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Cartas-->Lembro-me de que era uma manhã -- 07/03/2003 - 12:55 (BRUNO CALIL FONSECA) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Lembro-me de que era uma manhã de pouco sol. Fiz umas anotações num papel acerca de um enxame de aleluias e seu movimento, para dar cabo a este texto. Três semanas depois, hoje, ao recorrer aos dados anotados, de tanto procurar o papel, o dei por perdido. Decidi guiar-me pelos meus desatinos. Aleluia!
Havia chovido à noite. O chão estava úmido e dele já se dissipava a névoa permanecendo apenas uma leve penumbra da manhã. O silêncio da rua era quebrado apenas por pássaros. Ao abrir o portão, foi como se abrisse um tempo vivido em minha vida. Deparei-me com uma imagem que se repetia todos os anos, como costumava dizer meu pai, nos meses das águas. Tempo de mato verde, época de terra remexida e de cheiro de mato cortado e pés molhados pela relva.
Nesse tempo eu não destingia a aleluia dos cânticos de louvor da aleluia designativa dos exemplares alados dos cupins. Curioso é que quando eu participava dos cânticos nas igrejas, como é própria dos cânticos de aleluia — alegre, com muito regozijo e batendo palmas no ritmo, o que vinha a minha mente era um exame de aleluias, também alegres, voando leve, deixando-se levar pelo vento leve daquelas tardes de arraial. Elas realmente sempre me pareceram misteriosas, algo que mexia com a minha alma. Ao ver uma aleluia na parede, caminhando meio desbaratada, era com ver a imagem de uma santa com véus e seus adornos. Santos e santas eram aleluias que enfeitavam as portas de igrejas em dias da coroação da rainha. Ninguém nunca havia me dito o que significava aleluia e eu já tinha aleluia como o alegre cupim alado. Jamais pensava ser uma celebração ao senhor, originária do hebraico — hallelu Yah.
As que via agora, não eram mais as de fins de tarde. Estavam ali atraídas pela luz da rua. Ao vagar naquele curto espaço da iluminação foram cair ao pé do poste, sobre uma lama vermelha, trazida pela chuva da noite, de um monte de terra que o vizinho colocara no asfalto para, no dia seguinte, realimentar a grama. A terra escorrida formara uma crosta de, mais ou menos, dois centímetros de espessura num espaço de uns dois metros quadrados. Bem próximo ao poste na falsa calçada de grama descobri o ninho que seria de parte delas. Não estavam ali por acaso. O tempo de voar havia chegado. A luz e o chão artificiais as haviam enganado. O que se via pela manhã, além das poucas que arriscavam um sobrevôo, eram centenas delas que serviriam de banquete para os bem-te-vis. Na selva não seria muito diferente. Uma boa parcela seria alimento de artrópodes e répteis.
Pode parecer exagero querer preocupar-me com esses isentos que trazem dor de cabeça para o homem. De muitos já comeram mandiocas e canas, é só o que se vê. Com ele em casa pode-se perder o móvel antigo de jacarandá. Para exterminá-lo fabricaram o mais potente BHC. Mas sem ele a terra pode virar pó. Ponto. A minha relação com aqueles cupins, embora ela exista, não era a questão ecossistêmica e nem a preocupação com as possibilidades da ruína dos meus móveis de falso ipê. Assistia a uma luta pela sobrevivência da espécie. Havia ali aleluias com as asas encharcadas, trôpegas, em zig-zag a procura de outra; aleluias que estavam viradas de pernas pro ar e com as asas coladas na lama; havia aleluias que insistiam em ficar acasaladas; que procuravam uma fenda na calçada; que, desordenadamente, faziam buracos na camada fina de terra que estava sobre o asfalto. Era um esforço de guerra conjunto. E entre sucessos e insucessos, dava pra ver que aquela turma de cupins alados mostrava dedicação, esforço, renúncia, persistência e criatividade. Justo os que, para o resto do mundo, são taxados de vermes. Observei a persistência de um. Ele já havia furado toda a terra e quando deu por si, do asfalto e da impossibilidade de furá-lo, tratou de jogar sobre si a terra antes removida. Foi quando me dei conta de que sob os pequenos calombos na lama quase seca havia cupins escondidos. Havia vermes que resistiam em se entregar aos pássaros. Outros tinham as asas coladas na lama molhada e sobre elas o peso da terra. Detive-me em uma. Com esforço indiscriminado podia ter arrancadas as suas asas, imaginava, por isso ela preferia ficar ali inerte, mas não uma entrega pura e simples, mas sim uma renúncia aos caprichos da natureza. Porém, antes dela, outra veio em seu socorro e pôs-se a remover a terra em torno dela. Havia aleluias insatisfeitas, parecia-me. Andavam desnorteadas em zig-zag, mas também havia as persistentes. Ao caminhar com destino certo a explorar o asfalto, nos encontros se comunicavam e repassavam informações. Algumas, de asas caídas, formavam parceiros e não desistiam do acasalamento. Outras, efetivamente sem asas, enveredavam pelo tubo de esgoto e logo voltavam.
Não era lógico quem sabia e sabe construir prédios aéreos e subterrâneos de maneira arquitetural com uma liga própria ficar se debatendo naquele ambiente inóspito. Mas logo percebi que muitos caminhavam por entre a grama e já se aproximavam daquele cupinzeiro que o jardineiro arrancara a copa por oito anos seguidos. Àqueles a natureza deu a oportunidade de cumprir a finalidade do vôo nupcial.
E por oito anos seguidos, eles num esforço comum, numa estratégia de guerra, parcela se oferecendo aos predadores, soergueram aquele prédio que, ao ser partido por um enxadão, junto com ele milhares são massacrados pelo corte e imaturos cupins são queimados pelo sol. Soerguem a mesma planta para não interferir no ecossistema, ainda que essa função seja lhe dada por outro ser.
Aleluia! Aleluia! Aleluia!
Não há como deixar de louvar a um senhor.
Aleluia!
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