resfriei,
As coisas que já passei
Só agora eu vou contar.

Duas da tarde eu almoçava
Vejam o que faz o dinheiro!
Trabalhava o dia inteiro
Nove da noite é que jantava
Às vezes nem namorava
Ainda tinha que tolerar
E para me humilhar
Muitas broncas eu escutei,
As coisas que já passei
Só agora eu vou contar.

Quando chegava o natal
Sem mamãe e meus irmãos
Apertava-me o coração
Sem carinho maternal
Mas tinha um fim afinal
De a missão continuar
Pedia a Deus pra me ajudar
Nas orações que orei,
As coisas que já passei
Só agora eu vou contar.

Dia das mães aproximava
Eu comprava um cartão
E com dor no coração
As frases q’eu rabiscava
As lágrimas o cartão molhava
Mas isso eu tinha que passar
Para a missão continuar
Eu não sei como agüentei
As coisas que já passei
Só agora eu vou contar.

Sempre na volta pensando
Trabalhava confiante
Passaram muitos instantes
Até que vi terminando
E o fim da missão chegando
Da construção de um lar
Vendo mamãe nele entrar
Muito feliz eu fiquei,
As coisas que já passei
Só agora eu vou contar.

Ao velho barraco agradeço
Das vezes que me agasalhou
Das muitas que ele doou
As alegrias não têm preço.
Muitos anos num endereço
Eu vi àquela hora chegar
De na casa os irmãos entrar
Sem minha presença bem sei,
As coisas que já passei
Só agora eu vou contar.

Voltar pra cá já não podia
Ficava com o triste destino
De um sonho de menino
A sonhar por uma moradia
Mas me vi numa alegria
Quando enfim veio o lar
Só assim eu pude casar
Com o amor que encontrei,
As coisas que já passei
Só agora eu vou contar.

Vivia de sonhos e saudades
Pensando um dia voltar
E para junto do novo lar
Com todos nesta cidade
Pra curtir a felicidade
Que desejava almejar
Aqui neste velho lugar
Foi o que sempre desejei
As coisas que já passei
Só agora eu vou contar.

Minha mãe, os filhos curtiam...
Dia das mães e no natal
Eles todos na capital
E eu sozinho aí na Bahia.
A saudade então doía
Com vontade de aqui estar
Para poder lhes abraçar
Neste chão onde me criei,
As coisas que já passei
Só agora eu vou contar.

Constitui uma família
Sempre pensando em voltar
Meus filhos vieram pra cá
Seguindo a minha trilha
De vir morar em Brasília
Esperando eu aposentar
Para aqui confraternizar
Foi só isso que eu pensei,
As coisas que já passei
Só agora eu vou contar.

Trinta e quatro anos passaram
E eu sempre com a esperança
De parar com minhas andanças
Somente dois anos faltavam
Que meus olhos até brilhavam!...
Pra com mamãe poder estar
Para todos os dias lhe abraçar
Mas percebo que atrasei,
As coisas que já passei
Só agora eu vou contar.

Com um câncer no pulmão
E sem poder respirar
Eu vi seu fim chegar
Parando seu coração
Sofri com meus irmãos
Mas sem me lastimar
Eu tenho que conformar!
Isso na hora eu pensei,
As coisas que já passei
Só agora eu vou contar.

Três da manhã chegando
Eu me encontro sozinho
E chorando bem baixinho
Com as lagrimas derramando
Não estou me conformando
Porque minha mãe já não está
E de novo sozinho vou ficar
Como sempre eu fiquei,
As coisas que já passei
Só agora vou contar.

No cemitério local
Seu corpo foi sepultado
Depois de tudo consumado
Ela chegou ao seu final
De ser candanga na capital.
Quarenta e seis anos num lugar
Ela soube seus filhos criar
Isso eu vi e presenciei,
As coisas que já passei
Só agora eu vou contar.

Olho agora o seu quintal
E penso no chá caseiro
Quando às vezes sem dinheiro
Ele curava o nosso mal.
Nesta cidade da capital
Já vejo a planta secar
Pois já estão a murchar.
As folhas que avistei,
As coisas que já passei
Só agora eu vou contar.

Sei que vou voltar um dia
Mas vai ser bem diferente
Não ver mamãe na linha de frente
Eu perco até a alegria
Mas com vontade e ousadia
Com os irmãos vou me juntar
A união não pode acabar
Será o amor nossa lei,
As coisas que já passei
Só agora eu vou contar.

Na terça-feira que vem
Já programei a viagem
Já comprei até a passagem
Pra retornar a Itanhem
Levando no peito também
Saudade deste lugar
E de quem foi pra não voltar
Esta mulher que mais amei,
As coisas que já passei
Só agora eu fui contar.

Aí está amiguinha
Meu desabafo pra você
Sei que um dia vai ler
Aí no sitio Cachoeirinha
Esta intenção não tinha
Mas todos têm que passar
Para poder me acalmar
Com você desabafei
As coisas que já passei
Só agora eu fui contar.


Sobradinho DF 27/05/06
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