Dizem que o Lampião
é que foi Rei do Cangaço,
e, eu, Antônio Silvino
de vice dele não passo,
coisa que nunca aceitei,
pois, fui melhor no "balaço"...
E, sendo mais instruído,
que eu até Ginásio fiz,
fui mais completo bandido
do que aquele infeliz,
que foi o Rei do Folclore
do Nordeste do País.
Eu tinha mais consciência
das maldades que fazia,
e, não fui morto à traição,
Getúlio deu-me alforria
e quis até dar-me emprego
no Rio Grande ou Bahia.
Porém, antes, certa vez,
disfarçado de mendigo
em bodega de senhora
que me chamava inimigo,
perguntei-lhe se achava
ser o Silvino um perigo.
"Ele é um amaldiçoado
que vive matando gente,
o mais perverso asassino,
sujeito mau e indecente
e eu quero é que seja preso
para haver paz permanente."
Então,lhe disse: "Sou eu
de quem a senhora fala".
Porém, falei mais:"Comadre,
não quero, agora, matá-la,
porquanto acho desperdício
tirar-lhe a vida com bala!
Só quero lhe dar lição,
olhando o seu corpo nu
abraçado no cardeiro
que chamam mandacaru,
e, tire a roupa depressa,
pra abraçar espinho cru..."
Foi embora o cangaceiro
e ela foi retirada
sangrando para o hospital,
por gente boa levada
e dizem que ficou muda,
nunca mais dizendo nada...
Outra vez, numa cidade,
foi no Correio local
e roubou todo dinheiro,
até de caixa-postal,
telegrafando a Getúlio
pra mandar mais capital...
Daí, Vargas, Presidente,
quis conhecer o bandido
e pediu-lhe que deixasse
de ser do crime e temido,
que, já muito cangaceiro
tinha na bala morrido...
Do cordel, a conclusão,
tire o leitor: se Silvino
foi maior que o Capitão
do Folclore, o Virgulino,
ou há outro por aí
que não se sabe o destino?!...
OBS. Texto psicografado por um xangozeiro de Olinda-PE. |