Dom Cláudio declarou ontem que o fim do celibato não está na “ordem do dia da Igreja,” em um esclarecimento de suas declarações, poucos dias antes de viajar para o Vaticano, onde assume o cargo de prefeito da Congregação do Clero. Afirmou, ainda, que “o celibato é uma disciplina e não é um dogma da Igreja”. E “que a maioria dos apóstolos eram casados”. Aventou, também, a possibilidade de a Igreja Católica ordenar homens casados. Ainda de acordo com a nota da Santa Sé, Dom Cláudio lembrou que a tradição do celibato "é muito antiga e se baseia em uma tradição consolidada, com fortes motivações de caráter tanto teólogico-espiritual, como prático-pastoral, confirmadas por vários papas”.
Até o século VII tanto Papas como os padres podiam se casar, e foi somente no ano 1123, através de uma encíclica papal, que foi imposto a castidade perpétua aos sacerdotes de Roma. Incapazes de contrair matrimônio válido, e de gerar herdeiros legítimos, os padres e prelados poderiam somente deixar suas propriedades para a Igreja.
A eclosão de sucessivos escândalos de pedofilia no clero católico desencadeou uma das mais graves crises na Igreja Católica nos últimos anos. Os casos eclodiram na Europa e nos Estados Unidos. O problema acentuou-se no final dos anos 90 com casos graves que vieram à luz e desencadearam uma onda de denúncias contra padres e bispos. Um dos casos mais notório foi o do padre americano Paul Shanley, condenado à prisão em fevereiro deste ano.
Para os fiéis, porém, o maior choque talvez tenha sido causado pelos episódios de acobertamento. Alguns padres que cometeram abusos foram tolerados no seio da Igreja por décadas, com conhecimento de líderes. O próprio Vaticano, porém, foi acusado de lentidão e omissão. A castidade sacerdotal é diametralmente oposta ao que prega o Evangelho, quando Cristo disse: “crescei e multiplicai-vos”. A castidade, por ser contra a natureza do homem, deveria ser uma opção eminentemente de cunho particular e espiritual, e não por força de uma determinação do Vaticano, que acaba desabando em atitudes não recomendáveis dos seus sacerdotes. Que eu saiba, entre as diversas denominações religiosas, o celibato está restrito exclusivamente a Igreja Católica. Não seria o momento de o Vaticano repensar este assunto?
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