O RIO DA MINHA ALDEIA
O rio da minha aldeia
outrora, minhas mágoas carregava.
Tinhas as águas cristalinas, até sereia cantava.
às suas margens, a lavadeira as roupas lavava.
O rio da minha aldeia
Hoje, carrega meia de nylon, vassouras de piaçava
Sobras de lixo, fatos de porcos, mandioca brava,
Pets, latas de cerveja, pratos vazios e resto de
fava.
No rio de minha aldeia,
cadáveres desovados recreiam,
Álbuns de fotografias serpenteiam,
Barracos correm e nas águas vagueiam.
No rio da minha aldeia
Escondem-se revólveres usados em assassinatos.
Nadam os meninos dos orfanatos,
Mijos e fezes de dias inteiros granjeia.
É grande o meu amor pelo rio da minha aldeia
Que leva meias de seda café,
recolhe sapato sem pé.
E coração espedaçado volteia.
O rio da minha aldeia,
Em cada curva do caminho,
Irrita o meu olfato,
Minhas emoções eu resgato,
Inspira o meu carinho.
O rio da minha aldeia,
Aniquila-me o tato.
”podridão que me socorre
só corre nas minhas veias
previdente e permissiva
Embebeda-me em seu porre
vai em frente, mata e morre
pra que eu continue viva”
Tereza da Praia
Série: Vadiação da alma indecente
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