DÁ-ME
Elane Tomich
De igual saudade,
esta dor não é.
Ai, sofra por mim.
Livra-me das dedicatórias,
da filiação, dos atos de fé,
dos cem metros rasos,
sapatos nos pés.
Da tocha da memória,
dos números, da identidade,
de ser filha da orfandade,
ilha, cercada de saudade.
E, principalmente,
dá-me o acaso,
a diacronia, a maratona.
Ai, livra-me do previsto
dá-me a liberdade
do instinto, da estupidez,
a emoção demente,
o que não é preciso,
que me foi dado porque sim,
não necessariamente, o certo!
Sem critérios de juízo,
dá-me um "certo sorriso"
um olhar incerto
e, ou, um temor do incesto.
de Monalisa ou de insana Madona.
Deixa-me ser, a minha vez .
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