O Salto Alto de Flávia
Flávia vem pedir um prego. Ao fechar a porta do apartamento se desprendeu o salto do sapato. Se fosse usar outro par, teria de trocar toda a roupa. E está atrasada para um compromisso.
Abro o fecho do recipiente apropriado. Há um prego e um saquinho com franja, contendo duas esferas. As esferas não são esferas, porque são ovais. Flávia não liga para elas, não.
Flávia se fixa no prego, que é o objetivo de seu desejo. O prego tem cabeça, o que é normal. Mas pede para examinar, porque parece ter a cabeça no extremo de fincar! Permito, claro!
Ela o toma em suas mãos delicadas. Primeiro o acha curto, fino e mole... Mas, ao manuseá-lo, descobre que fica longo, grosso e duro. Tipo especial de prego, explico. Sorri, feliz.
Volta ao exame da cabeça. Conclui que a cabeça é a ponta de cravar. E se confessa meio zonza com a conclusão absurda aparentemente. Então a levo para deitar-se e relaxar na minha cama de casal.
Pergunta se tenho leite quente. Quando respondo que sim, anuncia desistência de seu compromisso, caso possa servi-la. Claro, claro, aceito. Toma leitinho por quase toda noite. Depois dorme.
Ao amanhecer se vai Flávia, com um pé calçado e outro descalço. Voltará à noite, depois do trabalho, para reexaminar o prego. Não se faz sapato como antes. Que bom! Posso pregar!
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