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cronicas-->Preito de Saudade -- 10/12/1999 - 17:18 () Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Vània Moreira Diniz
http://www.terravista.pt/FerNoronha/5843
vaniamdiniz@zaz.com.br
A notícia me pegou completamente desprevenida. Como poderia imaginar? Como poderia sequer, mesmo nos momentos mais pessimistas, pensar que ainda tão cedo a minha professora, amiga e aliada em todos os acontecimentos de minha infància e adolescência, estivesse prestes a fazer a viagem definitiva? Não a via há muitos anos. Mas isso, ao invés de fazer com que eu tivesse seus belos traços mais apagados em minha mente, os tinha cada vez mais nítidos. Sempre foi assim. Revia-a frequentemente naqueles corredores do imenso colégio em que estudei, com o sorriso expansivo, o olhar bondoso, a figura esguia e lépida a nos surpreender com a perspicácia inata e a imagem a um tempo simples e imponente.
Sei que a perdi, pelo menos neste mundo. Sei que a perdi. Só que não consigo compreender isso. E é tanto mais doloroso pela saudade acumulada por todo um longo período.
Sinto como nos tempos de criança a sua presença reconfortante e o abraço cujo calor amenizava as feridas infantis e cuja segurança me fazia uma menina privilegiada. Mas o que mais me impressionava, era, sem dúvida, a generosidade que emanava abundantemente dessa freira encantadora que encheu minha infància e adolescência de uma estranha magia. Não que eu estivesse isenta de dores ou tristezas, mas existia uma pessoa inteligente, feliz e extremamente dedicada que parecia ter me adotado como filha. E essa mulher morreu? Não consigo controlar a dor e a imensa saudade que enchem meu coração e extrapolam em densas lágrimas de aflição. Ocorre-me que ela nunca me falou dela mesma a não ser evasivamente. E no entanto sabia tudo a meu respeito e o sentimento de culpa domina-me completamente por ter sido tão egoísta durante aqueles mágicos anos de convivência. Recordo-a, alta, o hábito a cobrir-lhe todo o corpo e no entanto magnificamente majestosa a sorrir com aqueles dentes muito brancos e bonitos e a impressionar alunas e pessoas que dela se aproximassem. Não estou exagerando. Ela realmente era digna da admiração e do carinho de todos.
Lembro-me, entre tantas vezes, de uma que me faz senti-la aqui nesse momento.
Certa ocasião eu estava muito triste. A dor devia estar estampada em meu rosto e ela como sempre aproximou-se lentamente, e abraçou-me com uma força reconfortante dizendo-me:_Não pense em nada agora. Procure se acalmar. Sei que é difícil, mas pelo menos tente. Tente e se sentirá melhor.
Nunca esquecerei aquele momento. Nunca esquecerei a tranquilidade que se apoderou de mm como se fosse o toque suave de um prestidigitador.
Conheci-a desde muito pequena, quando entrei no Colégio Sacré Coeur de Marie. Era, então uma jovem freira. Recordo-me que senti logo uma empatia profunda, que logo notei ser recíproca. Depois disso ela se tornaria a líder absoluta em meu caminho. Profundamente inteligente, extremamente culta, bondosa sem ser piegas, senhora absoluta de uma personalidade completamente marcante, educadora por opção com formação em ciências biológicas e pós graduação em educação, pintava maravilhosamente bem, principalmente naturezas vivas. Mère Maria de Assis, como se chamava, era a preceptora ideal para qualquer criança ou adolescente que divisasse um amplo caminho. Dos quatro aos dezenove anos convivi com essa extraordinária mulher e posso dizer que tudo o que aprendi só enriqueceu de uma maneira encantadora a minha vida. Seu exemplo , sua forma eficaz de corrigir ou repreender bem como o carinho imenso que efervescia de seu temperamento exótico, deram-me uma visão nítida e robusta da vida e dos seus percalços. À senhora, minha querida Mère Maria de Assis, amiga, mãe por opção, orientadora, professora incansável, que ia semeando com talento próprio a inteligência nascente de cada criança, meu preito de saudade, de amor e de uma inquebrantável gratidão.

Brasília, 29 de julho de 1998





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