Passageiro
Lamento senhores, eu não sou daqui
Eu sou de Marte
Lamento senhores, eu não sou da guerra
Lamento senhores, eu não sou da corrupção
Lamento senhores, eu não sou do ódio
Da maldade, da cara feia, da miséria
Eu sou de Marte.
Me perdoem a ignorância, senhores
Mas eu não sou daqui, eu sou de Marte
Desconheço suas dores, seus amores
Seus horrores, suas mazelas e suas compaixões
Não tenho sua noção de propriedade e divisão
Não vejo televisão
Eu não sou daqui, sou de Marte...
Opa! Calma meu beato
Não me tenha por herege
Eu não sou daqui
Eu sou de Marte
Não sei de seu Deus
De Jesus, de Maomé, de Confúcio, da Virgem
Dos santos negros, dos santos brancos
Dos santos pobres, dos santos ricos
Não sei de nenhuma oração, vejam os senhores
Mas me entendam, eu não sou daqui
Eu sou de Marte
Vejam bem, meus senhores, poupem sua críticas
Pois não sou daqui, sou de Marte
Não elejo ninguém. Não preciso de Deputados
Muito menos do Senado, do Prefeito
Do Presidencialismo, do Parlamentarismo ou Reinado
Nem sei de ditadores, de papo furado
Eu não sou daqui, sou de Marte.
Senhores, por favor, se atenham em vós
Eu não sou daqui, sou de Marte
Sou estranho, sou aparte, diferente
Sou de Marte
Tenho modos, educação e caráter
Não sei dessas coisas daqui
Pois não sou daqui, sou de Marte
Senhores! Senhores! Escutem!
Eu não sou daqui, eu sou de Marte
Não me levem a sério, eu não sou daqui
Eu sou de Marte
As portas, janelas, trancas, tampões e julgamento
A pena de morte, prisão, réus e culpados
Os pecadinhos e os pecados são daqui
Não são de Marte
É sério, senhores...
Marte, é lá que eu moro
Eu sou de Marte!
Eu não me transporto nestes coletivos lotados
Nem em populares ou primeira classe
Eu sei voar (riam à vontade)
Eu sei voar mesmo
Todos em Marte voam sem asas
Pois todos em Marte sonham
Todos em Marte são poetas.
|