Material Descartável
(por Domingos Oliveira Medeiros)
Dizem, as donas de casa e os demais especialistas, que devemos consumir, sempre, frutas e legumes de época. Concordo, plenamente; é o meio mais seguro para obtermos dois benefícios de uma só vez: qualidade e preço. Bom para as duas saúdes: a física e a do bolso. Mas a seleção criteriosa, as nossas escolhas, não se resumem, apenas, na questão da alimentação. Vai muito além. A escolha da parceira (ou parceiro) por exemplo, pra viver o resto da vida dividindo cama, mesa, alegrias e tristezas é bom exemplo. E há outros: a profissão que iremos abraçar, nossos amigos, a música, a leitura, clubes, viagens e lugares de férias, e assim por diante. Da escolha que fizermos dependerá, em grande parte, o sucesso ou insucesso daquilo que almejamos.
Agora mesmo, vivenciamos um grande processo de escolha. A Copa do Mundo. A palavra de ordem é a seleção. As melhores equipes, os melhores jogadores, os melhores técnicos, os melhores programas táticos, queremos crer, fazem parte do espetáculo. Que vença o melhor. Aqui no Brasil, pelo menos, acontece outro evento seletivo importante. As eleições. Evento que começa, exatamente, pela escolha: dos candidatos a candidatos, dos candidatos definitivos, que almejam à presidência da República, seus vices e outros candidatos que concorrerão a outros cargos. E, nesta eleição, ainda temos a escolha de apoios, das coligações partidárias.
E fico a indagar: será que os partidos escolheram os melhores candidatos? Qual deles teria escolhido o melhor programa? Quem reuniria as melhores condições para governar o país? Confesso certa sensação de desconfiança. A impressão é a de que estamos diante de um imenso lixão. Procurando alguma coisa que ainda possa ser útil. Alguma coisa que possa aproveitada. Reciclada. É assim que vejo o quadro eleitoral, diante dos candidatos até então expostos. Não há grandes achados. Novos craques. Tal como na seleção de futebol. Continuamos reutilizando jogadores. Bastante conhecidos e desgastados. Jogando um futebol que dá para o gasto. Mas não apaixona.
Dependemos, portanto, de rigorosa escolha. A começar pelo técnico. Que deverá ter o melhor programa tático. A melhor estratégia de ação, para conduzir os destinos do Brasil. Precisamos vencer todos os jogos das adversidades. Escolhermos os melhores jogadores para compor a equipe do Congresso Nacional. Os melhores juizes que irão evitar injustiças em cada jogo. Até chegarmos às finais e vencermos nossos maiores adversários: a inércia e o desencanto. A falta de perspectiva. A falta de vontade política. De fazer gols. Gols que nos trarão a taça do crescimento e do progresso. Do desenvolvimento sustentado. Da justiça social. E não há outro jeito. Do lixo reciclável de que dispomos é que faremos a seleção. Será preciso um grande esforço. Comparável à genialidade e a criatividade de um carnavalesco como o Joãozinho Trinta. Para conseguir transformar o lixo num verdadeiro luxo. Dando luz e graça aos desfiles das escolas de samba. Restabelecendo a confiança e a esperança do povo brasileiro. Que, atualmente, anda cansado de assistir determinados passistas, que o encantam e o enganam com promessas, prá tudo acabar na quarta-feira.
Domingos Oliveira Medeiros
03 de junho de 2002
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