CANTIGA DA PRAIA INDESCOBERTA
Existem muitas praias belas
Copacabana, princesinha do mar,
Trancoso, Canoa Quebrada, Ilha bela,
Jeriquaquara, nem me lembrem, em noites de luar.
Para do Havaí as praias não se falar,
Nem daquelas do mediterrâneo se lembrar.
Todas elas são belas têm muito encanto,
Mas nenhuma se compara e me causa espanto
Como a minha praia, o meu lugar, o meu canto.
A praia do meu imaginário, o meu acalanto.
Todos sabem onde estão as outras praias.
Mas poucos sabem onde está a minha.
Não sabem a cor de sua areia,
O seu tecido – se grosso ou se fininho.
Desconhecem a cor do mar que a rodeia
E, de suas ondas, a força daninha.
Por pertencer a nenhuma gente
É mais livre, minha praia.
Ninguém nunca pensou em seu ambiente,
Ninguém nunca a espionou na tocaia.
Tem coqueiros e palmeiras, minha praia
Onde cantam pássaros e a brisa conta histórias.
É o lugar do meu recolhimento, quando o sol não raia.
É o meu deserto, onde me escondo pra curar minhas
agonias.
Fico lá, qual cão, lambendo minhas feridas, minhas
avarias.
Na minha praia fico sozinha, no prazer de minha
companhia.
Em verões, pela minha praia, faço caminhadas
E desfruto a companhia daqueles por mim escolhidos.
As vezes bate vento forte e as ondas ficam
encrespadas.
Mas suporto o vento, a areia, vou seguindo a
estrada.
Minha praia é como alguns amores,
Belos, trágicos, líricos, furta-cores
Perpassados de desejo de eternidade.
Em minha praia, sou feito nômades mercadores
Solto o coração em vôos de liberdade
Amo os santos e os profanadores.
A minha praia, eu já disse, é de ninguém,
Tenho-a como minha, pois a mim ela se dá de plano,
Ela vê a nudez das minhas vergonhas e dos enganos.
A nudez das minhas vestes e do meu sentir também.
A minha praia não me faz pensar em nada.
Desperta-me o desejo de seguir a jornada.
Em nada penso. Pensar é coisa superada,
É só o sentir de uma emoção desesperada.
Tereza da Praia
Série: Vadiação da alma indecente
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