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Poesias-->Cantiga das vidas passadas, passadas a limpo -- 02/06/2004 - 19:20 (Tereza da Praia) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
CANTIGA DAS VIDAS PASSADAS, PASSADAS A LIMPO











Vidas, por ventura por mim vividas outrora,



Não são objetos de minhas cogitações no agora



Mas na minha alma algumas indagações afloram



Quem terei sido eu em vidas que já foram embora?







Teria eu sido Sarah mulher de Abrão,



O patriarca da fé e o pai das nações?



Com certeza, não.



Pela minha história, talvez eu tenha sido Hagáh



Mãe de Ismael, protagonista do triangulo amoroso.



Abandonada no deserto pra se aventurar.







Será que fui Raquel, de Jacó a mulher,



Por quem ele sete anos trabalhou vencido?



Quem sabe, eu tenha sido Lia, a irmã esquecida,



Aquela que tinha filhos e a vida entristecida,



Pois do marido, Jacó, não tinha o bem querer?







Não! Não! Não!



Num rasgo de presunção,



Eu acho que fui aquela apresentada por Platão,



No seu célebre “o banquete”, como a mulher



Que lhe ensinou o que é amar , Diotima de Mantinéia.



Eu poderia também ter sido Hipárquia, uma quase déia,



Admirada por Diógenes, escritora de Cartas e Tragédias.







Pensando bem, quem sabe não fui eu Asiotea de Filos?



Mulher que, para Platão, ensinava física em sua academia.



Ou quem sabe não fui Maria, a judia, fundadora da alquimia,



Talvez eu tenha sido Hipácia, que morava em Alexandria,



Escritora de comentários à aritmética e corpus astronômicos,



Perseguida pelos Cristãos, foi assassinada por um grupo de fanáticos.







Ao indagar dessas possibilidades minha alma chora.



Sinto em mim a dor do pensamento silenciado.



Prosseguindo minhas indagações de vida passada,



Quem sabe não fui eu a pobre Madalena ...



Ai de mim, ela, eu não poderia ter sido, tornou-se santa.



Eu sou apenas uma alma indecente, uma profana.











Quem sabe eu não apareci na idade medieval,



E vivi um grande amor, contigo, quem sabe?



Vai ver que fui Heloisa, aquela de Abelardo



Cuja historia está contada no filme “Em nome de Deus.”



Teria sido Catalina de Siena, com intelectual dardo



Defendia a paz, repudiava a guerra por achá-la um mau.







Ah! Acho que fui Cristina de Pizan, que em contra posição



À cidade masculina de Aristóteles, criou a cidade das mulheres.



E neste livro descreveu nossas virtudes e o que vai no nosso coração.



Por minhas características, Olímpia de Gouges foi uma minha encarnação.



Bastarda, analfabeta, autodidata, lutava pelos nossos quereres.



Olímpia Gouges, superando a oposição de tantos,



Transformou-se em escritora, defendia os direitos da mulher.



Com muita propriedade redigiu a declaração dos direitos quantos,



Da mulher e da cidadã. É provável que eu tenha sido parte deste combater.







Mas, quem sabe, posso ter sido Clotildes, de A. Comte o amor da vida.



Aquela que sacrificou seu querer em nome de uma moral,



Não vivendo todo o amor. Tinha toda um conduta muito comedida.



Perdeu-se. Morreu de amor, sem vivê-lo. Virou um ser angelical.







Não. Penso que não fui Clotildes. Gosto de correr risco. Tudo viver.



Entro no rio da vida, e navego sem ter medo de me perder.



Mas pelas minhas qualidades, que aos homens chamam atenção



- A inteligência, a lealdade, Nísia Floresta foi a minha encarnação



Pois a Comté se dedicou até o fim, decifrando-lhe o pensamento,



Ficando ao seu lado até quando a indesejável das gentes o levou.







Não é nada disto, quem sabe posso ter sido a Rosa,



Aquela de Luxemburgo, ou Lou Andrés-Salomé,



Pelo meu fraco por poetas, e por neles eu ter fé.



Quem sabe, eu poderei ter sido qualquer uma amorosa.







Posso ter sido qualquer uma, escrava, serva, santa, profana.



Ter habitado em palácios, em taperas, na senzala, ou na mata.



Mulher invulgar que tracei e traço o meu destino cigano.



Sempre em busca do conhecimento, de não ser tão inexata.







Todas estas vidas passadas, quase sem registro



Mulheres, pensadoras, sujeitos invisíveis,



Mulheres esquecidas em um mundo sinistro,



Onde seus pensamentos, suas obras intelectuais foram desconsideradas, ficaram no ostracismo previsível.







Todas estas vidas eu vivi. Todas estas mulheres em mim habitam,



Às vezes silenciosas, às vezes gritam, um grito de liberdade,



um grito aflito, um grito que sangra o coração, daqueles que amam.



Querem reconhecida sua condição de existenciabilidade,



Querem, por fim, ouvir o som de suas vozes em claridade



Cantando os seus pensares, os seus quereres, sua dignidade.







Todas estas mulheres vivem em mim,



E em mim cantam seu cantares,



Na minha vida, como fosse um jardim.



Todas a vidas dentro de mim, em penares.



Vida mera das obscuras, que não se vestem de cetim.







Tereza da Praia



Série: vadiação da alma indecente.





































































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